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Postado por Autismo em Dia em 22/jul/2021 - 7 Comentários
Um dos assuntos recorrentes aqui no Autismo em Dia é a presença de autistas no mercado de trabalho. Esta preocupação é bastante razoável, afinal, estima-se que mais de 80% dos autistas adultos capacitados estejam sem trabalho. E isto acontece por diversos motivos. Mas, se a gente fosse resumir, poderíamos dizer que existe um estigma muito grande entre os contratantes. Por isso, vagas para autistas são ainda raras no Brasil.
Mas existe uma turma que está totalmente focada em mudar este cenário. Nós fomos conhecer a aTip, uma startup que está desenvolvendo produtos tecnológicos que vão unir as necessidades do mercado com os anseios profissionais dos autistas. A meta da empresa é puramente otimista: eles trabalham por um alcance em todo o Brasil. E o melhor: com um acompanhamento que não para depois da contratação.
Nós conversamos o time por trás da aTip, que, antes que você se pergunte, também tem autistas trabalhando. Ou seja, o exemplo vem de dentro. Quer saber como eles estão fazendo isso? Acompanhe com a gente!
Índice
Em 2018, a universidade FIAP, de São Paulo, organizou a primeira edição do que viria a se tornar o Autismo Tech. O evento é uma temporada de atividades em equipe e jornadas ~de capacitação. O objetivo? Estimular a criação de projetos que tragam soluções tecnológicas para os autistas dentro do mercado de trabalho.
A aTip foi uma ideia que nasceu dentro do evento, capitaneada por Caio Bogos que, apesar de não ser autista, foi competir no projeto, acreditando bastante na ideia. Ele, que na época ainda era estudante de sistemas de informação na própria FIAP, conta que tinha o sonho de empreender em um negócio de impacto social.
“Eu não gostaria de empreender por empreender. Quando a gente empreende pensando numa comunidade e num recorte que por vários fatores não é tão privilegiada, pelo menos para mim isso dá um gás”, conta Caio.
A ideia inicial da aTip não era nem mesmo algo para autistas adultos e era algo que envolveria pais, médicos e educadores. Segundo Caio, isso é um comportamento comum de quem não está diretamente envolvido com a comunidade. “Uma pessoa neurotípica, como eu, costuma pensar muito mais no autista criança. Dificilmente a gente pensa no que vem depois que eles crescem”, explica Caio.
Apesar de um estimulante segundo lugar na competição, a equipe que Caio integrava se desfez e coube a ele a missão de levar em frente. Contudo, mesmo sozinho, foi nesse ponto que Caio viu as coisas começarem a acontecer. Foram alguns meses correndo atrás do suporte da própria universidade, em especial do criador da competição. Desses encontros, ele conheceu a Joyce Rocha, que é autista e, atualmente, sócia de Caio na aTip.
Joyce, que também é designer, foi uma das poucas atípicas que, de fato, participaram da primeira edição da competição. Segundo Caio, foi ela quem trouxe um recorte que norteou o projeto final da aTip. Caio aqui se refere à presença ainda muito discreta de autistas sendo contratados por empresas.
“Estando muito próximos do mercado e também da comunidade, a gente percebeu a grande falta de serviços para autistas adultos. Parece que os autistas vão até os 18 anos e depois vão para Marte“ brinca Joyce.
“Não se sabe muito do que eles precisam quando terminam os estudos. A gente viu pesquisas que mostram que 85% dos autistas estão fora do mercado de trabalho. São mais de 75 milhões no mundo e perto de 2 milhões aqui no Brasil. E é nisso que a gente foca hoje. Pensamos tanto no processo de seleção quanto em como reter essas pessoas dentro das empresas de uma maneira acolhedora e humanizada”, explica a designer.
“O time que a aTip tem hoje é nosso maior valor. Temos o ponto de vista dos autistas, temos base científica, temos a representação do familiar… é, de fato, um time extremamente qualificado”, conta Caio. A parte de Caio é ser o CEO, basicamente o líder estratégico. É Caio quem conversa com investidores e está em busca de tornar a aTip um negócio rentável.
