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Postado por Autismo em Dia em 07/jul/2022 - 11 Comentários
Imagine o tanto de estímulos sensoriais que envolvem cortar o cabelo. O barulho da tesoura, o toque de outra pessoa, o barulho do salão, o cheiro de shampoo… Para muitos autistas isso é, sem dúvida, um momento aterrorizante. Para os pais, um grande desafio, afinal, como fazer com que esse momento necessário seja menos incômodo? Porém, um cabeleireiro conhecido como Tio Bruno vem fazendo a diferença. Por causa de um dia de pouco trabalho, ele teve um encontro que mudou a trajetória de sua carreira.
Apesar de não ter nenhuma relação direta com alguém no TEA, Tio Bruno hoje é conhecido como o cabeleireiro dos autistas. Para ele, não existe desafio grande demais. Como ele mesmo diz, se precisar, corta cabelo até debaixo d’água, se isso fizer sentido para um autista.
Seu trabalho virou até um livro, que vem fazendo sucesso entre os pais que não sabem como proceder na hora de levar a criança ao salão. Mas, enfim, quem é o Tio Bruno e como essa história começou? É o que você vai ver na nossa entrevista.
Índice
Bruno Vargas Ortiz, ou, como vamos chamá-lo, Tio Bruno, nasceu em Curitiba, mas logo se mudou para Florianópolis, em Santa Catarina. Lá, trabalhou em um salão tradicional muito conhecido na cidade, da própria família Vargas, cuja tradição em cortar cabelos vem de longa data. O jovem bruno aprendeu o ofício com o avô, o tio e a mãe.
O apelido ‘Tio Bruno’, uma forma carinhosa e até um tanto infantil como hoje ele é conhecido, não veio à toa. O diferencial do seu trabalho vem de ele atender, principalmente, crianças e adolescentes com alguma forma de deficiência ou transtornos mentais. Porém, enquanto para alguns transtornos e deficiências o desafio é mais relacionado à mobilidade, para os autistas a questão é um pouco mais subjetiva. Para o TEA, como já dissemos, os desafios são principalmente sensoriais.
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Atualmente, a demanda de Bruno é grande e já excedeu as portas do salão tradicional. Bruno trabalha, principalmente, atendendo nos locais em que ele é chamado. Seu raio de trabalho inclui Florianópolis e mais três cidades vizinhas: São José, Palhoça e Biguaçu.
Se pudesse, Tio Bruno tornaria seu trabalho ainda mais amplo. Porém, como ele nos explicou:
“Cortar cabelo de crianças autistas demora um pouquinho mais do que de crianças neurotípicas. Além disso, a logística é sempre otimizada para gastar o menor tempo possível no trânsito. E não precisa ser só em casa, vou até onde a criança estiver, vou até as famílias. Pode ser num parquinho, na escola, em alguma clínica… se precisar, eu corto até debaixo d’água“, explica Tio Bruno, com bom humor.
Em um dia em que Bruno estava no marasmo e com poucos clientes, ele decidiu sair às ruas próximas ao salão para entregar cartões de visita do estabelecimento. Ali, próximo ao seu local de trabalho naquele dia, passou Tânia, proprietária de um centro de educação para autistas.
Ela perguntou para Bruno se ele cortava cabelo de autistas. Porém, como ele explica no livro, a resposta mais óbvia era que sim. Afinal, como não existiam serviços personalizados, todos os salões da região recebiam autistas – ainda que não estivessem devidamente preparados.
Tânia levou um menino até ele. Mas o garoto se recusou totalmente ao corte e sentou na calçada.
“Imaginei que não seria a melhor escolha arrastá-lo para dentro e colocá-lo à força na cadeira. Até porque todas as vezes que vi essa ‘tática’ ser adotada, uma crise acontecia. Choros, gritos e pontapés. E eu não queria fazê-lo passar por isso. Ele obviamente tinha um motivo para rejeitar tanto aquele tipo de lugar“. (Trecho reproduzido do prefácio do livro “Meu filho não quer cortar os cabelos: o que fazer e o que não fazer”, de Tio Bruno).
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No fim das contas, Bruno cortou os cabelos do menino ali mesmo, na calçada. E, enquanto os pedestres passavam e achavam a cena estranha, Bruno, Tânia e, principalmente, o garoto, se divertiam com a cena.
Como conta em seu livro, a partir disso, Bruno só precisava aprender como cortar o cabelo de outras crianças autistas. Atendendo, deste modo, necessidades específicas. Dali em diante, enquanto se tornava, de fato, o Tio Bruno, ele manteve contato com Tânia e conheceu muitas outras crianças autistas, com síndrome de Down, TDAH, paralisia cerebral, entre outros déficits.
Estando há quase 6 anos na estrada ao encontro de autistas, Tio Bruno coleciona experiências de vários tipos.
“Rolando no chão e dentro do box do chuveiro acontece todo dia. Essas já nem são mais situações inusitadas para mim. Mas também já cortei espremido dentro de um carro com a criança, já cortei em cima da moto do pai, dentro de piscina. E ainda devem ter mais alguns lugares diferentes para lembrar”, conta.
No entanto, os desafios práticos do dia a dia não são apenas sobre em qual lugar o corte será feito. Mas, também, sobre tudo que está envolvido no processo.
“Essa questão é mais complexa do que imaginam. Falta mão de obra qualificada, mas essa é apenas a terceira responsável pela dificuldade. Infelizmente, os pais, que também são responsáveis, não têm o manejo necessário. Mas, em primeiro lugar, eu coloco o próprio autismo com suas sensibilidades táteis, auditivas e visuais”.
