Vida de autista: ela descobriu só depois do diagnóstico da filha


vida de autista

Postado por Autismo em Dia em 30/dez/2022 - 1 Comentário

A proTEAgosnista de hoje é Tatiele. Se você acompanha o nosso blog, talvez já tenha visto o texto que escrevemos sobre o diagnóstico da filha dela. Lá nós chegamos a mencionar o fato de Tatiele só ter se descoberto autista na vida adulta, devido ao diagnóstico de sua filha. Hoje nós vamos nos aprofundar mais na história dela.

Continue a leitura para conhecer mais detalhes da vida e das descobertas da autista e mãe de autista Tatiele.

Índice

Quem é Tatiele

Tatiele tem 34 anos, é casada com Denis Rodrigo e tem duas filhas, Eloá, de 3 anos, e Janis, de 14. A família vive em Curitiba-PR.

Além de se encontrar dentro do TEA, ela também é deficiente visual e possui diabetes tipo 1, condições que tornam o dia a dia mais desafiador. Mas isso não a impede de manter a rotina de cuidados com as filhas.

Se encontrando no espectro

Tudo começou com os sinais de autismo em Eloá. Ao notar algumas características atípicas na menina, como sério desconforto com determinadas texturas, pouca interação com outras pessoas e atraso na fala, a mulher pesquisou na internet esses sintomas e descobriu o autismo. Ela conta, inclusive, que a partir daí teve um sério hiperfoco em autismo, passando a pesquisar muito sobre o tema.

O tempo passou, o diagnóstico de Eloá veio e, então, Tatiele foi surpreendida pelo marido, que apontou que a esposa tinha sinais de autismo.

“Desde os 11 anos de idade, quando comecei a procurar ajuda por questões de saúde mental, eu tive vários diagnósticos diferentes: depressão, bipolaridade, borderline… Mas nenhum médico nunca desconfiou de autismo.

A gente foi aprendendo sobre autismo com a Eloá, e certo dia meu marido disse que tinha percebido vários sinais em mim. Sentamos juntos e fizemos uma lista de sintomas que eu tenho e também sinais que eu tive na infância. Por exemplo: eu só comecei a falar com 3 anos. Sempre tive muito apego à rotina, dificuldades de interação, dificuldades em fazer amizade, hiperfoco em certos assuntos, além de não entender linguagem subjetiva e precisar de exemplos claros e práticos para compreender o que está sendo dito.

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Lidando com o TEA no dia a dia

Tatiele conta que, depois de perceber que também era autista, várias coisas ficaram mais claras:

“Depois disso eu comecei a compreender vários dos meus sentimentos, das minhas ações… Por exemplo, sempre precisei de previsibilidade nas coisas. Já perdi entrevistas de emprego, concurso público, tudo por falta de informações sobre o que fazer, o que esperar, como vai ser. Quero saber exatamente como e por onde entrar, com quem falar… Eu fico muito nervosa quando acontecem coisas fora do esperado. Não gosto de receber visitas pois isso quebra minha rotina, pior ainda se for sem aviso.

Quando eu tenho um hiperfoco eu falo muito do mesmo assunto, o tempo todo. É quando eu consigo conversar bastante com as pessoas. Mas com assuntos fora dos meus hiperfocos eu tenho bastante dificuldade e geralmente prefiro ficar quieta. Me expresso muito melhor escrevendo do que falando, por exemplo.

Também tenho muita dificuldade em olhar nos olhos de pessoas que não são próximas a mim. Olho nos olhos sem desconforto se for meu marido ou minhas filhas, mas com pessoas fora do meu convívio é muito difícil.”

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O que mudou com a descoberta

Perguntamos o que mudou na vida de Tatiele ao descobrir ser autista. Veja o que ela compartilhou com a gente sobre isso:

“Minha vida mudou completamente. Mudou muito a minha visão de mim mesma. Eu sei que eu posso ser autista e ter depressão/borderline, uma coisa não exclui a outra… Mas hoje eu vejo que o principal motivo da minha depressão foi sempre me sentir totalmente diferente das outras pessoas. Por ser diferente e ter comportamentos e interesses diferentes eu nunca consegui me encaixar em um grupo, ter amigos, e isso sempre me trouxe muito sofrimento. Sempre fui a pessoa excluída, a criança/adolescente que fazia trabalho em grupo sozinha.

