Musicoterapia e autismo: tudo sobre o tratamento


musicoterapia e autismo

Postado por Autismo em Dia em 02/jun/2021 - 28 Comentários

Você já ouviu falar sobre a musicoterapia e sua importância para o tratamento de pessoas com TEA? Apesar de não ser tão popular quanto as terapias tradicionais, como a psicologia, terapia ocupacional e a fonoaudiologia, por exemplo, a musicoterapia tem um papel muito importante para ajudar o autista em diversas áreas, como na interação social, na comunicação verbal e não verbal, dentre outras.

“A musicoterapia objetiva desenvolver potenciais e restabelecer as funções do indivíduo para que ele/ela possa alcançar uma melhor integração intra e interpessoal e, consequentemente, uma melhor qualidade de vida. – Federação Mundial de Musicoterapia.1

Continue a leitura e saiba tudo sobre a musicoterapia no tratamento do autismo.

Índice

O que é musicoterapia

A musicoterapia é uma especialidade que mistura arte, saúde e neurociência para tratar clinicamente pacientes com os mais diversos desafios.

O processo terapêutico busca facilitar áreas como a comunicação, a expressão, o aprendizado e a organização. Ela pode ser aplicada nos mais diversos casos, como para promover a saúde, reabilitar o paciente, retardar e prevenir o agravamento de condições neurológicas degenerativas, promover o bem estar e a qualidade de vida, etc.

Existem diversos tipos de abordagens dentro da musicoterapia, por isso, até mesmo pacientes que tenham um grau alto de comprometimento cognitivo e/ou motor, sendo incapazes de participar ativamente na atividade musical, podem se beneficiar da musicoterapia. As sessões podem ser individuais ou em grupo, e cada tipo tem o seu beneficio.

Musicoterapia e autismo: história

Os primeiros registros de musicoterapeutas aplicando suas técnicas para beneficiar pessoas com TEA é de 1940, ou seja, desde que se sabe que a musicoterapia existe na história da humanidade. Na década de 1950, foram fundadas duas importantes associações que auxiliaram na sistematização e difusão da prática clinica da Musicoterapia aplicada a pessoas com autismo: a National Association of Music Therapy (NAMT), nos EUA, e a British Society of Music Therapy, no Reino Unido.

Desde aquela época, apesar de ainda não existirem estudos suficientes para comprovarem os benefícios (o que hoje já é apoiado pela ciência), os profissionais aplicavam a musicoterapia individual ou em grupos a fim de beneficiar os autistas na autoexpressão, socialização, reabilitação, melhoras fisiológicas e recreação.3

Quais profissionais podem atuar na área

TEA músicas

Fonte: Envato – bluejeanimages

O profissional qualificado para atuar como musicoterapeuta precisa ser formado em Musicoterapia, que é um curso do ensino superior com titulação de bacharelado e combina as disciplinas do curso de música e do campo da neurociência.

Também existe a possibilidade de outros profissionais já formados poderem fazer uma pós-graduação em musicoterapia, que é destinada principalmente aos graduados nas áreas de saúde e música.2

Musicoterapia e autismo: avaliação inicial

Antes de mais nada, o profissional realiza uma entrevista inicial com o autista e seus responsáveis para que possa coletar algumas informações importantes. A princípio, o profissional busca entender os seguintes aspectos:

  • Dificuldades do paciente a serem melhoradas com o tratamento.
  • Qual a relação da pessoa com a música e como ela consegue participar do processo musicoterapêutico (se ativamente ou passivamente).
  • A história de vida da pessoa com TEA.

Musicoterapia e autismo: tipos de intervenções

Anteriormente, falamos sobre a diversidade das abordagens da musicoterapia no tratamento do TEA. Não existe regra, ou seja, o profissional pode escolher uma ou mais formas de aplicar a terapia em seus pacientes.

Vamos descobrir as principais? Confira abaixo.

Musicoterapia Improvisacional

É de fato a abordagem que mais foi estudada e utilizada quanto aos tratamentos das pessoas com TEA. Como o próprio nome diz, utiliza da improvisação musical como foco da intervenção clínica.

A atividade musical acontece através da expressão livre da voz, instrumentos musicais e até mesmo movimentos corporais. Ao incentivar a participação do autista na improvisação, o terapeuta estimula a criatividade e até mesmo o raciocínio lógico, utilizado para a combinação de sons.

A improvisação por sua vez se subdivide em algumas categorias, sendo as principais a improvisação dirigida e a livre improvisação. Na dirigida, o musicoterapeuta orienta sobre quais instrumentos, notas e e ritmos utilizar. Já na livre, o paciente escolhe os elementos conforme desejar.3

Musicoterapia Orff

Apesar de não ser aplicada no Brasil com tanta frequência, é uma abordagem muito importante quando se fala em transtornos do desenvolvimento, categoria em que o autismo se enquadra.

Desenvolvida por Gertrud Orff na Alemanha, essa abordagem que tem, antes de mais nada, forte influência da Psicologia do Desenvolvimento, visa beneficiar especificamente pessoas com transtornos do desenvolvimento, atrasos e deficiências intelectuais.