Mas o time a quem ele se refere foi muito atraído pela presença de Joyce. Além de ter se tornado grande amiga de Caio, ela ainda trouxe outros especialistas no projeto. Estamos falando do desenvolvedor Leonardo Lima, que é especialista em inteligência artificial; o designer Marcelo Fernandes, pai de autista; e a dra. Elise Lisboa, psicóloga que trabalha com autismo e outros aspectos neurodiversos há muitos anos.
“Nosso time é bem neurodiverso. A gente tem um privilégio de ter um time assim, não conseguiríamos construir nem 1/3 do que a gente já fez. E a gente é muito amigo. Nós estamos nos permitindo explorar o que nunca foi explorado e até errar onde nunca ninguém errou“, diz a dra. Elise.
“Eu acredito que o que a aTip faz vai mudar a maneira como as pessoas se relacionam com o autismo. Acredito mesmo que ter um olhar mais respeitoso e neutro sobre o que a pessoa consegue fazer vai ajudar nessas relações sociais, seja com empregadores ou não”, completa.
Outro grande movimento que deu gás à aTip foi a experiência do Autismo Tech. Sucesso de patrocínio de grandes empresas do ramo da tecnologia, vários autistas foram contratados após demonstrarem suas habilidades durante a competição.
Isso deixou bem claro para a aTip que existia uma necessidade dentro dessas empresas. Algumas pelo desejo de descobrir novos talentos, outras pela vontade de ter departamentos mais diversos ou mesmo por precisarem cumprir cotas.
Quando o primeiro produto da aTip, que ainda está em fase de estudos, ficar pronto, muitos autistas vão se beneficiar. No lado dos autistas, a aTip vai dar orientação de carreira, seleção de vagas adequadas e acompanhamento nos primeiros meses de adaptação. Já para as empresas, a aTip quer entregar o profissional certo para a vaga certa. Além disso, eles vão orientar os contratantes a adaptarem uma série de questões que podem impactar quem está no espectro.
“Em mais de 20 anos de carreira, eu nunca vi um movimento tão grande de interesse das empresas e da sociedade. As empresas começaram a entender que a diversidade também inclui a neurodiversidade“, explica a dra. Elise.
Mais do que ocupar vagas para autistas, existe uma perspectiva social em torno do que a aTip faz. Segundo explica a dra. Elise:
“Existe uma incidência enorme de depressão entre os autistas depois que eles conseguem o emprego. Isto porque eles chegam na empresa, se frustram com o ambiente, não rendem como poderiam e são mandados embora. A gente quer trabalhar também esse período de pós-contratação. Por conta destas dificuldades nestes relacionamentos, muitos começam a perder o sentido de viver. Por isso que a gente tem que dar oportunidade de que eles tenham o próprio salário, para comprar o que elas quiserem, para viajar para onde quiserem. Com o protagonismo a gente tende a diminuir esse índice.”
Esse processo de sensibilização passa por uma estrutura de acolhimento e humanização, como Joyce defendeu. E, certamente, isso não seria possível sem as experiências de quem vive o autismo. E a aTip não quer ser só mais uma empresa que propaga as próprias crenças, mas, de fato, uma experiência pensada para o autista.
Joyce, por exemplo, enxerga de maneira muito mais sólida a situação social dos neuroatípicos e traz isso para tudo que faz. “A gente não pode criar o produto apenas pelo produto. Existem pessoas dentro desse processo“, defende Joyce.
