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Postado por Autismo em Dia em 29/ago/2022 - 9 Comentários
A equoterapia, ou seja, um tipo de terapia com cavalos, está cada vez mais popular. E não estamos falando de uma terapia da moda, mas de algo que realmente traz resultados para pessoas com diferentes condições. Mas, como temos visto ao longo dos anos aqui no blog, é entre os autistas que a equoterapia mais vem encontrando adeptos.
Por isso, nós fomos conversar com a psicóloga Nayara Azedias, que atua na profissão há 12 anos e há quase uma década faz dessa terapia um instrumento de transformação. Ela nos contou em detalhes como funciona o processo desde o início até a demonstração dos resultados.
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Nayara, que é do interior de São Paulo, cresceu cercada pela cultura dos animais de sítio. Por isso, quando ela buscava uma alternativa de atuação complementar ao que ela já fazia em seu consultório, a equoterapia foi sua primeira opção.
“Quando eu recebia os pacientes no consultório, eu percebia que, além da terapia, eu precisava fazer algo diferente. Embora a terapia seja, de fato, muito importante, eu queria poder fazer ainda mais diferença na vida deles. E como aqui a gente tem vários rodeios, sempre olhei de um jeito diferente. Eu já vi o cavalo restituir famílias”.
Por conta desse interesse, em 2014 Nayara foi estudar a terapia com cavalos em Brasília. Mas, quando voltou, sem ter a estrutura para começar, ela foi atrás de amigos que poderiam ajudar. Ela conta que, no começo, as pessoas achavam a ideia um pouco estranha, pois ainda não se falava tanto em equoterapia. “Muitas portas foram fechadas. Eu estava quase desistindo”.
Mas a equoterapia, de algum modo, já estava no destino de Nayara. Ela foi procurada pela mãe de uma jovem que teve um glioma do tronco encefálico, que é, resumidamente, uma forma de tumor cerebral. No entanto, essa mãe não podia bancar o tratamento. Nayara, acreditando que podia realmente fazer a diferença na vida da moça, topou voluntariamente o caso. Ela conta, com alegria, as surpresas já da primeira sessão.
“Já na primeira sessão, quando ela saiu da cadeira de rodas(condição causada pelo glioma) e montou no cavalo, o olhar dela já era outro. Ali eu vi que ela podia mais, que ela podia sair daquela situação. E quando ela voltou para a sua cidade, eu recebi o contato do médico me perguntanto o que é que eu tinha feito com ela, pois a evolução que ela teve em dois meses de equoterapia ela não tinha tido em 1 ano de outros tratamentos. E eu sei que quem fez tudo isso foi o contato com o cavalo”, conta.
Para um autista ou para qualquer outro paciente que precise fazer a equoterapia, a primeira coisa que Nayara solicita é o encaminhamento de um médico.
“A equoterapia”, conta Nayara, “aborda vários tipos de patologias: alterações cromossômicas, deficiência auditiva, distúrbio do processamento central, encefalopatia, microcefalia, sequela de AVC, meningite e várias síndromes diversas, como o autismo. E eu só monto uma pessoa no cavalo se o médico disser que não existe nenhum tipo de problema que vai comprometer o paciente se ele andar a cavalo.
Após isso, eu faço a anamnese, ou seja, pego todo o histórico do paciente para entender porque ele buscou a equoterapia e não outro tipo de terapia. Vou entender como é a vida dessa pessoa, se é uma doença que foi adquirida ou se ele nasceu.
Daí , passamos para a parte do termo de ciência e compromisso. Eu preciso explicar para o paciente que a gentes está trabalhando em um ambiente em que tem animal e que existe a possibilidade de alguma coisa dar errado. É preciso comunicar, de fato, os perigos. Porque, afinal, é bem diferente de estar numa sala fechada”.
Depois de todo esse processo, Nayara explica que ela cria um plano de ação individual, que está dentro de uma das três opções com que ela trabalha:
Ou, ainda, se o paciente desejar, Nayara ainda pode treiná-lo para participar de competições esportivas.
“As que eu mais trabalho em relação à parte pedagógica e social da criança são a hipoterapia e a reeducação equestre. Quando a criança chega, às vezes ela não quer montar, pois o cavalo é grande e assusta. Por isso, eu tenho que, inicialmente, fazer um trabalho de vínculo. Aquele praticante precisa querer estar ali e precisa confiar em mim. Então a gente faz esse trabalho de aproximação do ambiente mesmo que essa pessoa não monte na primeira sessão.
Depois que essa aproximação é bem sucedida e o praticante internaliza todo esse vínculo, aí a gente começa a trabalhar outras coisas.
Por exemplo, se o paciente tem problemas de autoconfiança ou depressão, ele começa a entender que, se ele consegue conduzir um cavalo daquele tamanho, por que ele não consegue conduzir a própria vida? Se vem uma necessidade que é mais física, eu tenho o acompanhamento também com uma fisioterapeuta que me auxilia. Às vezes precisa ser feito um trabalho de chão com pacientes em cadeira de roda. A gente vai trabalhar os braços, a força, eles vão chegar perto, escovar os cavalos, até que a gente consiga realizar a montaria”, explica.
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Vale lembrar, também, que uma equoterapia completa e segura utiliza diversos equipamentos, além do cavalo, que incluem acessórios de segurança para montaria. Além de outros objetos do mundo infantil, como fantoches, bolas, jogos adaptados, livros e até música.