Nesse tipo de musicoterapia, pode-se trabalhar o desenvolvimento socioemocional, auditivo, da linguagem e motor. As práticas musicais são variadas e levam em consideração principalmente as necessidades individuais de cada autista.

O terapeuta que utiliza essa prática é capacitado para aceitar as ideias e iniciativas do autista, além de interagir com ele no seu nível.3

Modelo Campo do Tocar

Criada pela canadense Carolyn Kenny, esta é certamente uma das abordagens mais interessantes dentro da musicoterapia. Kenny utilizou informações coletadas durante suas vivências musicais em rituais xamãs junto às tribos Navarro, na América do Norte para relacionar os fenômenos que ocorrem nessas práticas aos fenômenos da musicoterapia.

O resultado desses estudos deu origem a sua abordagem que se baseia nas relações entre a música e a cura, vindas das sociedades indígenas tradicionais.3

Musicoterapia Neurológica

autista tocando violão

Fonte: Envato – halfpoint

Apesar de ser um tipo de abordagem como as do tópico anterior, a Musicoterapia Neurológica pede um tópico exclusivo e mais completo, por existirem diversas técnicas específicas e relevantes para o tratamento da pessoa com TEA.

Em resumo, é a intervenção musicoterapêutica utilizada para tratar disfunções cognitivas, sensoriais e motoras. Baseia-se no estímulo cerebral proporcionado pela percepção e criação musical e seu papel sobre as funções e comportamentos não musicais. Vamos entender com mais detalhes as diferentes técnicas dessa abordagem?

Treinamento da Percepção Auditiva

É aplicada para melhorar a habilidade da fala a partir da diferenciação dos sons. A técnica melhora a capacidade de reconhecer fonemas e beneficia a linguagem verbal.

Treinamento do Controle da Atenção Musical

Trabalha as habilidade de memória, voltada principalmente para o desenvolvimento da capacidade de atenção do autista. A técnica utiliza de atividades físicas baseadas na música e na relação da canção com o instrumento musical.

Estimulação Rítmica Auditiva

Usa ritmos marcantes e regulares a fim de melhorar as funções motoras, como as habilidades manuais ou do andar, por exemplo. De fato, a técnica proporciona melhoras significativas em pessoas que têm comprometimento nessas áreas.

Terapia de Entonação Vocal

Utiliza dos exercícios vocais para treinar todos os aspectos do controle da voz, como o tom e o controle da respiração, por exemplo. O objetivo é, em suma, auxiliar o autista verbal a ter um melhor desempenho da fala.

Melhora Sensorial Modelada

Auxilia a pessoa com TEA a aumentar a com a regulação sensorial, força física, resistência, postura, equilíbrio e controle motor através de movimentos e exercícios realizados durante as práticas musicais.

Execução Musical Instrumental Terapêutica

O terapeuta seleciona instrumentos musicais apropriados para melhorar a funcionalidade dos movimentos corporais e manuais, a resistência, a força e a coordenação dos membros.

Musicoterapia para estabelecer limites

Envolver a pessoa com TEA nas práticas terapêuticas musicais facilita o entendimento de que as coisas têm começo, meio e fim. O aprendizado dos limites é ensinado pelo terapeuta ao dar espaço para que o autista participe da improvisação, mas respeite o momento do terapeuta realizar as práticas musicais sozinho. Além disso, entender a dinâmica de que há momentos em que há o uso da voz e outros em se deve apenas tocar os instrumentos também colabora para esse entendimento. 3

Musicoterapia para melhorar a comunicação e interação

Este é, certamente, um dos maiores motivos que levam os autistas, pais ou cuidadores a buscarem por um musicoterapeuta. Além disso, é também uma das metas quase sempre estabelecidas pelos profissionais. Por incentivarem a a atenção e a imitação, que são os pilares da comunicação e interação, a musicoterapia de fato pode ajudar e muito nessas áreas em específico.

Mais sobre a relação do autista com a música

autismo e musicoterapia

Fonte: Envato – AnnaStills

Então, se você convive com algum autista, provavelmente já notou que eles têm uma relação muito especial com a música. É claro, isso não é uma regra. Podem existir autistas que não ligam tanto assim para isso, mas a verdade é que grande parte deles se conecta com as músicas de uma forma bastante intima.

Para muitos dos autistas, as partes mais empolgantes dos filmes, desenhos e outros tipos de entretenimentos, certamente são as peças musicais. Você já se perguntou o porquê de isso acontecer?
A verdade é que existem diversos fatores que influenciam na percepção musical do autista. Dentre esses fatores, se destaca a própria estrutura cerebral. Alguns estudos já demonstraram diferenças entre o cérebro de autistas quando comparados ao cérebro de pessoas neurotípicas, dentre essas diferenças estão a estrutura mais imatura e menos “organizada”, quando considerados os padrões de arquitetura cerebral.

