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Postado por Autismo em Dia em 07/abr/2021 - 20 Comentários
Os sinais de autismo leve podem ser tão sutis e facilmente confundidos com traços de personalidade, que certamente muitas pessoas acabam descobrindo que fazem parte do espectro por mera coincidência.
Foi o que aconteceu com a nossa proTEAgonista da vez: Nicolly Pereira do Amaral. Ela tem 22 anos e é estudante de Ciências Biológicas na Unesp de Assis. Nós conversamos com Nicolly para entender como foi a descoberta e toda a sua jornada até receber o diagnóstico, já na vida adulta.
Continue a leitura para conhecer essa história cativante, que nos leva a uma reflexão importante sobre o autismo em adultos e como muitos convivem com o TEA e seus desafios atípicos sem sequer saber disso.
Índice
A estudante nos contou que está prestes a concluir o curso de Ciências Biológicas, e muito provavelmente ela já estará formada quando publicarmos sua história. Nicoly vai ser professora, e o autismo entrou em sua vida quando ela tinha 19 anos e já estava na faculdade.
Ela conta que foi através de um colega da faculdade, que entrou no curso um ano depois dela, que o primeiro contato com o autismo aconteceu:
“Eu gostava muito dele, digamos que o santo batia. Só que ele era muito na dele, reservado e tal, então a gente não tinha muito contato. Certa vez eu estava em uma festa – coisa que muita gente pensa que autista não vai – e tive a oportunidade de conversar com ele.
Nesse dia ele me contou que tinha um grau leve de autismo, e eu achei aquilo muito interessante, porque o que eu tinha em mente quando pensava em alguém autista era aquela visão bem estereotipada da pessoa que vive num mundo a parte, não conversa, não capta nada do mundo a sua volta… aquela visão que hoje eu sei que é bem errada.
Ele me contou que foi um professor que orientou os pais deles a buscar um psicólogo e um neurologista, pois ele via que tinha algo de diferente. Ele tinha convulsões nas aulas as vezes, por causa da hipersensibilidade sensorial, e o comportamento também era diferente dos outros jovens da sala. Esse rapaz tinha 16 anos quando isso aconteceu.
Eu achei a atitude desse professor muito importante, e como quero ser professora, me despertou um interesse em saber mais sobre quanto os professores estão (ou não estão) preparados para para lidar com alunos neurodiversos e até mesmo para identificar os comportamentos que podem apontar para algum transtorno e orientar que esses alunos busquem um psicólogo.”
Nicolly conta sobre como o autismo se tornou um hiperfoco e foi fazendo parte de seu dia a dia:
“Nessa época eu criei um hiperfoco em estudar sobre autismo, e eu nem sabia que era um hiperfoco, é claro. Comecei a consumir tudo sobre isso, entrei em vários grupos do Facebook sobre autismo, e estava super interessada em saber mais sobre o assunto.
Ao mesmo tempo, eu estava fazendo estágio em uma escola, dessas que se dizem inclusivas. Eles aceitavam a matrícula de alunos neurodiversos, mas não tinha muita inclusão, na verdade. Uma professora estava reclamando na sala dos professores de um aluno que tem Síndrome de Down, pois ele ficava agressivo as vezes. Então, ela soltou a seguinte frase: “mas eu ainda prefiro o aluno com Síndrome de Down do que o autista, pois o autista não faz nada, não presta atenção… ele pediu pra ir no banheiro esses dias, e então eu disse que ele não podia sair, pois se precisava de ajuda para estudar, precisava de ajuda para ir ao banheiro também”. É claro, eu achei esse posicionamento tão absurdo e revoltante, que reforcei ainda mais na minha cabeça a necessidade de estudar mais sobre isso para ser uma professora diferente.”
A futura professora relembra o momento em que o primeiro sinal de alerta sobre a possibilidade de ser autista surgiu:
“Eu estava navegando em um grupo sobre autismo do facebook, e nesse grupo haviam muitos relatos de pais, principalmente. Então, uma moça postou um vídeo da filha dela brincando de rodar, com a legenda: “Os filhos de vocês também fazem isso? Minha filha roda bastante”. Imediatamente, olhei os comentários e vi muita gente dizendo que seus filhos faziam o mesmo.
Descobrir que esse pode ser um comportamento comum entre autistas foi uma surpresa pra mim, afinal, eu também ficava horas rodando quando criança. A partir daí, eu fiquei, digamos, com a pulga atrás da orelha.
