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Postado por Autismo em Dia em 25/set/2020 - 10 Comentários
Toda vez que alguém recebe o diagnóstico de TEA, precisa lidar com uma série de cuidados que, dali para frente, serão necessários. Mas existem os tratamentos de autismo comprovados e aqueles que os cientistas ainda não têm provas de que funcionam. Muitas vezes desesperados por algo que, de fato, funcione com seus filhos autistas, alguns pais acabam caindo em golpes de tratamentos “da moda”. Alguns até bastante suspeitos.
Apesar do grau de responsabilidade que pais, mães e cuidadores têm ao darem às suas crianças soluções “alternativas”, a culpa não é deles. Por trás de toda ação de charlatão, existe um trabalho bastante complexo que, muitas vezes, envolve até mesmo profissionais de carteirinha. Quando não oferecem perigo, algumas dessas alternativas não passam de efeito placebo e os pais passam a olhar muito mais para as evoluções e atribuem isso ao “tratamento milagroso”. Sendo que o resultado, provavelmente, veio de todas as outras terapias e estímulos já aplicados.
Por isso, hoje vamos falar sobre como esses produtos e tratamentos acabam chegando na vida das famílias de autistas. Além disso, falaremos sobre alguns dos novos tratamentos que mais tem gerado conflito entre a comunidade de médicos sérios e os que preferem fazer mais dinheiro das dificuldades de muitas famílias.
Índice
Vivemos um momento em que há muita comunicação. Mas, se na teoria era pra gente ser mais informado, por que ainda as pessoas caem em tantas mentiras sobre tratamentos de autismo?
Entre essas pessoas que divulgam esses tratamentos, há muitas que, inclusive, se dizem ser ou estar ligadas a profissionais de saúde. Informação que pode até nem ser verdadeira e acaba manchando a reputação de profissionais sérios e verdadeiros. Por isso é tão difícil apontar as verdades e as mentiras por trás do que essas pessoas dizem. Isso é que chamamos de “discurso de autoridade”.
Ainda que, de fato, essas pessoas realmente façam parte da comunidade médica, é possível que elas sejam uma exceção à regra. Ou seja, são aquelas minorias que enxergam alguma coisa que faz com que elas discordem da maioria. Porém, eles podem estar tendo uma conduta perigosa que arrisca não só seus diplomas como a vida das pessoas envolvidas.
Mas como é que justamente essa minoria ganha atenção?
Quando essa pessoa apresenta para uma mãe seu novo método, usa a narrativa de que é alguém que “pensa diferente”. Na mente de quem está comprando, aquilo soa como um achado raro e precioso. Afinal, quem não quer ter em mãos algo que ninguém imaginou, ninguém pensou?
E, ainda que alguém questione a falta de pesquisas sobre aquele assunto, há sempre uma resposta pronta com depoimentos, números e até mesmo estudos reais. Mas ter um estudo não significa que aquilo é evidente para a ciência. Pois é bem fácil montar uma pesquisa buscando uma relação de causa e efeito.
Para que a ciência chegue a afirmar que tal tratamento de autismo é verdadeiro ou é falso, é preciso que outros estudiosos questionem pontos da pesquisa original. Ao longo de um tempo, que normalmente não é um tempo pequeno, os resultados vão sendo comparados até que haja uma resposta.
Algo que contribui para que pais e mães busquem tratamentos tidos como milagrosos é a falta de acesso ao que é realmente bom. Além disso, os bons tratamentos de autismo são, geralmente, a soma de várias terapias que podem custar caro e durar vários anos.
Não dá para julgar estas famílias. Muitas vezes, é uma questão de equilibrar o fator de custo-benefício aliado à esperança de que, mesmo que muitos digam que muitos preguem contra, com aquela criança pode ser diferente.
E mais: por conta dessa vulnerabilidade provocada não só pela notícia do diagnóstico, mas, também, por conta da falta de recursos pelos estados e prefeituras, muitos acabam se baseando nas informações das redes sociais. É nesse contexto que os propagadores dessas ideias perigosas se infiltram para chamar atenção dessas famílias, já que, via de regra, nem mesmo os órgãos oficiais de saúde autorizam esses “tratamentos”.