É possível que, em alguns casos, a região cerebral associada a percepção musical se sobreponha, o que leva o autista a ter maior apreciação pelas melodias, ritmos e harmonias.
Além disso, as músicas costumam ter um padrão rítmico que se repete, e nós já sabemos como o comportamento repetitivo se destaca em muitos dos autistas, o que, certamente, também favorece a relação do autista com a música.4

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Este foi o nosso artigo sobre musicoterapia e autismo. Você gostou? Então não se esqueça de deixar um comentário com a sua opinião e nos acompanhar nas redes sociais Instagram e Facebook.

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Referências e datas de acesso:

1- TJTFD – Acesso em 06/05/2021.

2- Guia da Carreira – Acesso em 06/05/2021.

3- GATTINO, Gustavo Schultz. Musicoterapia e Autismo: teoria e prática. São Paulo: Memnon, 2015.

4- Neurociências em Debate – Acesso em 05/02/2021.

“O Autismo em Dia não se responsabiliza pelo conteúdo, opiniões e comentários dos frequentadores do portal. O Autismo em Dia repudia qualquer forma de manifestação com conteúdo discriminatório ou preconceituoso.”

28 respostas para “Musicoterapia e autismo: tudo sobre o tratamento”

  1. JONES BASILIO NASCIMENTO disse:

    Gostei.
    Muito bem explicado, estou buscando conhecimento nessa área, fazendo pós graduação em musicoterapia. Estou me aprofundando para fazer meu TCC.

  2. Maria Regina de Jesus Pereira disse:

    Eu amei . Estou fazendo pós nessa área

  3. felipe yung disse:

    Ola, sempre fui fã de musicoterapia…
    quais os lugares que se pode obter esses tratamentos para TEA em são paulo? alguma dica?

  4. Edileny Medeiros Cavalcante Soares disse:

    Estou fazendo uma Pós em Autismo e a Musicoterapia foi solicitada pelo professor para apresentarmos como outras terapias, além das terapias já amplamente conhecidas.

  5. Hosana J. de Oliveira disse:

    Parabéns!
    Informações muito preciosas.
    Que tenha muito sucesso e com certeza, me ajudou e ajudará mais pessoas!

  6. Juciene Martins de Matos disse:

    Muito rica as informações. parabéns! me ajudou bastante. sou Psicopedagoga e trabalho com crianças com deficiência,entre elas autistas. percebo que a musicoterapia é um caminho amplo para ajudar no desenvolvimento desses sujeitos.

  7. Maria do Carmo Andrade da Corte disse:

    Quero ver se a musicoterapia é bom para meu neto,autista de 9 anos e ainda não fala.Percebo que ele gosta de música,sempre brinco com ele cantando e noto que ele se interessa.Gostatia de fazer um teste com ele,para ver se se interessa.É possível?

    • Autismo em Dia disse:

      Olá, Maria! Indicamos procurar um musicoterapeuta na sua região para que ele possa ter essa experiência. 💙

  8. Bruno disse:

    conteúdo riquíssimo. parabéns. sou musicoterapeuta trabalho bastante com instrumentos e percebo que eles não gostam muito de sons agudos. saber disso me ajudou muito.

  9. Eulalia Silva. disse:

    PARABÉNS A EQUIPE DA PRODUÇÃO DO DOCUMENTÁRIO! É DE GRANDE AJUDA PARA MELHOR ENTENDIMENTO SOBRE O AUTISMO. COMO MÚSICO CANTORA FICO ENCANTADA EM SABER QUE POSSO ACRESCENTAR MAIS ATIVIDADES, E FAZER A DIFERENÇA NA ÁRIA DO CANTO UTILIZANDO A TÉCNICA VOCAL!

  10. PAULO PARAGUASSÚ disse:

    Gostei muito desse texto e de muito fácil acesso. Obrigado.

  11. Eliana Alvim de Araujo disse:

    Mesmo sem noção do diagnóstico, que só descobrir a pouco tempo, meu filho está com 23 anos. Sempre coloquei música na vida dele. E minha surpresa foi descobrir que ele tem autas habilidades voltadas para a música. Dá aulas de Piano e Teclado online.

  12. Rosangela disse:

    Gostei muito. Gostaria de uma indicação dessa terapia na minha cidade, Olinda Pernambuco. Alguém poderia indicar?
    Gratidão!

  13. Maira Cristina Fensterseifer disse:

    Indicaria um curso de especialização em musicoterapia?

    • Juliana Canavese disse:

      Olá, Maíra. Não temos conhecimento de um curso em um lugar específico, teria que pesquisar no google. 💙

  14. Henrique disse:

    excelente trabalho!

  15. Janete Lopes disse:

    gostei muito do artigo simplesmente maravilhoso

  16. ITATIANE AMARAL DE MELO disse:

    gostaria de mais orientações pra mim debater meu conhecimento nesse tema
    e como fazer uma boa defesa

  17. Jacqueline Gonçalves dos santos couto disse:

    olá, estou fazendo pós graduação e agora vou fazer o TCC. gostei da matéria

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