Isso reforçou ainda mais a minha pesquisa sobre autismo, e eu comecei a seguir muitos autistas adultos que contavam sobre a vida deles, o diagnóstico, etc. Comecei a me identificar muito com os relatos deles, e de certa forma ver a minha vida sendo contada pelas palavras de outras pessoas.
Essa fase de não só estudar sobre o TEA, mas começar a perceber que eu me encaixava nele, aconteceu no início de 2019. Especificamente em abril, eu pensei comigo mesma: “ok, acho que sou autista mesmo, quase certeza”.
Antes de mais nada, eu procurei aquele meu amigo autista da faculdade e contei pra ele sobre a minha suspeita. Então, ele me passou vários testes que havia feito com um neuropsicólogo. Eu já sabia que não existe autodiagnóstico, mas eu precisava saber se a minha suspeita tinha fundamento. Fiz todos os testes e os resultados apontavam que eu tinha altas probabilidades de ser autista. A parti daí, eu confesso que mesmo sem diagnóstico eu já passei a me enxergar como autista.”
Convencida de que era uma adulta com autismo leve, Nicolly passou a compreender que muito do que passou em sua vida tinha explicação.
“Comecei a me respeitar mais, como por exemplo ter consciência de que eu não sou uma pessoa preguiçosa, mas tenho disfunção executiva… não sou chata, só não sei como agir em algumas situações sociais, etc. Comecei a prestar mais atenção em mim mesma, e foi uma fase de muito autoconhecimento mesmo.”
Como acontece com muitas das pessoas que estão no espectro, faltava condições financeiras e acesso à profissionais que pudessem dar um diagnóstico formal para Nicolly. Mas ela estava determinada a conseguir o diagnóstico, e tinha consciência da importância disso. Então, durante o ano de 2020, ela juntou dinheiro, e em 2021, iniciou a investigação clínica com uma neuropsicóloga.
“Eu procurei ela e, antes de mais nada, já deixei clara a minha intenção de investigar o autismo. Ela é especialista em autismo, então ela já foi direito ao ponto, e iniciamos a investigação. Fizemos sessões semanais e oito semanas depois, ela estava convencida de que eu era autista.
Ela me encaminhou para um psiquiatra que confirmou o diagnóstico, e agora está confirmado por profissionais qualificados que eu sou autista.”
Existe o estereótipo do autista que prefere ficar isolado e busca alternativas de estudos à distância, preferindo, igualmente, trabalhar em casa. É claro, essas pessoas existem, e tudo bem preferir ficar sozinho! No entanto, Nicolly é a prova viva de que o espectro é amplo e inclui os mais diversos tipos de pessoas.
Ela gosta de estar entre atividades em grupo, não à toa, escolheu ser professora. Além disso, ela nos contou que antes da pandemia, participava de diversas atividades em grupo que muitos achariam que autistas jamais iriam querer participar:
“Eu fazia parte do coral da faculdade, e também de um grupo de teatro amador. Ambos me ajudavam muito na socialização. Também fazia balé, e já fiz parte de uma organização que tem em faculdades para empreendedorismo social, e essa era uma das paixões da minha vida.”
Ela conta que a principal mudança foi começar a se respeitar mais. Não se forçar a passar por situações que causavam algum desconforto sensorial foi um dos exemplos citados pela estudante.
“Eu aprendi a lidar com muitas das dificuldades que descobri ter em consequência do autismo. Naturalmente muitos desses aprendizados vieram das minhas experiências de vida. Ainda assim, saber identificar essas disfunções me ajudou a aprender a traçar estratégias e buscar soluções, além de aceitar e acolher as minhas características ao invés de ficar tentando ser como todo mundo.”
Atualmente, Nicolly namora, e o relacionamento já dura pelo menos oito meses. Ela conta que uma das coisas que se explicaram muito após descobrir que era autista foram seus comportamentos e sentimentos quanto aos relacionamentos amorosos que teve durante a vida.
“Sempre tive problemas nos relacionamentos anteriores por ser considerada uma pessoa fria. É complexo, eu sou bem dengosa, mas não gosto que o meu par seja carente. Eu preciso do meu espaço, e tenho dificuldade em demonstrar meus sentimentos.
No meu relacionamento atual, eu já contei sobre o autismo desde o início. Meu namorado por acaso também é neurodiverso, ele tem TDAH. Temos problemas, mas sabemos que não é culpa de ninguém. Todo relacionamento tem dificuldades, mas o fato dele saber sobre o autismo desde o começo, estar disposto a aprender sobre como o relacionamento amoroso para o autista pode ser diferente e respeitar isso, torna tudo mais leve.”
