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Postado por Autismo em Dia em 07/out/2022 - 19 Comentários
Você já ouviu falar sobre a regulação emocional? Em resumo, trata-se da capacidade de lidar com situações que causam emoções como estresse, ansiedade ou frustração. Essa definição serve tanto para os autistas como para os neurotípicos.
Às vezes, os autistas podem ter dificuldade em regular suas emoções, e podem precisar de estratégias únicas de autorregulação para lidar com a sobrecarga emocional e/ou sensorial.
Cada pessoa com autismo gerencia sua entrada sensorial de uma maneira diferente e, por isso, as habilidades de regulação emocional costumam variar. 1
Além das situações sensoriais que impactam na regulação emocional, existem diversos fatores ambientais, circunstanciais e também a chamada “ruminação da raiva”, que podem tornar a regulação emocional mais desafiadora no TEA. Nós falaremos sobre tudo isso no decorrer do texto.
Continue a leitura e saiba mais sobre a regulação emocional do autista e sobre as estratégias para melhorá-la.
Índice
É difícil definir com precisão os sinais de desregulação, mas geralmente qualquer tipo de mudança de comportamento pode indicar que uma pessoa está tendo dificuldade em gerenciar suas emoções. Pode ocorrer, por exemplo, um aumento de comportamentos motores repetitivos (estereotipias), incluindo batucar, chacoalhar as mãos ou os pés ou balanço do corpo em movimentos que vão para frente e para trás.
Mas o que fazer para ajudar alguém que esteja passando por isso? Bem, se a pessoa estiver apta a comunicar seus sentimentos ou compartilhar suas frustrações e você tem proximidade suficiente para isso, perguntar como ela está se sentindo é sempre um bom começo. No entanto, em alguns casos, pode ser difícil para o autista expressar seus sentimentos e emoções por meio de palavras.
Também é importante considerar o contexto do ambiente para entender o que está acontecendo. É um ambiente novo? É um ambiente em que vocês já estiveram antes? Como foi a experiência da pessoa na última vez que estive lá? Essas perguntas podem fornecer pistas e orientações para ajudá-lo a apoiar a pessoa em crise.
Às vezes, um ambiente provoca sentimentos de ansiedade por sua imprevisibilidade e excesso de estímulos sensoriais. Mas também pode ser o contrário. Existem situações em que a pessoa pode estar esperando e buscando por estimulação sensorial do ambiente, e tudo estar “parado demais” pode ser o motivo para uma desregulação emocional.
Portanto, é importante observar o comportamento do indivíduo no contexto do ambiente para ter pistas sobre o que ele está vivenciando. Dessa forma, é possível procurar maneiras de melhorar o contexto para aquele momento em específico. 1
Antes de ser capaz de se autorregular, é importante que haja uma compreensão básica das emoções. A criança não deve apenas ser capaz de identificar emoções, mas também identificar como a emoção se parece e como se sente. Por exemplo, o que faz uma pessoa feliz? O que a deixa ansiosa?
Colocar a identificação em primeiro lugar ajuda a construir a autoconsciência emocional, tornando mais fácil entender como gerenciar a superestimulação ou a sub estimulação no ambiente. Se você não tiver certeza por onde começar a ensinar seu ente querido a identificar e entender suas emoções, peça orientação aos profissionais especializados, como os terapeutas, por exemplo. 1
Alguns autistas sentem-se sobrecarregados com o excesso de estímulos sensoriais, o que significa que se acalmam afastando-se de sons, cheiros, luzes e outros estímulos. Outros regulam suas emoções buscando mais informações sensoriais do ambiente. Por exemplo, eles podem fazer barulhos altos, balançar para frente e para trás ou ter momentos de agitação.
Mas nem todo autista busca ou evita os estímulos sensoriais o tempo todo. Esses comportamentos de regulação emocional podem ser baseados em muitas coisas, incluindo sair da rotina, passar por alguma quebra de expectativa, experiências anteriores relacionadas ao contexto e outros fatores físicos e emocionais. Realmente depende da pessoa e situação. 1
Frequentemente, as pessoas neurotípicas podem se equivocar sobre os comportamentos de autorregulação que podem ser demonstrados por estereotipias ou isolamento, o que causa o sentimento de falta de compreensão e aceitação real. Lidar com o julgamento de quem está em volta pode somar ainda mais emoções negativas para o momento de crise, então comece eliminando os olhares tortos.