“Eu sempre me pergunto e faço a criança refletir sobre o que ela ganha com esse comportamento. Quais são as alternativas dela? Como a gente pode dar alternativas que sejam mais compensadoras para ela. Tem criança, por exemplo, que vem trabalhar a parte da alimentação. Então a gente dá para o cavalo alguns alimentos, como milhos ou frutas. Ela vai internalizando e, às vezes, até consome esses mesmos alimentos que a gente utilizou na sessão.”
Apesar de existir uma demanda muito grande de crianças na equoterapia, Nayara explica que os estímulos físicos e sociais deste tipo de intervenção podem funcionar tanto em bebês quanto em idosos. Não existe idade mínima ou máxima para realizar a terapia com cavalos.
“O cavalo tem um movimento tridimensional. Ao andar de cavalo, a pessoa faz o movimento que é para frente e para trás, de um lado para o outro, para cima e para baixo. Esse movimento causa no ser humano 2.200 estímulos a cada 30 minutos. E se eu tenho, por exemplo, um bebê com problemas motores, ou eu monto junto com ele, ou eu vou de um lado e a fisioterapeuta do outro, mais o condutor do cavalo, e assim o bebê vai recebendo os estímulos que o cavalo proporciona”.
Além de bebês, Nayara também acumula a experiência de 6 anos trabalhando em um lar de idosos.
“Quando eu sugeri fazer a equoterapia nesse lar de idosos, eles ficaram super animados. Isto porque aquilo foi um resgate de memórias de coisas que eles faziam há muito tempo, como ser peão de fazenda. Especificamente, um senhor que andava de cadeira de rodas porque as pernas já estavam fracas. Ele saiu da cadeira de rodas e passou a andar de muletas aos 95 anos.
Desde que tenha toda a segurança, qualquer pessoa está apta a fazer a equoterapia.”
Além de Nayara como psicóloga, a equipe ainda conta com uma fisioterapeuta e o condutor do cavalo. Por conta disso, podemos dizer que é uma terapia multidisciplinar. Além disso, Nayara explica que existe, ainda, uma troca importante de informações com o médico da criança.
“Se os médicos que me encaminham recebem, depois, resultados positivos da terapia, eles me ligam pra recomendar alguns direcionamentos dali para frente. Eu acabo aprendendo coisas motoras que vêm da fisioterapia e coisas sobre outros tipos de patologias com os médicos. Juntos, a gente faz o nosso trabalho dentro de um ciclo de segurança. Tanto que, há 8 anos que eu trabalho com isso e nunca aconteceu nada fora do comum. Mas isso vai de ter muita prudência e observação do cavalo e da pessoa.”
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Nayara conta que, logo que seu trabalho decolou, ela foi procurada por muitas famílias de autistas. O que também a levou a buscar especialização na área. Ela, que também é especialista no método ABA, diz que pelo menos 95% de seus pacientes são autistas. E ela não se ateve só aos pacientes, mas também quer cuidar das mães.
“Hoje, eu tenho um grupo com mais de 70 mães que se chama Mães Atípicas. A gente faz encontro mensais em que elas desabafam sobre a vida. O grupo surgiu da necessidade de também trabalhar as questões da mãe enquanto trabalhamos os filhos, sendo que a maioria não pode pagar a terapia para elas”.
Você pode conhecer mais sobre o trabalho da Nayara e sua equipe clicando aqui e lendo os conteúdos que ela faz lá no Instagram.
A equoterapia é uma das muitas intervenções especializadas que podem ser feitas com um autista. E aqui no Autismo em Dia você fica por dentro de diversos assuntos que podem fazer a diferença no seu conhecimento do transtorno. Sempre que possível, busque especialistas. Mas não se esqueça de nos seguir no Facebook, no Instagram e no YouTube para ter diversos conteúdos gratuitos sobre o TEA.
Muito obrigado pela leitura e até a próxima!
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Eu sou uma testemunha do trabalho de excelência que a Dra. Nayara executa. No dia a dia, nas noites de sono perdidas, ou melhor, ganhas, com estudos e muita dedicação. Parabéns meu bem, sou teu fã incondicional. Te amo
💙
equoterapia é vida
Obrigada dr Nayara por tudo
fabielly é autista e ama ir pra equoterapia
Arthur e cardiopata e tbm faz equoterapia
grata por tudo
eu gostaria de conhecer equoterapia porque eu tive um AVC 20/09/17 eu acho que vai fazer bem pra mim
Tenho interesse em me aprofundar no assunto e elaborar um projeto para colocar em prática para os municípios do meu Estado (CE).
Alguns arquivos com resultados da equoterapia para autistas?
Se houver um treinamento para a implantação de um núcleo de equoterapia para autistas, tenho interesse de visitá-lo.
quero montar um lugar para ser utilizado para o autista usar meus cavalos em farol de São Tomé campos dos Goitacazes rj
💙
tenho uma relação intensa com autistas, meus alunos, meu sobrinho, meu afilhado, um filho de um casal de amigos que acompanho as lutas da família desde o nascimento, e com uma amiga, quase filha, que é mãe atípica e proprietária de uma clínica DE TERAPIA com especialização e muito foco em ABA. por ter uma convivência, eu gostaria de oferecer esse tipo terapia aqui na minha cidade que não tem Como faço pra fazer uma especialização em terapia com cavalos.
ps/ gosto muito de montar, me dá uma sensação de Liberdade e de autonomia.
Olá, Rosangela. Para ser terapeuta especialista em autismo é recomendado que faça a formação em psicologia, não vai ser um curso rápido que irá te capacitar para tal atividade. É um trabalho muito sério e que exige muita responsabilidade, portanto não deixe de buscar uma boa formação!