Durante a investigação do autismo, a neuropsicóloga sugeriu que Nicolly escrevesse um diário. Analisando o que escrevia, ela notou que os textos eram mais sobre suas reflexões relacionadas ao autismo do que sobre o dia a dia, e então ela criou um Instagram para compartilhar esses textos, e você pode seguí-la clicando aqui.
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Gostou de conhecer um pouco sobre a relação de Nicolly com o autismo? Nós amamos compartilhar com vocês essa história! Lembre-se de seguir o perfil dela no link acima e siga também o Autismo em Dia no Instagram e Facebook para não perder a oportunidade de conhecer mais histórias importantes como a dela.
Obrigada pela leitura! ?
“O Autismo em Dia não se responsabiliza pelo conteúdo, opiniões e comentários dos frequentadores do portal. O Autismo em Dia repudia qualquer forma de manifestação com conteúdo discriminatório ou preconceituoso.”
Bom dia, tenho uma filha de 2 anos com características de autismo, e investigando sobre o assunto , encontrei características em adulto que indicam que eu posso ser autista também. No entanto também enfrento problema referente a recursos financeiros para diagnósticar e tratar. O que me sugere ? Diante da sua experiência?
Amei esta abordagem, a visão de dentro para fora do espectro.
Tenho uma filha (adotiva) q é TEA/TOD/TDAH, foi diagnosticada apenas aos 9 anos, mesmo buscando vários profissionais, desde 1a 3m.
Por não ter condições de responder sobre a família biológica e tbm por ser menina (o número de meninas é muito baixo se comparado aos meninos), o diagnóstico tardio dificultou bastante o desenvolvimento.
Cansei de ouvir das escolas por onde passou que ela não tinha problemas, apenas era “preguiçosa”!
A falta de diagnóstico dificultou muito a nossa vida, mas aqui estamos, desde 02/04/2019, vivendo as agruras, tempestades e descobertas desta nova forma de processamento de idéias, informações e sentimentos.
Oi Debora! Muito obrigada por contar um pouquinho da história de vocês pra gente ? Esses depoimentos são muito valiosos para fortalecer e incentivar outras famílias com situações semelhantes.
Um abraço de gratidão e força para vocês. Volte sempre aqui no blog!
Tenho um filho neurodiverso .Ele é maravilhoso .Preciso de amizades com autistas.
??? É muito bom poder compartilhar experiências, né? Estamos torcendo por vocês!
Muito bom. Quanto mais conhecimento e divulgação melhor.
?
Muito bom.
O autismo leve no feminino é muito sutil e penso que deveria ser mais demonstrado pelas mídias.
Com certeza Sonia!
Tenho um filho de 21 anos que foi recém diagnosticado com TEA leve.
Ele não fala comigo há uns 5 anos, ele mora em outra cidade, e eu ainda não sei como reverter essa situação.
Preciso muito de ajuda. Mesmo sendo um profissional da saúde me sinto fraco para resolver essa situação. Chorei muito ontem.
Oi Tiago, como vc está?
Sentimos muito que esteja passando por isso =/ Mas também ficamos felizes que esteja disposto a se reconectar com ele e fortalecer a relação de vocês ?
Aconselhamos você a procurar um(a) psicólogo(a) comportamental para conseguir lidar melhor com essa situação e encontrar caminhos para se reaproximar do seu filho. Estamos torcendo por vocês. Um abraço carinhoso de toda equipe do Autismo em Dia!
Eu tenho certeza que tenho algo, porém não vejo mais solução pois já cai tão fundo no poço que não vejo nem mais luz. Comigo é dia após dia para que eu não saia desse plano. Mal consigo sair de casa e broco a dizer que a cama tem me engolido..rs.. enfim..
Feliz pelo sucesso de outrem, ainda que o meu eu nem vejo mais.
Sentimos muito que se sinta tão mal 🙁 Esperamos que as histórias e informações que compartilhamos possam te ajudar a se fortalecer. É possível lidar com toda essa dor e desconforto e se sentir melhor, procure ajuda de um psicólogo comportamental. Um abraço carinhoso e cheio de coragem ?
Sim, achei super interessante conhecer melhor sobre o assunto e mais interessante ainda o seu propósito: autoconhecimento.
Fundamental para quem tem qualquer desvio comportamental se entender, se respeitar. Gratidão por sua iniciativa?
Achei muito interessante conhecer melhor sobre o assunto.
Tenho uma amiga que tem uma filha de 24anos, e tenho observado alguns comportamentos mencionados no texto como autismo leve.
Gostaria muito de poder ajudar pois percebo muito sofrimento em ambas, mas não sei como.
