Categorias
Posts Recentes
Postado por Autismo em Dia em 06/jan/2022 - 16 Comentários
Muitas pessoas, tenham elas algum transtorno mental ou não, experimentam algum tipo de relação de grande interesse por algum assunto. Algumas pessoas, por exemplo, sabem tudo de carros, enquanto outras já assistiram todos os filmes antigos possíveis. Mas o que, afinal, diferencia um interesse em um tema do que, no autismo, chamamos de hiperfoco?
Esse é um tema que, na superfície, parece algo simples de definir. Porém, o hiperfoco é algo com predominância entre pessoas no espectro autista, indivíduos com déficit de atenção, assim como os esquizofrênicos. E os motivos para essa incidência nós explicamos, então, a seguir. ¹
Índice
O hiperfoco é um fenômeno da absorção total de uma pessoa na prática de alguma tarefa ou atividade. No hiperfoco, o indivíduo desliga ou parece desligar sua mente para tudo que está ao redor. Por exemplo, se uma criança ou adolescente fica tão ligado em um jogo ou em um filme que sequer atenta o ouvido para ouvir os pais chamando. Em geral, o hiperfoco é em uma atividade que dá prazer e diverte a pessoa em questão. Por isso ele é tão poderoso. ¹
Pessoas neurotípicas podem, sem dúvida, relatar algo muito parecido com o hiperfoco. Afinal, todos temos os nossos interesses e prazeres. No entanto, isso acontece muito mais em pessoas com algum tipo de transtorno mental. Como citamos anteriormente, ainda mais no autismo, TDAH e esquizofrenia. Isto porque são transtornos que impõem consequências nas habilidades de atenção – que ora parecem estar no seu máximo e oras parecem nem existir. ¹
O hiperfoco em si é, em resumo, muito mais um estado mental do que uma condição. Eles surgem a partir de interesses e, conforme o autista se coloca ou é colocado em contato com aquilo, mais vezes ele pode entrar no estado de hiperfoco. É neste estado que o autista dá o seu melhor na tarefa. Não é à toa que esse interesses costumam ser bem vistos e bem trabalhados pelos pais, pois costumam apontar para habilidades úteis, calmantes e até profissionais. ¹
Como tantas características do autismo, pais, professores e todos os envolvidos com frequência se perguntam até que ponto algo assim é bom ou ruim. Vejamos, então, duas perspectivas: a dos benefícios e a dos possíveis prejuízos.
Os benefícios são fáceis de identificar, principalmente se for uma atividade construtiva. Os interesses do autista podem, por exemplo, servir de ferramenta para fazê-lo ter interesse em processos de aprendizagem. O que é, sem dúvida, um desafio para professores e pais que, tantas vezes, enfrentam a resistência quando precisam ensinar algo específico. ²
É possível pensar em narrativas que envolvam esses interesses para levar essa capacidade de foco e uso do conhecimento para outras áreas da vida. Além disso, vamos pensar a longo prazo. Quanto desse interesse pode ajudar o autista a ter autonomia, uma profissão ou uma colocação social futuramente? ²
O estado de hiperfoco também pode ter um lado feio. Principalmente se for um hábito que não faz tão bem. A forma como os interesses acontecem podem ir de resolver problemas matemáticos até vício em jogos. No entanto, esse tempo de concentração máxima pode ocasionar problemas para a própria pessoa. Problemas que geralmente acontecem incluem: fuga das responsabilidades, prejuízos nos relacionamentos, privação de sono, má alimentação, entre outras coisas. ³
Estamos falando que, de fato, é uma faca de dois gumes. Pode ser muito difícil para algumas pessoas administrar esses comportamentos de forma que não prejudique o próprio bem-estar e o das pessoas ao redor. Na infância, boa parte dos riscos pode ser controlado pelos pais. Porém, na fase adulta, o exagero no hiperfoco pode levar a demissões, divórcios e outros finais infelizes. ³
Enquanto os estudos científicos sobre autismo ainda avançam, ainda há pouco consenso sobre as causas do hiperfoco. O que, no entanto, é fortemente especulado é que tenha a ver com a função da atenção, esta controlada pelo córtex pré-frontal no lobo frontal. A estimulação da região cerebral, em especial nos casos de TDAH, libera dopamina que, assim, torna o cérebro mais disposto a permanecer em uma atividade. Existem, ainda, discussões sobre algumas atividades que podem liberar dopamina em excesso. Esta é uma teoria do campo neurológico. 4