Em um dos trechos mais curiosos do prefácio de seu livro, Tio Bruno se põe no lugar de uma criança autista para tentar entender como é o momento do corte na visão dela.
“Não entendo porque existe um dia em que devo me sentar imóvel e deixar uma pessoa, que não é o papai nem a mamãe, mexer na minha cabeça. (…) Além disso, essa estranho molha os meus cabelos. O que não faz sentido, já que não é hora do banho. (…) Eu odeio a sensação dos fios úmidos colados na pele. (…) Eu olho pro chão e vejo um monte de cabelos que foram tirados de mim. Alguns caem no meu pescoço e fazem com que ele pinique bastante. Aí vem aquela coceira por todo meu corpo. E o pior é que seu tento fugir, sou segurado.” (Trecho reproduzido do prefácio do livro de Tio Bruno).
Sendo, então, um profissional independente, Tio Bruno não tem como atender a todas as famílias que precisam lidar com os desafios do corte de cabelo. Por isso, ele reuniu todos os aprendizados de sua experiência em um livro.
“No fim de cada atendimento, sempre dou um feedback para os pais. Mas o tempo é muito breve para tanta coisa a ser dita. Então eu pensei: vou fazer um manual e enviar para os pais que atendo. Mas a cada dia eu via que tinha mais coisa a ser acrescentada. Então, o número de páginas foi crescendo cada vez mais. Até eu chegar à conclusão de que tinha que ser um livro. Tive que parar de escrever, se não eu nunca pararia. Mas todos os dias eu continuo criando mais ideias na cabeça que podiam ter ido para o livro”.
O livro, intitulado “Meu filho não quer cortar os cabelos: o que fazer e o que não fazer” foi lançado, a princípio, apenas no formato digital, para ser lido pelo computador, celular ou tablet. Se você é responsável por um autista, e quer saber quais são as lições de um cabeleireiro experiente em autistas, pode adquirir a um preço acessível na loja da Amazon, clicando aqui. – Ou no Google Play, clicando aqui. O livro também está disponível gratuitamente para quem for assinante do serviço Kindle Unlimited
Bruno conta que, toda vez que vai conferir vendas e quantidade de leitura do livro, se surpreende com o tamanho do sucesso. O livro tem sido encontrado pelo país inteiro e ajudado pais, mães e cuidadores.
Tio Bruno, antes dessa história acontecer, era alguém que conhecia o autismo de ouvir falar. O cidadão Bruno Vargas não tem nenhum parente autista. Seu conhecimento, até então, era apenas cortar cabelo. Porém, sua disposição incansável fez com que ele passasse a ver o autismo de uma maneira mais profunda e verdadeira.
As crianças que ele vem conhecendo têm mostrado para Bruno o que ele define como “o verdadeiro autismo, sem conceitos equivocados que a maioria de nós carrega”. Graças à sua esposa, que é psicóloga, Bruno também pode contar com um apoio técnico na construção de seus métodos.
Gostou do trabalho dele e quer conhecer mais? Siga o Tio Bruno no Instagram.
E é assim, com boa vontade e livre de pré-conceitos, que não só o Bruno, mas todos nós, podemos construir uma sociedade mais justa e confortável para os autistas.
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E se você chegou aqui pela primeira vez com esse artigo e ainda não conhecia o nosso quadro ProTEAgonistas, vai amar ler e conhecer outras trajetórias que já passaram por aqui. E se você também tem uma história que pode tocar a vida de outras pessoas, entre em contato pelo nosso Facebook ou Instagram.
Muito obrigado pela leitura e até a próxima! ?
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Interessante à disposição em aprender levando em considerações com as peculiaridades de cada pessoa com autismo e a maneira específica de cortar o cabelo, respeitando-os. Acredito que esta iniciativa deva ser apresentada a sociedade para que TODOS compreendam a PESSOA COM AUTISMO!!! PARABÉNS1.
Oi, meu filho é autista, cabeleireiros que levamos, nenhum conseguiu cortar o cabelo dele. Nem mesmo nós, pais dele conseguimos cortar, será que vc consegue cortar o cabelo dele? obrigado.
Olá, Deividi. Aqui nós só compartilhamos a história. Seria necessário você entrar em contato diretamente com ele pelo Instagram: https://www.instagram.com/tiobrunocabeleireiro/
Um abraço.
Bom dia Bruno
você é da aonde? qual cidade?
Gostaria de saber se você é de São Paulo
pois na clinica que meu filho se trata está precisando de uma pessoa 1 vez por semana pra cortar cabelo de crianças autista..
Há interesse?
Gostaria de saber se o tio Bruno corta cabelo de criança síndrome de daw do sexo feminino. Parabéns pelo seu trabalho.
Oi boa tarde, você corta a domicílio
ola tentei encontrar seu instagran mas não consigo
Olá, Ingrid. Segue o Instagram: https://www.instagram.com/autismoemdia/
💙
boa tarde meu neto é autista e não esta deixando cortar o cabelo gostaria de saber o endereço
Olá, Aline. Precisa fazer contato através do Instagram do Tio Bruno que está no texto: https://www.autismoemdia.com.br/blog/tio-bruno-conheca-o-cabeleireiro-dos-autistas/ . Um abraço!
Gostaria de saber se vocês atendem à domicílio? pois meu filho é autista e dá muito trabalho pra cortar o cabelo 💇♂️