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Postado por Autismo em Dia em 26/out/2021 - 9 Comentários
O termo “função executiva” é utilizado para falar de todas as habilidades que têm a ver com a cognição das pessoas. As funções executivas no autismo, no entanto, são muito afetadas. Muitas pessoas que estão no espectro têm algum comprometimento nessas funções, ou seja, alguns déficits. ¹
Por conta desses déficits, os autistas, muitas vezes, não conseguem executar coisas simples como tomar banho, limpar o quarto, entre outras coisas. O que, para as pessoas neurotípicas, parece algo tão fácil, para os autistas pode ser até mesmo impossível. Para alguns autistas, inclusive, os déficits nas funções executivas chegam a ser mais evidentes do que os problemas sociais. ¹
E é sobre isso que vamos falar hoje.
Índice
Clinicamente falando, as funções executivas são todos os processos cognitivos que nos ajudam a combinar nossos pensamentos com as nossas ações. O que inclui: ¹
Na prática, a grande questão de ter dificuldades para executar essas tarefas é que, sem dúvida, o dia a dia fica muito mais difícil. Muitas pessoas podem acabar tomando o autista como desorganizado, desleixado, preguiçoso ou até mesmo calcular o nível de inteligência com base nessas falhas de processamento. E essas dificuldades serão, de fato, percebidas o tempo todo. Tudo que fazemos na vida – trabalhar, se divertir, estudar, fazer os cuidados pessoais etc. – depende das nossas funções executivas. ¹
É muito importante ter em mente que nem todos os autistas terão déficits nas funções executivas. E mesmo aqueles que tiverem, não vão ter questões com todos os problemas listados acima. ¹
Alguns podem, por exemplo, ser perfeitamente capazes de planejar. No entanto, não conseguem dar a iniciação para seguir. Outros, porém, conseguem rapidamente pensar e agir na solução de um problema sem, no entanto, conseguirem verbalizar o que fizeram. ¹
A seguir, vamos explicar melhor cada uma das funções executivas. 1,2,3
A função de planejar é, sobretudo, a capacidade de pensar e escolher que ações são úteis para atingir uma meta. O planejamento, então, é decidir em que ordem as coisas acontecem e estabelecer um plano de ação.
Autistas podem, de fato, ter dificuldades para planejar e executar suas rotinas e suas tarefas do início ao fim.
Muitas pessoas dentro do transtorno do espectro do autismo carregam questões com memórias. No entanto, estamos falando tanto de pontos fracos e pontos fortes. Talvez você se depare com um autista que sabe, por exemplo, o nome de todos os modelos de carros esportivos. No entanto, esse mesmo autista talvez não consiga memorizar os dias da semana ou as etapas de higiene durante depois do almoço.
A memória de trabalho é a capacidade de lembrar as memórias que são de curto prazo, aquelas específicas para executar uma tarefa diária ou uma função simples.
A atenção tem tudo a ver com a memória de trabalho. E, assim como no tópico anterior, falamos aqui de pontos fortes e fracos em relação à atenção.
Alguns autistas podem demonstrar uma capacidade enorme de foco e atenção. No entanto, pode ser desafiador pedir que o mesmo autista coloque o seu foco em outras coisas – ainda que elas sejam importantes. A grande questão é que se a pessoa não consegue se concentrar em outras tarefas periféricas ao seu interesse, isso, de fato, pode afetar a capacidade a memória de curto prazo.
Além disso, o foco pode, também, estar diretamente ligado com as questões sensoriais. Imagine que, na sala de aula, o aluno autista em vez de focar na professora de repente começa a focar nos sons de lápis batendo, ou na forte luz que entra na janela. Por serem coisas que afetam seus estímulos, também tomam conta da atenção.
Pessoas neurotípicas sabem, por exemplo, o que elas devem fazer se um copo cai e quebra (varrer os pedaços e jogar no lixo). Esse é, de fato, um exemplo de como funciona a nossa função de solucionar problemas. A função de solução de problemas utiliza quase todas as outras funções executivas, ou seja, raciocínio, atenção, planejamento, iniciação, memória de trabalho e monitoramento.
Como dissemos, um autista não exatamente tem déficits em toda a lista. Porém, basta uma dessas coisas não funcionar adequadamente para quebrar a cadeia lógica que o cérebro usa para chegar à solução.
Iniciação é a capacidade de colocar as ideias em prática, iniciando o plano ou a tarefa. Para muitos autistas, os déficits de iniciação fazem com que eles não consigam, por exemplo, montar o tabuleiro de um jogo que eles querem jogar. Ou, então, começar a fazer o dever de casa.
Nesses casos, os autistas precisam que outra pessoa comece no lugar deles. Não é algo que afeta a vontade de fazer, apenas a capacidade de simplesmente começar a fazer.
O raciocínio – mental ou verbal – é quando o indivíduo analisa, compreende e pensa de forma mais crítica os conceitos. Um bom raciocínio é, também, uma boa retransmissão do raciocínio.