Alguém poderia dar-me uma luz? Devo me intrometer ou não?
Oi Mag, como você está?
Essa é uma dúvida bastante comum por aqui. Veja, esse é um assunto bastante delicado. Em primeiro lugar, antes de tocar no assunto, é importante se certificar de que sua desconfiança é consistente. Dizemos isso, porque é bastante comum que alguns sinais do transtorno estejam presentes em pessoas neurotípicas. Então, é bom estudar bastante sobre o tema para ter certeza de que realmente existem sinais suficientes que justifiquem uma conversa.
Por outro lado, é importante saber que essa pode ser uma conversa desconfortável. Não existe uma forma 100% garantida de falar sobre isso sem magoar o outro, pois cada pessoa é única. O que podemos dizer é que alguns cuidados podem aumentar as chances de ter uma conversa mais leve. E isso também vai depender de como é a relação de vocês, qual é o nível de intimidade, o quanto elas estão “abertas” para lidar com esse tema e etc.
De modo geral, procure não falar diretamente de “autismo” pois isso poderá assustar, além do que, muitas pessoas já tem um preconceito e uma ideia estereotipada sobre o que é autismo. Um bom caminho é falar sobre os sinais, mostrar que eles podem estar relacionados a uma condição relativamente comum, e que existem caminhos terapêuticos para melhorar a qualidade de vida.
Indicamos um vídeo bem legal que aborda essas e outras questões e que de repente poderá te ajudar nesse papo: https://www.youtube.com/watch?v=Rw2n_6LhzR0&t=308s
Esperamos ter ajudado um pouquinho ?
na verdade, tudo é muito confuso, porque , a minha vida toda sempre sofria com o bullying na escola, no colégio, e na vida adulta não é tanto, mas a forma indiferente que as pessoas, mesmo que dentro da família, trata o Ricardo aqui, só é um pouco amena ,mas a sensação de capacitismo e estigma que me causam , é tão profundo e grande, que acabei que aceitando um pouco, pra não dor tanto quanto antes, mas a vontade é de não querer mais existir, já que a minha aparência e minha forma esquisita e estranha de ser , pesa tanto, mais que o que sou capaz, que acho que se eu me amar em uma pedra e a coda no pescoço e jogar em um rio, teria que ser um bem fundo, porque iria afundar bem rápido e não poluir , porém, prefiro , buscar mais informações, e ajuda,apesar de Eu Ricardo, já ter 44 anos, e ser mais difícil o diagnóstico, por conta idade e ser pobre, a dificuldade alimenta e demora, por pelo SUS, não precisa nem comentar, todos já sabem como funciona!
Eu só espero, que se tiver que ter um diagnóstico conclusivo. para TEA nível 1 e demais comorbidades como TDAH, inclusive é por isso que tomo ritalina, e for positivo o laudo , acho que vou poder me liberar de muitos dogmas e preceitos que tenho a cerca de minha pessoa, e dá tempo de tratar e trabalhar algumas coisas, e tentar salvar, o que ainda resta , desta forma decadente ! agora, se o diagnóstico de negativo pra TEA, com certeza, vai ser verdade o que todos me dizem: que isso é coisa da minha cabeça, ou que estou procurando chifre em cabeça de cavalo ( apesar de não fazer nenhum sentido isso, porque unicórnio não existe) ou que isso tá na moda , e só gente que não quer trabalhar e viver de benefícios, fora muitas outras coisas que ouço, eu também teria a certeza, de talvez ser um problema de sociopatia ou algo parecido, só sei que se eu não tiver e não ser neurodivergente, e ser só mais um cara com cruze existencial ou Borderline , querendo se aparecer, ou qualquer outra coisa destas, eu vou por um final nisto!
Olá, Ricardo. Eu imagino sua dor e o quanto confirmar suas suspeitas poderia trazer alívio, você não é uma pessoa querendo se aparecer. Você busca informação e já faz um tratamento. Caso não seja autismo e tenha outra comorbidade também existe tratamento. Eu sinto muito pelo seu sentimento de exclusão, mas aqui, estamos com você. Não deixe de acompanhar nossos textos e caso precise, entre em contato com o CVV – Centro de Valorização da Vida (188). Sua vida importa muito! Um abraço forte 💙
Eu tenho TEA leve! Às vezes é complicado, outras mais eu consigo lidar tranquilamente!
Nem todo mundo sabe, mas sinto que percebem algo em mim! Tipo , dou extremamente distraída, foco nalguma coisa e não vejo mais nada importante!
Triste isso!
Oi Fátima, obrigada por comentar aqui. Um forte abraço 💙