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Postado por Autismo em Dia em 04/nov/2020 - 11 Comentários
Cercado de muitas opiniões, contrárias e a favor, o presidente Jair Bolsonaro assinou, no dia 30 de setembro de 2020, um decreto que institui uma nova política de inclusão escolar para alunos com necessidades especiais. O decreto 10.502 tem a intenção de que estados e municípios – com o apoio logístico e financeiro da União – garantam a educação especializada para alunos com deficiências, transtornos de desenvolvimento – como o autismo – e superdotação.
Por enquanto, ainda não tomamos conhecimento de nenhuma ação efetiva que tenha partido do que foi definido no projeto. Por isso, convidamos alguns entrevistados para dizerem o que pensam sobre os possíveis impactos de um projeto dessa grandeza. Diferentes pontos de vista do assunto são trazidos por familiares e pessoas diretamente envolvidas durante anos com autistas.
Mas, antes de prosseguir, nós pedimos a sua colaboração como leitor. Nós registramos e reproduzimos as análises a seguir com total foco nos impactos para alunos autistas. Queremos muito que, ao final, você também deixe um comentário expressando a sua opinião. Porém, sem a intenção de ofender ou ridicularizar as pessoas que, gentilmente, colaboraram com o material.
Índice
Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida. Preste bem atenção nesse nome, afinal, é uma tentativa de resumir o que as pessoas devem esperar do projeto. Na prática, nenhuma diretriz do decreto torna obrigatória a participação dos estados e municípios. Como o próprio texto do projeto diz, a adesão é voluntária (capítulo IX, artigo 13). Porém, os governantes que quiserem submeter projetos dentro das normas do decreto, podem contar com “apoio técnico e financeiro” da União para viabilizar a iniciativa (capítulo VII, artigo 9º).
Essas melhorias na educação especial podem ser das seguintes naturezas:
O projeto visa contemplar todas as formas de necessidades definidas nas leis 13.146/2015 (sobre pessoas com deficiência) e 12.764/2012 (que fala das pessoas autistas).
Quando a notícia da assinatura do projeto pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, foi divulgada, gerou muitos compartilhamentos e comentários negativos. Em grupos e páginas defensoras dos direitos dos autistas, a linha de pensamento mais comum era de que isso representava um passo atrás de tudo que vem sendo conquistado, até então.
As partes que mais chamaram atenção foram as que dizem sobre criação de turmas e escolas especializadas. Essas medidas, de acordo com as pessoas e veículos de imprensa que se posicionaram contra, excluem o autista da socialização com as pessoas neurotípicas. Entretanto, isso pode se tornar um tópico discutível, afinal, a luta por igualdade e política de inclusão justa também passa por cobrar oportunidades iguais. E o decreto prevê, ao menos em suas ideias, que os projetos tenham isso como objetivo.
Além disso, a não obrigatoriedade das cidades de elaborarem algo dentro dessas normas pode fazer com que o projeto nunca saia do papel. Principalmente em locais onde há pouco incentivo à educação especial.
Por isso, convidamos algumas pessoas que há muito tempo estão envolvidas com o autismo para dizerem o que pensam sobre o decreto. Quais são as partes fortes? O que pode melhorar? É um projeto viável ou um sonho distante? Confira o que as nossas entrevistadas disseram:
Márcia Regina Laurindo é alguém que está dos dois lados. É professora da rede pública do Paraná e mãe do Nátan, que é autista severo. Para ela, o projeto não é muito diferente do que já existe em algumas escolas públicas, mas ele depende de corrigir algumas falhas.
“Já temos em algumas escolas as classes especiais e as salas de recursos. Eu acredito que isso funcione. O que eu não acho que funciona é o tipo de inclusão que eles fazem. Às vezes tentam colocar alunos com dificuldades severas numa sala regular. E, muitas vezes, colocam uma pessoa sem capacitação. O professor não sabia braile e tinha que ensinar um deficiente visual, por exemplo. O professor ficava lá mais como uma babá do que como educador. Essa é a inclusão que não funciona. Acredito que a inclusão assistida, adaptada ao grau de cada autista, pode funcionar. O de grau leve, por exemplo, é um que numa sala regular poderá se desenvolver.