Muitas vezes, grande parte do desafio da regulação emocional para o autista é encontrar um lugar para poder fazê-lo, já que esses comportamentos podem chamar atenção e atrair perguntas e comentários indesejados. Portanto, para dar apoio ao autista, muitas vezes, você apenas precisa oferecer compreensão e aceitação naquele momento. Não faça muitas perguntas e comentários, apenas permita que a pessoa se acalme da maneira que se sinta mais confortável. 1
Ainda que não seja um termo muito usado no dia a dia, falar sobre ruminação da raiva tem tudo a ver com o tema regulação emocional. Muitas vezes, o cuidador, educador ou terapeuta vai se deparar com um comportamento desafiador como uma crise de choro, raiva ou agressividade enquanto presta apoio a uma pessoa com transtorno do espectro do autismo (TEA). O incidente pode até parecer ter surgido do nada, mas provavelmente houve um gatilho que você não percebeu, que pode ser ruminação de raiva. 2
A ruminação da raiva é um processo cognitivo-emocional que se refere à tendência de insistir em experiências frustrantes e relembrar experiências passadas que causaram raiva. De maneira geral, a ruminação é uma forma inadequada de processamento de emoções que envolve permanecer focado no estressor por meio de repetição passiva sobre angústia, como fixar-se em erros passados, arrependimentos e falhas.
A ruminação pode comprometer o uso de estratégias de controle cognitivo como a reavaliação (ser capaz de avaliar algo ou alguém novamente ou de forma diferente) e resolução de problemas devido ao prolongamento do sofrimento emocional.
A ruminação de raiva pode esgotar os recursos de autorregulação, levando à redução da inibição comportamental. A ansiedade social também pode levar à ruminação da raiva, que por sua vez pode levar à hostilidade ou explosões de raiva.
A ruminação da raiva está de fato associada a um funcionamento menos eficaz da regulação emocional e comportamental geral. A ruminação também pode ser um fator em outras formas de comportamento desafiador, como irritabilidade e agressividade. 2
Pensamentos repetitivos em emoções negativas podem fazer uma pessoa ficar “presa” e constantemente desregulada. Essa fixação também pode ser chamada de perseveração. Pensamentos perseverantes acontecem porque a pessoa pode não conseguir parar de pensar em certas coisas ou não conseguir controlar comportamentos.
Isso pode se manifestar das seguintes formas: 2
Se esse é um problema que pode impedir o autista de se autorregular emocionalmente, é necessário pensar em estratégias para romper os ciclos da ruminação da raiva. Veja algumas dicas:
Desenvolver estratégias para melhorar a regulação emocional é possível! E com certeza pode ser muito mais fácil fazer isso com apoio profissional. Procure, sempre que possível, apoio com profissionais da área. A psicoterapia é uma ótima ferramenta para isso.
Por hoje é só, leitor! Se você gostou do texto, envie para outra pessoa que também pode tirar bom proveito dessas informações.
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O texto que você acabou de ler foi inspirado e adaptado dos textos “Expert Q&A: Understanding emotional regulation in autism” publicado no portal Autism Speaks (1) e “What is anger rumination and how does it affect individuals with ASD?” do site Autism Awareness Centre (2).
“O Autismo em Dia não se responsabiliza pelo conteúdo, opiniões e comentários dos frequentadores do portal. O Autismo em Dia repudia qualquer forma de manifestação com conteúdo discriminatório ou preconceituoso.”
achei muito bom o conteudo, minha psicologa disse que tenho traços de autismo ,e me encaixo em muitas coisas que li
Quero agradecer pelo artigo. Tenho suspeita de autismo (minha psicológa diz que, agora, aos 33 anos, não é necessário buscar laudo, só ver e tratar de fato o que de fato me afeta, os sintomas de algo que eventualmente seja o autismo ou não). O artigo muito colaborou para melhor compreender e lidar com. Abraço.
Olá, Antoine! A confirmação do diagnóstico pode ser muito benéfica para o autoconhecimento e até para garantir os direitos reservados às pesoas autistas. Mas é claro que fica a seu critério procurar por isso ou não. Caso deseje, indicamos buscar atendimento com um neurologista especializado em autismo para investigação.