Algumas pessoas contam tão bem a história que chega a ser convincente. Um garimpeiro americano supostamente descobre que um tipo de mineral tem funções medicinares depois de curar amigos com malária no meio da Selva. Tempos depois, uma mãe de autista dos Estados Unidos lança um livro dizendo que curou o autismo de seu filho com práticas nada convencionais. Uma dessas práticas incluía o MMS, o tal remédio descoberto pelo garimpeiro. ¹
Acontece que MMS é nada mais que uma sigla para um nome que não diz nada: Substância Milagrosa Mineral. A base do MMS é dióxido de cloro, que é bactericida. É usado em tratamento de água, por exemplo. Mas precisa ser manipulado com rigor durante a aplicação, já que ele é muito forte. É por isso a aplicação do MMS em autistas nem mesmo era oral. O “remédio” é aplicado pelo ânus da criança para ir diretamente ao intestino. ¹
O porquê disso? Na teoria defendida por essa mãe no livro, o dióxido dissolve uma mucosa que está nas paredes do intestino que, segundo ela, contém bactérias causadoras do autismo. ¹
Os estudos sérios que existem sobre o MMS nada dizem sobre eficácia para autismo, mas sim sobre o alto teor tóxico do composto. Assim, além de absurdo, o MMS pode machucar gravemente os órgãos. ¹
Aqui no Brasil, o MMS teve a venda proibida desde 2018 pela ANVISA. Ele vinha sendo vendidos na internet sem registro e de forma irregular. Assim, portar o MMS e utilizar em alguém pode ser considerado um crime. Se alguma coisa acontecer com quem utilizou o MMS por causa do uso, os pais podem ser responsabilizados e correm o risco de perder a guarda da criança. ²
Por isso, possivelmente, não ouvimos falar muito dos casos que deram errado. Afinal, os pais que submeteram essas crianças ao MMS estariam se expondo a uma situação de vexame.
Como em 2019, mesmo 1 ano depois da resolução da ANVISA, ainda existiam casos de comércio e propaganda do MMS, o órgão pôs no ar em seu canal oficial um vídeo ressaltando a mensagem. Confira a seguir: ³
Fonte do vídeo: Divulgação Anvisa
Em 2014 alguns médicos trouxeram para o Brasil a tecnologia do tratamento por câmara hiperbárica com a intenção de melhorar os sintomas do autismo. É um recurso caro e só famílias de alto poder aquisitivo podiam pagar. Algumas chegavam a levar seus filhos autistas para os Estados Unidos para tentar o tratamento. 4
Neste procedimento, a pessoa entra numa espécie de cápsula fechada e fica respirando um ar que tem muito mais níveis de oxigênio do que fora da câmara. Esse é um tipo de tratamento geralmente usado para pessoas gravemente feridas ou infectadas. O aumento da circulação de oxigênio em estado puro faz com que o corpo se recupere mais rápido. Ou seja, é um tratamento sério – mas não para autismo. Afinal, o autismo não é nem citado na página da Sociedade Brasileira de Medicina Hiperbárica. 5
A presença dessas câmaras fora de hospitais preocupa a comunidade médica de todo o mundo. Existem várias instituições que prometem que o uso da câmara pode curar, por exemplo, AIDS, Alzheimer e também o autismo. Só que, para nenhuma dessas doenças, existe comprovação científica. 6,7
Além das falsas promessas, essa é uma máquina muito delicada que tem um alto risco de incêndio e acidentes com peças internas. Inclusive, um rapaz autista morreu aos 19 anos por causa de um acidente numa dessas máquinas. A operação da máquina foi feita, de fato, em local sem supervisão médica. 6
Uma das mais novas correntes de pensamento é que o autismo é uma doença autoimune e que a vitamina D pode curá-la. Uma doença autoimune é aquela em que o próprio sistema imunológico afeta de forma negativa o organismo. Porém, nem mesmo essa informação está comprovada e tem sido apenas objeto de estudo. Ao menos por enquanto. 8
Só que uma busca rápida na internet já acende o alerta sobre essas informações da relação de “cura do autismo” com a Vitamina D.
Em um dos sites que encontramos, além da afirmação equivocada de que o autismo na criança foi resultado da falta da vitamina D na mãe, encontramos outros absurdos.
Como, por exemplo, um trecho que concordava com o mito de que vacinas causam o autismo.
A mensagem é a própria cara do charlatanismo: sem dados científicos sólidos, negação da ciência e ataques à indústria farmacêutica tradicional. Num dos trechos, num discurso de quem se sente superior, o site chega a afirmar que é culpa da sociedade, e que “estamos produzindo autistas” em vez de “crianças mais felizes e corteses”.
Para a psiquiatra Fabrícia Signorelli Galeti (CRM 113405-SP), é necessário separar o que é um tratamento tido como “milagroso” (como os que já citamos) daqueles que são off-label (os medicamentos que ainda não cumpriram todas as exigências de comprovação, mas que vem mostrando resultados promissores).
“Em alguns casos, os médicos utilizam uma medicação off label. Aliás a grande maioria das medicações utilizadas para alterações comportamentais nos TEA são off label, mas muitas delas já apresentam estudos que comprovem sua eficácia e segurança. Os procedimentos controversos são os que, além de não terem prova de eficácia, têm indicativos de que possam trazer prejuízos à saúde.”