Eu sempre tentei me encaixar, mas nunca consegui, isso me trouxe muitos problemas, como baixa autoestima, automutilação… Então, descobrir que tudo isso aconteceu por que eu sou autista, mudou muito a minha  cabeça. Eu precisava disso. Me trouxe muita aceitação. Me tirou a culpa. Eu sempre me culpei muito por não quererem minha amizade, ou meus relacionamentos anteriores não darem certo. Até meu casamento melhorou, já que agora o meu marido também consegue me entender melhor. Essa descoberta do autismo me ajudou muito, abriu minha mente.

Um alívio

Sabendo de todas as dificuldades enfrentadas por Tatiele, perguntamos sobre as suas preocupações a respeito da filha, como por exemplo se ela tinha medo que a menina sofresse com enfrentamentos parecidos. Ela ofereceu uma perspectiva muito positiva sobre isso:

Não foi um sentimento de preocupação, e sim de alívio. Isso porque a maioria das situações difíceis que eu passei na minha vida poderiam ter sido evitadas se eu tivesse um diagnóstico, por exemplo. Então eu fiquei aliviada porque é bem provável que ela não passe pelas mesmas coisas que eu passei.

Ela teve o diagnóstico cedo, com 2 anos de idade. Está em tratamento e já teve muita evolução. Ela já se comunica, a seletividade alimentar melhorou muito, a questão sensorial também, e estereotipias ela nem tem mais. Então eu sei que ela está tendo a oportunidade de se desenvolver e melhorar para evitar muitas dificuldades que poderia ter.

Não quer dizer que eu não me preocupe. Mas a minha preocupação com ela é mais sobre enfrentar preconceitos, como vai ser na escola, coisas que toda mãe de autista se preocupa. De qualquer forma ela ter sido diagnosticada cedo é um alívio pois além do tratamento ela já vai crescer sabendo que é autista, vai poder explicar pras pessoas determinados comportamentos se ela precisar, etc.”

Não existe tarde demais

Sempre que compartilhamos a história de autistas que descobrem que estão no espectro gostamos de reforçar que, independentemente da idade, buscar respostas sobre isso é importante. Tatiele é mais uma prova viva de que isso é verdade:

“Eu sei que muitos adultos pensam “pra que ir atrás disso agora?”, eu mesma já pensei que se eu sobrevivi tanto tempo sem saber (porque eu sempre senti que estava sobrevivendo mesmo, não vivendo), pra que um diagnóstico agora? Mas hoje eu vejo o quanto isso é importante, principalmente porque traz aceitação.

Eu passei a minha vida inteira sem entender meus comportamentos, pensamentos, minhas atitudes… E hoje eu entendo. Eu sofri muito com tudo isso, mas hoje eu entendo porque eu sou assim, e é um alívio.

Além disso, eu acredito que mesmo para nós adultos, ainda dá pra correr atrás de melhorar alguns dos prejuízos que ficam. É possível procurar um psicólogo especializado em autismo em adultos que ajude nas mais diversas questões.

O diagnóstico tardio é libertador. Traz muito alívio porque você se entende e se conhece de verdade. Conhece quem você é e porque é. Então eu acho muito importante que, quem pode fazer isso, vá atrás de diagnóstico e terapia.”

Obrigado pela leitura!

Tatiele é uma mulher e mãe autista, sua força nos ensina muito sobre resiliência e aceitação. É sempre muito valioso contar histórias como a dela aqui no Autismo em Dia. Esperamos que conhecer a história dela tenha sido uma forma de suporte e inspiração para pessoas que se identificam com as vivencias que ela compartilhou com a gente.

E se você quiser conhecer mais sobre essa família incrível, descobrindo dessa vez mais detalhes sobre a filha dela, a Eloá, é só conferir o texto que escrevemos sobre ela clicando aqui.

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Continue navegando pelo nosso blog para ler mais histórias como a da Tatiele.

Obrigado pela leitura e até a próxima! 💙

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Uma resposta para “Vida de autista: ela descobriu só depois do diagnóstico da filha”

  1. Michele disse:

    Bom dia, me identifico bastante com a história, pois também me descobri autista depois do diagnóstico do meu filho. Meu filho recebeu o diagnóstico em Janeiro/2023 e eu recebi agora em Março/2023, e ainda tudo é muito novo para mim. Meu filho já faz as terapias, porém eu ainda não comecei nada, porém ando repensando muita coisa na minha vida.

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