Outros estudos, por sua vez, estão tentando entender se é algo mais ligado ao próprio comportamento, uma reação. Por conta da dificuldade imposta pelo TDAH e outras características presentes no autismo, o indivíduo tenderia a se concentrar mais em uma tarefa que lhe prende a atenção como uma forma de se agarrar em algo que ele faz dar certo. Assim, mergulham completamente na atividade. 4
Na infância, estado de hiperconcentração costuma ser interpretada pelos pais como um sinal de surdez. Mas também é possível que, excluindo a ideia de surdez, os pais acreditem que o comportamento seja intencional. Ou seja, a crença de que a criança está ignorando os pais de maneira intencional. 4
É muito importante que os cuidadores ajudem a criança a regular o quanto de si ela coloca nos seus interesses. Porém, é preciso fazer isso sem transmitir a ideia de que existe uma censura quanto ao que a criança gosta de fazer. Uma boa ideia é criar um cronograma de atividades que venham desencadear o hiperfoco. Assim, você estimula a criança a aproveitar suas habilidades de maneira estruturada. Esse método deve, inclusive, trabalhar bem alguns marcadores específicos pra determinar o fim de cada tarefa. Por exemplo: o final de um episódio de uma série, a fase final de um jogo, a solução de uma parte de uma tarefa, e por aí vai. Esses marcos podem ser gatilhos úteis para redirecionar a atenção para outra coisa. 4
Nem mesmo na idade adulta fica mais fácil controlar o hiperfoco. Nesta fase, por conta de outras tarefas em que a maioria dos adultos tem independência e autonomia, é preciso estruturar ainda mais a ordem das coisas. Às vezes é necessário ter a ajuda de algum amigo ou outra forma de interrupção da tarefa quando for preciso. Agora, sem a ajuda constante dos pais (exceto em caso de autistas mais severos), o autista precisa dar conta de evitar ações e comportamentos que podem acionar o estado de hiperfoco. 4
É possível controlar o hiperfoco e impedir que ele saia do controle. E, inclusive, é uma questão de ter mais qualidade de vida, potencializando os benefícios e diminuindo os riscos. 2,3
Como vimos, o hiperfoco não é muito mais um sintoma do que o próprio problema. No caso do autismo, por exemplo, ele é considerado uma comorbidade, um dos muitos sinais presente no diagnóstico. Quando existe uma comorbidade, em geral, ela é tratada pontualmente. Quem pode, então, definir a necessidade do uso de medicamentos ou alguma terapia que possa ajudar a controlar o hiperfoco, é o profissional de saúde que esteja acompanhando o autista.
Um dos exemplos é a terapia cognitivo- comportamental que trabalha pensamentos mais eficazes. Ela pode ou não ser feita em paralelo com a prescrição médica de estimulantes para aumentar os níveis de dopamina. No entanto, um estilo de vida saudável que equilibre uma boa alimentação, sono de qualidade e organização também podem ajudar. Mas tenha sempre em mente que nenhum medicamento deve ser utilizado por conta própria. Consulte um médico e converse sobre os sinais e preocupações que rondam você ou a sua criança autista.
Você conhece algum autista que tem relação com hiperfoco? Deixe aqui na nossa caixa de comentários essa história ou venha conversar com a gente lá no nosso Instagram ou Facebook. Aproveite, também, para conhecer nossos debates com autistas e profissionais disponíveis no nosso canal do YouTube. Aqui no Autismo em Dia todos os artigos e materiais são revisados por quem mais entende do assunto.
Obrigado pela leitura e até a próxima!
Referências bibliográficas e a data de acesso:
1. Ashinoff, B.K., Abu-Akel, A. Hyperfocus: the forgotten frontier of attention. 2019. Artigo científico. – 25/11/2021
2. Web MD – 25/11/2021
3. ADDitude – 26/11/2021
4. Facty Health – 26/11/2021
“O Autismo em Dia não se responsabiliza pelo conteúdo, opiniões e comentários dos frequentadores do portal. O Autismo em Dia repudia qualquer forma de manifestação com conteúdo discriminatório ou preconceituoso.”
De que maneiro devo agir de perceber que eu sou o hiperfoco de alguém?
Oi Adriana, nossa, é uma pergunta bem difícil de responder! Envolve tantas questões complexas. Você faz terapia? Seria bem importante discutir isso com um psicólogo para que você consiga conversar com a pessoa em questão de maneira empática, sensível, mas também que dê os limites para que não se sinta desconfortável. Estamos torcendo por você.