Um abraço! 💙
sou autista moderado com diagnóstico tardio aos 41 anos tenho diagnóstico a menos de 15 dias, e fui duramente criticada por uma mãe de autista nível 3 com diagnóstico aos 12 anos hj a filha dela tem 18, entrei em crise depois dessa crítica dela e acusações que menti meu histórico pra ter laudo que me admirava até eu fazer isso, o que eu quero com isso, que Deus cobre de mim etc estou muito mal não paro de pensar nisso, não menti meu histórico, fiz teste sinceros não menti em nada e ela disse que eu obriguei os médicos a me lauda assim 💔😭. odeio mentiras ser acusada dessa forma me destruiu.
Sentimos muito que tenha passado por isso, Griselle. Esperamos que consiga melhorar logo. É sempre uma boa ideia procurar atendimento psicológico para lidar com essas emoções. Um abraço. 💙
Sou Professora e todas as informações que eu li foram muito esclarecedoras e com certeza irão me ajudar em minha pratica pedagógica. Abraço.
💙
Sempre tive muita paixão e habilidade para perceber o diferente. Sou professora e além de me qualificar,estou sempre atenta às inovações, aos artigos lançados, às novidades sobre pessoas atípicas. Ótimas informações!
Gostei muito!
sou professora e tenho alunos com TEA e tudo que li aqui me ajudou muito.
Olá! Há vários anos vivo uma saga de médico em médico e nem eu e ninguém havia suspeitado de TEA. Depois da pandemia tive uma piora brusca em todos os sentidos. Foi quando resolvi procurar avaliação psicológica e resolvi fazer os testes com a neuropsicóloga. Tenho 45 anos e recentemente no final de novembro 2023 recebi laudo de autismo moderado e TDAH da neuropsicologa após várias sessões de testes/ entrevista. Fui orientada a procurar um psiquiatra ou neurologista para confirmar meu diagnóstico. Passei por um psiquiatra que após 2 consultas me disse que não tenho TDAH e e sim Síndrome de Asperger. Gostaria de indicação de um neurologista para uma segunda opinião. Preciso muito desta confirmação para seguir um tratamento mais direcionado. Fiquei muito confusa com essas divergências. Se alguém puder me indicar profissionais em MG.
Olá, Elizabete. Torcendo para que lodo a divergência se resolva e para que encontre o profissional em MG. Um abraço!
tenho uma neta com 6 anos autista, não verbal e uma criança dócil, mas as vezes entra em crises, grita chora e difícil de lidar, os pais se esforçam pra dar o melhor acompanhamento, na minha casa e um lugar onde ela consegue ficar calma por mais tempo, tem sértos ambientes que ela não quer nem entra, e gosta muito de telas oque acho que é prejudicial. será ou não?
Olá, Neiva. Depende, muito tempo de tela pode ser prejudicial sim, mas existem até aplicativos direcionados para autistas que podem ajudar na rotina e no dia a dia. Precisa ver quanto tempo do dia ela fica e com qual finalidade. Um abraço!
minha filha de 6 anos autista nivel 1 de suporte tem essa ruminação de raiva na escola, quando a professora exerce autoridade ou precisa passar para outra atividade que requer escrita ou ate mesmo leitura de um livro em grupo, ela tem corrido e gritado na sala de aula, aberto a porta e sai correndo. Nesses ultimos 15 dias tem sido mais intensos. ainda ano começou com a terapia, mas o artigo deu nome que precisava para poder estudar e ajudar na escola , pois em casa ela nao tido esse tipo de comportamento,
Olá, Carol. Entendo a sua preocupação. A transição para novas atividades pode ser especialmente desafiadora para crianças autistas. É ótimo saber que o artigo te ajudou a entender melhor a situação. A terapia será uma ferramenta valiosa para ela, e também é importante trabalhar junto à escola para criar estratégias de apoio adequadas. Um abraço!
Achei muito interessante e produtivo este artigo, vou repassar aos professores do Atendimento Educacional Especializado (AEE) de Atibaia – SP
💙
O que fazer quando a criança tem muito tempo com essa ruminação de raiva doutora, pois tenho um sobrinho que está a meses tendo crises onde ele quer todo dia se agredir, ele só não o faz pq não deixamos. Os remédios parecem não surtir efeito para acalma-ló. Como devemos proceder ?
Oi! Imagino o quanto isso deve ser difícil para a família. É importante continuar acompanhando com o médico para ajustar a medicação, se necessário, e buscar também o apoio de um psicólogo ou terapeuta comportamental para ajudar a entender as causas dessas crises. Criar uma rotina de atividades que promovam calma e relaxamento pode ser útil. Vocês estão fazendo o melhor ao proteger e apoiar seu sobrinho!