No entanto, a incapacidade de reprodução de conceitos, principalmente na forma verbal, é uma das características mais presentes em autistas. Isso afeta diretamente a construção de relações sociais e a interpretação dos códigos de comportamento.
A flexibilidade cognitiva é, em resumo, a capacidade de acompanhar as mudanças, aquelas coisas que podem mudar todo o nosso planejamento. Autistas, em boa parte dos casos, precisam de previsibilidade, de uma vida com regras, com estruturas. E mudar pode ser extremamente desafiador.
Diante das mudanças, alguns autistas podem resistir com seus pensamentos rígidos, com suas opiniões e ideias inflexíveis. Dependendo do grau de impacto da mudança, pode levar muito tempo para que o autista consiga se adaptar.
Outra função executiva igualmente importante é a inibição, ou seja, o controle dos impulsos. A inibição ajuda qualquer pessoa a não se deixar levar por qualquer ideia. Pois nem tudo que pensamos em fazer é algo que realmente pode ser feito.
Os autistas costumam ter algumas formas bem peculiares de demonstrar que a função da inibição está falhando. Por exemplo, as explosões emocionais, a agitação das mãos e os comportamentos repetitivos (também conhecido como ‘stim’ – embora algumas formas de ‘stim’ também sejam maneiras de o autista acalmar os nervos).
Para quem cuida de um autista, é importante ter atenção às demonstrações de que um comportamento inadequado pode surgir. Por exemplo, se a criança resolver, do nada, que ela deve comer todos os pacotes de biscoito que estão no armário.
Por último, temos o monitoramento como uma das funções executivas no autismo, um processo que é inconsciente que fica em ação quando estamos fazendo aquelas tarefas normais. Em resumo, quando estamos no piloto automático.
Por exemplo: se você está andando e conversando com alguém na rua, só uma parte bem pequena do seu cérebro está pensando no andar. Isto porque você já sabe como dar passo após passo. Então é nessas horas que monitoramento trabalha mais, impedindo você de tropeçar ou esbarrar nos postes e nas pessoas enquanto conversa.
Alguém que tenha problemas nas funções executivas pode ver o monitoramento falhar de vez em quando. Pode ser bem difícil entrar no piloto automático nas atividades básicas, principalmente em momentos de cansaço ou se estiver sobrecarregado.
As funções executivas no autista – assim como em qualquer pessoa – são desenvolvidas até os 20 anos. O que dá, assim, bastante tempo para desenvolver ajustes nessas habilidades. A seguir, uma lista rápida para te ajudar a auxiliar um autista nesses casos.
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Estimular as funções executivas no autismo é muito importante para o desenvolvimento deles. Com o tempo, o autista ganha independência e os reflexos disso na autoestima são enormes. Além disso, fale sobre essas dificuldades com toda a rede de adultos envolvidos, o que inclui professores, cuidadores e familiares. O processo da aprendizagem acontece o tempo todo, em todos os lugares. Portanto, se você é mãe ou pai de um autista, não se deixe sobrecarregar. Como nós sempre defendemos aqui no Autismo em Dia, a saúde física e mental dos pais também é importante no desenvolvimento dos filhos.
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Até a próxima!
Referências bibliográficas e a data de acesso:
1. Autism Awareness Center Inc. – 17/10/2021
2. Autism Speaks – 17/10/2021
3. Center for Autism Research – 18/10/2021
4. Autism Awareness Center Inc. – 17/10/2021
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OLÁ, por gentileza, esses deficit são específicos em autistas ou neurotipicos podem conter tambem os mesmos déficits?
Olá, Isabel! Déficits nas funções executivas podem ocorrer em outros transtornos além do autismo, como no TDAH, por exemplo. Caso sejam identificados, é muito importante buscar ajuda profissional especializada para entender os motivos, como com neuropsicólogos e neurologistas.
Um abraço!
Ótimo material
Muito obrigado pelo seu comentário! 💙
Entendi, obrigada! Estou com uma alta desconfiança sobre o autismo. inclusive parece que meu cérebro simplesmente para quando preciso executar algumas coisas, eu planejo por ex. e na hora de executar levo horrores de tempo pra conseguir, estou sempre precisando realizar um mapeamento mentalmente visual pra conseguir executar, o problema está sempre no início é como se meu cérebro sempre.congelasse… me sinto como se eu saísse do meu corpo e não tivesse controle pra voltar para voltar ao que preciso fazer…desconecto total! quando eu sinto que vai acontecer isso, preciso parar na hora se não fica difícil eu voltar a minha mente pro meu comando, inclusive me sinto desligada nessas situações. Estou tentando achar um neuro na minha cidade que seja especialista em transtornos.
Esperamos que encontre o especialista e que encontre as respostas que procura, Isabel. 💙
muito boa às informações
é possível ser autista e nao ter déficit nas funções executivas? conseguir fazer todas essas coisas muito bem?
Sim! O espectro é amplo e existem muitos casos diferentes.