Além da falta de profissionais, eu também vejo que muitos lugares não tem nem mesmo uma estrutura física para atender esses alunos. Não tem rampa, o banheiro não é adaptado, não tem fraldário, entre outras coisas”, diz Márcia.
A jornalista carioca Andréa Bussade, que já foi destaque aqui no site, tem se tornado conhecida por estar à frente de muitas lutas pró-autismo no Rio de Janeiro. Além disso, Andréa é mãe do Gabriel, de 20 anos, que também tem grau severo de autismo.
“As escolas especiais são muito importantes como centro de apoio, mas não devem levar o rótulo de ‘escolas especiais’“, diz Andréa. “Assim como saúde é saúde, escola é escola. Os alunos precisam ser devidamente assistidos. Precisa melhorar o investimento urgente! Precisa ter tratamento e terapia nos contraturnos. Assim eles serão tratados dignamente. Mas para isso tem que ter muito investimento tanto em educação como em saúde. Mas não sei se vamos conseguir isso enquanto a prioridade for a economia em vez do social.”
Quanto à parte que se refere aos surdos e cegos, ela elogia: “Temos que respeitar as conquistas deles, pois eles reivindicam isso há muito tempo. Imagina se todas as nossas crianças aprendessem libras já no infantil?”
Fonte: Arquivo pessoal cedido por Tamara Resi
A Relações Públicas Tamara, de Curitiba, enxerga que propostas como essas formam um ‘mundo ideal’.
“Educação de qualidade para todas as pessoas, de forma que elas troquem experiências e se desenvolvam mutuamente, que o mundo não seja preto e branco, onde os deficientes sejam marginalizados, que não sejam separados entre quem pode e quem não pode… quem consegue e quem não consegue. É muito bonito. Mas é preciso fazer com que isso funcione. A gente sabe que, hoje, a realidade da maior parte dos municípios é só colocar a criança lá e torcer para que ela se adapte. E isso não funciona.
Nós temos que levar em conta o grau de necessidade e dependência de cada autista. Muitos têm comorbidades e têm dificuldade de estar num ambiente padrão. Meu irmão não fica sentado, não faz a própria higiene, não come sozinho, não tem noção do perigo. Como vamos colocar ele numa sala de aula comum? Então, antes de pensar em alfabetizá-lo, por exemplo, temos que pensar em dar autonomia nas questões mais básicas. Acho que para autistas com muita dependência a escola especial é um caminho interessante, principalmente se ela oferecer além da educação básica, terapias de apoio, fundamentais para o desenvolvimento desses autistas”
Ela explica, ainda, que não é questão de ter inclusão ou escola especial. As duas coisas precisam existir ao mesmo tempo. “Temos que colocar o autista no ambiente que mais ajude o desenvolvimento. Mas o movimento de polarização político vem dificultando esse diálogo para uma boa política de inclusão”, completa.
Clélia, que é uma das fundadoras da AMADAS, associação pró-autismo em Bragança Paulista, SP, Clélia entende que o decreto tem um lado bom e um ruim. “Acredito que isso pode melhorar o investimento em escolas especiais. Mas eles também precisam pensar lá na frente. Adolescentes e jovens autistas precisam de continuidade na educação. Atualmente, as poucas escolas que eu conheço que fazem ensino especial funcionam, no máximo, até o 4º ano. Tem que ajudá-los a chegar depois na universidade e no mercado de trabalho”, conta.
“O que vejo de negativo é que vai dificultar ainda mais para os pais conseguirem a inclusão na escola regular. Se vão ter profissionais na escola especial, as escolas não vão querer contratar gente especializada. Sendo que muitas pessoas com deficiência tem capacidade de frequentar a escola regular. Mas, claro, precisam de apoio. O decreto tem que ser estudado para não prejudicar autistas de alto funcionamento. Ou então os pais vão se sentir na obrigação de transferir seus filhos. Hoje já temos dificuldade de matricular nossos filhos nas escolas. Falam para nós, pais, de uma forma que dá a entender que nossos filhos não são bem-vindos. Mas vamos acompanhando, acredito que muitas pessoas vão ter a sensibilidade de criar essas escolas”, conclui.
