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Postado por Autismo em Dia em 19/abr/2020 - 6 Comentários
Ir ao parque, fazer uma viagem, passear pelo shopping e ir ao cinema. Para a maioria das pessoas esses programas estão fazendo muita falta no dia a dia, o que é super compreensível. Mas, para sorte delas, basta que a quarentena acabe para que tudo volte “ao normal”.
Infelizmente, a realidade é um pouco diferente para os autistas e suas famílias. Muitas atividades (mesmo em épocas convencionais), acabam sendo muito difíceis. Hoje vamos falar de um projeto muito especial, que ajuda os autistas a desfrutarem do cinema de uma forma mais confortável e acessível.
É o Sessão Azul! O projeto surgiu para solucionar os problemas enfrentados pela maioria das famílias que têm uma criança ou adolescente autista na hora de ir ao cinema. Pois é! algo que parece tão simples no cotidiano das famílias, mas que para um autista pode ser desafiador e estressante.
Afinal de contas, o som é alto demais, os filmes exigem concentração e o espaço é um tanto confinante, sem falar nos “olhares julgadores” daqueles que estão na sessão e não entendem muito bem o motivo da inquietação do autista.
Considerando tudo isso, de forma resumida, o projeto consiste em adaptar sessões de cinema para esse público, com exibições exclusivas onde a família tem todo o suporte para que os filhos possam se sentir à vontade e curtir o espetáculo.
Por isso, nós, do Autismo em Dia, fomos conversar com o Leonardo Bittencourt Cardoso, um dos coordenadores do Sessão Azul, para conhecer melhor como esse projeto funciona e como ele vem impactando a vida de pessoas por todo o Brasil.
Leonardo, que há mais de 20 anos trabalhava como gestor de projetos de tecnologia da informação, e também é casado com a psicóloga Carolina Salviano de Figueiredo (uma das fundadoras do projeto), passou a se envolver profundamente com o Sessão Azul e hoje se dedica exclusivamente à parte administrativa. Acompanhe essa história.
Índice
Como muitos dos avanços que ocorreram em prol das pessoas com o Transtorno do Espectro Autista, o projeto Sessão Azul deu a largada há pouco tempo. Foi em 2015 que Carolina e a também psicóloga Bruna Manta começaram, lá no Rio de Janeiro, a procurar formas de fazer a ideia funcionar.
Elas perceberam que existiam muitas famílias que deixavam de se envolver socialmente por conta do receio de serem julgadas pelos comportamentos de seus filhos autistas. Isso impacta a forma como essas pessoas vão a teatros, restaurantes, festas e cinemas.
Além disso, no Brasil, até então, não haviam muitas opções em entretenimento que proporcionassem uma adaptação para pessoas com dificuldades sensoriais. Foi assim, que inspirado na experiência de sucesso do programa Cinema Materna (voltado para mães com recém-nascidos), que o projeto Sessão Azul nasceu.
Certamente, realizar sessões de cinema não é simplesmente restringir o público e ligar os projetores, como nos conta Leonardo. Foi preciso uma série de adaptações coordenadas de forma inteligente para que nenhuma criança ficasse estressada durante a exibição.
“Em todas as sessões, deixamos o o ambiente com meia-luz, refrigeração controlada e o som mais baixo. Além disso, o público tem liberdade para circular na sala ou mesmo de sair e voltar”, conta Leonardo, que também frisa esse modelo como um padrão a ser reproduzido em tudo que o projeto fizer. “A ideia é que quando as pessoas olhem a marca Sessão Azul, saibam que é exatamente dessa forma e com essa qualidade que funciona. Tem metodologia e segurança para as famílias se divertirem”.
Igualmente ao esforço das pessoas envolvidas no projeto, o Sessão Azul depende da iniciativa privada e de voluntários para continuar funcionando adequadamente.
Como gerente de projetos, Leonardo é quem vai atrás de redes de cinemas, shoppings e instituições filantrópicas que deem suporte de maneira séria e organizada. “Todas as sessões possuem um planejamento para acontecer. Normalmente, trabalhamos com seis voluntários para dar suporte e acolhimento às famílias”, explica Leonardo.
A primeira marca que topou a iniciativa foi a rede de cinemas Kinoplex e, de lá para cá, o projeto cresceu e atraiu interesse de outras empresas de entretenimento, não apenas de cinema como também de teatro e até de um aquário. Apesar disso, o cinema ainda é o maior investimento do grupo.
“A dificuldade de se trabalhar com outras formas de espetáculo, como o teatro, é que depende de muito mais coisas, como a administração do local, o apoio da companhia de teatro, entre outros”, diz Leonardo.
“Desde a primeira Sessão Azul, em dezembro de 2015, a expansão já era algo que a gente planejava, só não esperávamos que fosse tão rápido. Logo no início de 2016 a gente já começou a expandir para São Paulo e Espírito Santo. Conforme o projeto ia crescendo e aparecendo na mídia, outras redes passaram a procurar, e isso facilitou bastante a expansão”.
Hoje, o projeto já acontece em 29 cidades e em quase todas as regiões do país. De norte a sul, somente a região nordeste ainda não possui um cinema parceiro. Então, se você quiser conferir o cinema parceiro mais próximo de você, clique aqui e confira a lista completa.
Mesmo diante da expansão acelerada, Leonardo nos explica que tudo é feito com muito cuidado: “procuramos trabalhar com instituições sérias, que realmente estejam preocupadas com o bem, que queiram oferecer um serviço de qualidade. Já para o voluntariado, buscamos pessoas que, de preferência, já tenham experiência profissional ou familiar com o autismo. A gente também dá capacitação para essas pessoas, justamente para garantir a cordialidade que as famílias precisam para quebrar o gelo”.