Meu filho tem 3 anos e 6 meses, ele está em fase de diagnóstico, vejo que o que mais chama a atenção nos profissionais e o que mais nos fez buscar ajuda foi o interesse exagerado do meu filho por ligar e desligar tomadas, interruptores e ventiladores, e tbm por sua inquietação. Como fazer ele esquecer isso, tem alguma dica?
Oi Daise, sugiro ler nosso texto sobre desregulação e regulação: https://www.autismoemdia.com.br/blog/autismo-enfrentando-uma-crise-de-desregulacao/. Espero que ajude ?
Achei muito interessante e importante esse assunto sobre autismo.
Meu filho tem 1 ano e 9 meses e tem um “quê” com livros e cadernos. Ele pode ficar até 1 hora pintando ou folheando livro atrás de livro. Eu era assim na infância. Adorava pintar e ler. Ficava horas entretida. Mas já comigo, comecei a ter essa paixão na fase pré- escolar e ele ainda é um bebê!
Então fico preocupada, embora costume estimular em casa por ser professora. Não sei se pode ser unicamente genética ou se devo buscar um apoio. O que me sugere?
Oi Lilian, nós temos um e-book com informações sobre os marcos do desenvolvimento infantil, nele também disponibilizamos a escala M-CHAT que pode te auxiliar a levantar informações e quem sabe levar para uma avaliação com um neuropediatra. Segue o link para acessar o e-book: https://materiais.autismoemdia.com.br/aed-desenvolvimento-infantil
Boa Sorte e estamos por aqui!
?
Muito bom o conteúdo! Meu filho tem 7 anos e tem hiperfoco em games quer seja em aplicativos, videogames ou próprios vídeos gravados no YouTube de outras pessoas jogando super Mário word. Já tentamos muitas coisas, mas sem sucesso. Ele não quer interagir, brincar, e quando sai, logo quer voltar para casa por conta dos jogos que quer assistir na televisão. Será que ele vai ser um criador ou programador de games ? Rsrs
Oi Mikelly, tudo pode ser ? ? ?
Hoje recebemos a notícia que um aluno tem hiperfoco, desculpa nesse caso é autismo
Olá, Rosemere. O hiperfoco isolado nem sempre significa autismo, é preciso que o aluno tenha passado por uma avaliação com especialistas em TEA antes de fechar o diagnóstico de autismo. Somente profissionais com especialização na área poderiam afirmar se além do hiperfoco existem outras características que confirmem o autismo. Esperamos que tenha ajudado um pouquinho com a minha respostas, continue nos acompanhando por aqui. Forte Abraço!
?
Tenho 52 anos , desde de criança tenho hiperdoce, quando criança apanhei muitas vezes em frente a Tv é meu pai falava comigo e eu não escutava. Mas creio que não tenha outro sintoma de autismo. Sou sociável tenho facilidade em acolher as pessoas. Sempre achei que era uma maldição mas hoje descobri que posso tirar um grande bem, quando não quero ouvir alguma conversa paralela eu foco em algum pensamento ou oração e desligo completamente do assunto.
Posso ter algum índice de TDAH?
Boa tarde Leila, como vai? Veja, podemos te indicar um artigo que fala um pouco mais sobre autismo e tdah: https://superafarma.com.br/tod-autismo-e-tdah-5-formas-de-reconhecer-os-transtornos/ mas naturalmente só um profissional de saúde pode fechar diagnóstico de qualquer transtorno, seria importante buscar o apoio de um psiquiatra ou psicólogo comportamental. Esperamos ter ajudado um pouquinho. Um abraço
Olá, me chamo Gilberto, tenho 44 anos. O meu problema é que não consigo terminar nada do que começo; tenho muitas ideias, porém, não coloco em prática; eu me interesso por um determinado curso, fico muito entusiasmado e….de repente!!! Perco interesse sem nenhum motivo. Gostaria de ajuda .
Obrigado, pela atenção.
Oi, Gilberto. Tudo bem? Você já tentou o caminho da psicoterapia? Acredito que indo em uma profissional que analise o comportamento que você relatou pode trazer grande ajuda pra você, com certeza irá avaliar a necessidade de investigar mais a fundo. Seria interessante encontrar um psicólogo da abordagem comportamental, tenho certeza que vai te apoiar muito. Estamos por aqui, forte abraço!
?
Boa noite ,meu filho ainda não diagnosticado tem hiperfoco em escovas de dente ,não sei mais o que fazer ,pois ele pega as escovas de todos sempre e fica com elas boa parte do tempo ,alguma dica por favor