Além dos que já citamos, Fabrícia destaca, ainda, outros tratamentos que vem sendo, de forma irresponsável, indicado para o tratamento do autismo, como:
De todos os tratamentos de autismo já conhecidos e comprovados, o que há em comum, é que de fato nada acontece da noite para o dia. Todos eles levam o tempo de cada autista. Pais, mantenham a calma. Não existe cura para o autismo, então é importante saber viver o processo de melhora nos quadros de comunicação, verbalização, socialização, independência, entre outros.
Se você, ainda assim, decidir que quer mesmo apostar num tratamento alternativo e novo, confira o quanto aquilo pode trazer de desconforto, seja imediato ou futuro. Sendo possível, fale com outros médicos para saber qual a opinião deles. Se tiver a menor possibilidade de risco, não faça.
Sendo assim, lembre-se que nenhum relato pessoal, mesmo de pessoas muito próximas, pode se comparar a estudos científicos sérios que levam anos para serem comprovados. O espectro do autismo é muito amplo e ninguém pode vender algo como o tratamento final e absoluto, afinal, nenhum autista é igual a outro.
E para continuar obtendo informações confiáveis e verificadas, continue acompanhando a gente aqui no site e nas redes sociais. Estamos no Instagram e no Facebook. Esperamos te ver por lá! =)
Colaborou com esse artigo:
Dra. Fabrícia Signorelli Galeti
Psiquiatra especialista em TEA – CRM 113405-SP
Referências bibliográficas e a data de acesso:
1. Revista Autismo – 03/09/2020
2. Diário Oficial da União – 03/09/2020
3. ANVISA – 03/09/2020
4. Hoje em Dia – 03/09/2020
5. Sociedade Brasileira de Medicina Hiperbárica – 03/09/2020
6. NFPA – 03/09/2020
7. Cochrane – 03/09/2020
8. Jornal da USP – 03/09/2020
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Obrigada pelas informações! Conteúdo de alta relevância
Oi Lourdes, ficamos muito felizes quando nossos textos ajudam as famílias, autistas e profissionais de apoio. Obrigada pelas palavras, nos motivam a seguir em frente. Volte sempre aqui no blog! Um abraço de toda equipe do Autismo em Dia.
Bom dia, sobre os óleos essenciais? será que ajudam?
Oi Elen, muitos tratamentos alternativos podem ser interessantes, por exemplo, a aromaterapia bem direcionada pode apoiar na concentração e regulação sensorial (em alguns casos, pois em outros pode ser fator de irritação, caso o autista seja hipersensível a cheiros). A verdade é que nenhuma terapia alternativa irá substituir as terapias convencionais, comprovadas cientificamente.
É importante estar atento ao que o tratamento “promete”, sabe? Se ele falar sobre cura ou mudanças drásticas, provavelmente é cilada! Precisamos estar atentos. Um abraço!
Boa tarde, o método EAPV é científico? Obrigada.
Olá, Maria! Pesquisamos sobre o tema mas não encontramos artigos ou estudos científicos sobre esse suposto método. Nas poucas informações que pudemos ver, não encontramos alguma que deixe claro quais são as abordagens usadas e se isso é aplicado e desenvolvido por terapeutas academicamente formados.
Não orientamos nenhum tipo de tratamento que não seja indicado por um médico especialista. Confira o nosso texto sobre os tratamentos que comprovadamente funcionam para o TEA: https://www.autismoemdia.com.br/blog/tratamentos-para-autismo-5-terapias-essenciais-para-o-tea/
Um abraço.
Boa noite.
Acabei de ler sobre o Método EAPV . Eles prometem um avanço incrível no desenvolvimento do autista, mas
percebi que eles estavam falando de ABA, com outras palavras.
Gostaria da opinião de vocês sobre esse método.
Obrigada.
Olá! Pesquisamos sobre o tema mas não encontramos artigos ou estudos científicos sobre esse suposto método. Nas poucas informações que pudemos ver, não encontramos alguma que deixe claro quais são as abordagens usadas e se isso é aplicado e desenvolvido por terapeutas academicamente formados.
Não orientamos nenhum tipo de tratamento que não seja indicado por um médico especialista. Confira o nosso texto sobre os tratamentos que comprovadamente funcionam para o TEA: https://www.autismoemdia.com.br/blog/tratamentos-para-autismo-5-terapias-essenciais-para-o-tea/
Um abraço.
Fiz no meu filho autista desintoxicação de metais e ele tem uma dieta restrita de glúten e caseína. A melhora em 1 mês e meio de tratamento foi fantástica!
Oi Deivid! como está seu filho? após essa desintoxicação?