Clélia ainda afirma que percebe que a maioria das mães têm o desejo de colocar seus filhos numa escola especial.
E você, o que pensa sobre a nova política de inclusão e melhorias escolares? Queremos muito saber a sua opinião. Deixa um comentário aqui em baixo e converse com a gente. =) E se você gostou deste conteúdo, siga as nossas redes sociais Instagram e Facebook para ter em primeira mão tudo que sai aqui no site. E tem sempre coisa muito boa e verificada por profissionais.
Até a próxima!
“O Autismo em Dia não se responsabiliza pelo conteúdo, opiniões e comentários dos frequentadores do portal. O Autismo em Dia repudia qualquer forma de manifestação com conteúdo discriminatório ou preconceituoso.”
Parabéns pela matéria. Acho de extrema importância a existência das escolas especializadas. Elas proporcionam desenvolvimento para muitas pessoas que necessitam do seu serviço.
Oi Viviani, obrigada pelo comentário, nos motiva muito a seguir produzindo conteúdo ?
Meu filho vai fazer 4 anos e autista não verbal .teria q colocar ele no pré escola mais estou com muito dúvida ele está muito atrasado.pensei em colocar ele numa escola especial pelo menos até ele se comunicar , na minha opinião iria ajudar ele .o q acham?
Oi Raquel, procure um profissional para fazer avaliação psicopedagógica, (geralmente um psicólogo, pedagogo ou psicopedagogo especialsta em TEA). Só um profissional pode responder a sua pergunta corretamente!
Vejo a nova politica de forma preocupante. A educação inclusiva nas escolas vem.avancando.Temos que continuar estimulando a convivência de todos e o respeito as diferenças. Precisamos sim de investimento em formações e recursos para q os profissionais possam atender com qualidade.A segregação seria nesse momento um retrocesso.
Segregar nunca é a solução, não é? É preciso atenção individualizada, de qualidade e de inclusão!
Obrigada pela contribuição. Um abraço!
Eu, como recém descoberta parte do espectro e também mãe de autista, acho que novas leis são válidas desde
que colocadas em prática, as já existentes não são implantadas, se não “corrermos atrás” o direito não se cumpre, meu filho por exemplo é incluso, em escola padrão já habituada
às crianças no espectro porém não de maneira efetiva, não há por exemplo um profissional na sala que acompanhe as crianças como previsto em lei, há uma economia na contratação de profissionais e um “acordo de cavalheiros” onde são divididos 1 aluno com necessidade especial por sala, novas leis são interessantes, mas não adianta só existirem, tem que ser efetivas e executadas, assim como faltam também pessoal especializado, investimento em especialização e fiscalização desse pessoal se faz urgentemente necessária.
Perfeita colocação Karen, não adianta ficarmos discutindo o que e como melhorar, sendo que nem mesmo o básico que já está na lei é aplicado não é mesmo? É preciso lutar para que as conquistas saiam do papel e cheguem até a prática!
Um abraço!
A importância de termos na rede pública um suporte pro atendimento do espectro é de suma importância. Sou professora e mãe de um menino de 4anos sendo avaliado dentro do espectro e com pedido de muitas fisioterapia e com equipe multidisciplinar. Esse atendimento está sendo muito difícil de encontrar. As clínicas não possuem todos os profissionais pedidos. Estou buscando informações para preparar a minha família pra essa interação. Materiais, ambiente como deve ficar. Adaptação pra faixa etária. Estou buscando muito.
Sou extremamente apaixonada por este site pelos recurso baseados em evidencias. Amo
Ficamos muito felizes com seu comentário, Maria! Muito obrigado. 💙