Mas, Leonardo também é enfático que o projeto ainda tem muito a crescer: “queremos que o crescimento continue acontecendo, não apenas de locais mas dos tipos de atividades culturais que a gente oferece”.
A preocupação com qualidade é tão grande que a Sessão Azul faz questão de deixar disponível o manual de uso da marca, afinal, é uma marca registrada. “Queremos que as nossas sessões funcionem como uma extensão das terapias que essas crianças já fazem“, conta Leonardo, o que torna o uso da marca sem autorização um caso de total irresponsabilidade.
Por isso, empresas e pessoas interessadas em levar o formato para outros locais, podem entrar em contato pelo site oficial do projeto.
Sessões lotadas, famílias encantadas e crianças felizes. Esse cenário já virou rotina em cada um dos lugares por onde a Sessão Azul passa.
“Para muitas famílias que nós temos visto, a Sessão Azul foi a primeira vez em que elas conseguiram levar seus filhos a um cinema. Teve até um caso emblemático de uma avó, aqui no Rio de Janeiro, que levou o neto de 21 anos pela primeira vez num cinema. E ela chorava bastante, emocionada e emocionando a todos. E o rapaz ficou até o final do filme. Então o que a gente sente é esse sentimento de gratidão das famílias. A gente vê que está fazendo a diferença. E isso é muito bom”, conta Leonardo.
Inegavelmente, a parte da socialização também é um fator que, segundo Leonardo, conta muito a favor. “A gente vê as crianças socializando, os pais trocando ideias. Acaba sendo um momento de troca de informações. A gente até pensa em proporcionar atividades pós-sessão, mas é uma dificuldade a ser superada devido ao horário em que as sessões terminam, sempre por volta da hora do almoço. Mas essa gratidão nos dá cada vez mais força para continuar”.
No site do projeto, não faltam elogios: “Não sei se os fundadores desse projeto têm a real noção da importância social que ocupam em nossa sociedade“, disse Roberta Pestana, uma tia, sobre ter levado a sobrinha autista pela primeira vez ao AquaRio. Já a mãe Lívia destacou a alegria da filha: “não via minha filhotinha se divertir assim há muito tempo”.
Erika Cristina, como mãe, contou que as sessões de cinema do projeto representaram um divisor de águas para seu filho, Abayomi, de 8 anos: “Nas sessões ele teve a oportunidade de entender o que era cinema, pôde ficar à vontade, socializou, e o mais importante, não teve estresse, olhares”.
Todas as sessões do projeto acontecem ao custo da meia-entrada para todos. Mas de vez em quando, por conta de algum patrocínio, seja do próprio cinema ou de alguma outra empresa, eles conseguem exibir o filme de forma gratuita. E os ingressos são bastante disputados. Um desses parceiros é o ‘Eu faço cultura’, que junto ao Sessão Azul proporciona cinema para comunidades carentes, ONGs e outros grupos menos privilegiados.
Leonardo explica que a prioridade é exibir filmes infantis, sejam animações ou longas com atores. Entretanto, desde o ano passado eles vem testando opções focadas no público-jovem adulto. “As primeiras experiências deram muito certo, e agora queremos expandir isso em 2020”.
Igualmente, para além das salas de cinema, a Sessão Azul é um sucesso nas redes sociais, com forte presença. São quase 22 mil pessoas no Facebook e perto de 28 mil seguidores no Instagram. Então, a interação com o público é crucial. Algo que é muito interessante é que o público pode, inclusive, participar de enquetes para a escolha dos filmes que serão exibidos (quando há mais do que uma opção).
Já no site, os participantes podem responder a uma pesquisa de satisfação que abrange todos os pontos, desde a qualidade do atendimento por funcionários do cinema e voluntários, o cumprimento das normas do projeto e até sobre mudanças proporcionadas à criança após começar a frequentar as atividades do projeto.
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Projetos como esse ajudam a tornar o mundo melhor para essas famílias cujos filhos são autistas. É uma das muitas histórias que nos mostram o poder de cada gesto. Na matéria de hoje, nosso proTEAgonista foi o Leonardo e a sua Sessão Azul, mas a próxima história pode ser a sua! Então, se você é mãe, pai, irmão, irmã, cuidador ou tem um projeto para ajudar as pessoas com TEA, entre em contato a gente 🙂
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Antes de dar tchau, queremos aproveitar para convidá-lo a conhecer nosso e-book que fala mais sobre esse universo cheio de desafios e surpresas em que vivem as famílias de autistas. Baixe o conteúdo e depois conta pra gente o que achou, ta bom? Até a próxima 🙂
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Eu gostei da idéia,pois eles ,Nós pais e muitos avós que estão criando seus netos autistas vão pode se divertir um pouco quero agradesser a todos pela brilhante idéia. Muito grata. Maria Pereira. Sou de Blumenau SC.
Oi Maria, realmente! Muitas vezes sair se torna super estressante né? Pra família e para os autistas. Por isso ambientes pensados para eles são muito importantes para ter momentos gostosos de lazer!
Piauí agora temos sessão azul , não sei informar se é a primeira cidade do nordeste! Mas conforme publicação creio que seja.
Espero que o projeto, continue pois tenho dois filhos tea e gostaríamos de passar por essa experiência em família!
tenho 3 filhos altistas
Olá, Maria Cleidelene. Deve ser desafiador o seu dia a dia com eles. Continue acompanhando nosso blog, pode te ajudar a ter apoio para seguir a sua jornada com eles. 💙