Em entrevista para o podcast Introvertendo, Joyce defendeu uma ideia que dizia “nada sobre nós, sem nós”, em relação a projetos e eventos sobre autistas que não têm autistas participando. Iniciativas como a aTip, que buscam corrigir isso, criam um movimento que dá possibilidade de autistas estarem, de fato, onde querem estar. Sobre isso, Joyce é enfática:
“Eu nem gosto do termo ‘ocupar espaços’, por que parece que eu estou pedindo algo que não é meu. Eu só quero pertencer aos espaços. Se eu quero pertencer ao mundo das artes ou da tecnologia, eu vou pertencer. Independente de qualquer barreira que eu tenha. É importante esse protagonismo, principalmente pensando na questão de produto e serviço. Não dá para criar nada sem conversar com o usuário final. Nós temos que discutir com essas pessoas diversas sobre quais são as melhores soluções para elas. E a aTip quer levar diversidade de pessoas para dentro das empresas. Tudo que a gente sabe hoje sobre o autismo, só sabemos porque teve autista no processo”, conclui.
Enquanto se prepara para o lançamento, a aTip desenvolveu o podcast Vivências Atípicas, apresentado pela Ingrid. Ingrid não é uma pessoa real, mas uma soma de muitas experiências. Em cada episódio do podcast, Ingrid narra experiências e desafios que passa para entrar no mercado de trabalho. Não é uma história real, mas poderia ser.
Perguntamos à dra. Elise quais foram os desafios de unir a amplitude do espectro autista numa única figura.
“A Ingrid é um estudo de muitos anos que juntou um trabalho que a Joyce começou a fazer numa empresa onde ela estava junto com o que vi em mais de 20 anos de atuação profissional. Eu participei de muitas palestras e workshops onde as pessoas saíam do mesmo jeito que entravam. Então a ideia da Ingrid é entregar um conteúdo mais sensível para as pessoas dizerem ‘ah, entendi’. É para tirar a formalidade do conhecimento técnico mesmo. A gente teve que fazer um recorte do autista no mercado de trabalho, mas a discussão não se esgota e vai ter muitos desdobramentos. Inclusive a gente usa vários rostos diferentes para a Ingrid, para representar as várias vivências.”
Para ouvir o podcast, clique aqui.
Para nós, do Autismo em Dia, é sempre gratificante conhecer projetos como a aTip. A comunidade autista de hoje e do futuro certamente vai se beneficiar bastante do que eles estão fazendo hoje, e das vagas para autistas que poderão ser preenchidas.
Mas a questão do autismo no mercado de trabalho não para por aqui. Você está convidado a ler nossa série de artigos sobre o tema clicando aqui.
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Sou Presidente do Lar Mãe Di Divino Amor , associação sem fins lucrativos que Atende pessoas com DI ,e Autistas é louvável a iniciativa .
A Top, prezado senhores, em primeiro lugar cumprimentá-los pelo trabalho realizado. Tenho um sobrinho autista, diagnosticado, como leve. É formado em engenharia de produção. Uma pessoa inteligente, educado, perseverante. Preciso de orientação como fazer para conseguir seu primeiro emprego. Att.Argeu.
A Tip, prezado senhores, em primeiro lugar cumprimentá-los pelo trabalho realizado. Tenho um sobrinho autista, diagnosticado, como leve. É formado em engenharia de produção. Uma pessoa inteligente, educado, perseverante. Preciso de orientação como fazer para conseguir seu primeiro emprego. Att.Argeu.
sou Ivania autista grau leve e mãe de 3 autista.Hoje tenho dificuldade de ajudar meu filho a ingressar ao mercado de trabalho ele sendo autista também e com 18 anos.Como é bom ver que tem pessoas pensando em nós ajudar.
obrigado.
💙
Sou Cristina Polizini Faludi. Tenho um filho autista, nivel de inteligencia normal, 33 anos . ele cursou 2 faculdades : desing de animação e desing grafico. Ja trabalhou tb como auxiliar administrativo em empresas gdes como Biolab, Pitzer e EY. Atualmente meu filho esta sem emprego . Ele procura trabalho como auxiliar administrativo em Sao Paulo , capital ou como desing
Olá, Cristina. Ele tem Linkedin? Seria uma forma dele se conectar com as empresas. 💙