Funções executivas no autismo – entenda cada uma delas


funções executivas no autismo

Postado por Autismo em Dia em 26/out/2021 - 9 Comentários

O termo “função executiva” é utilizado para falar de todas as habilidades que têm a ver com a cognição das pessoas. As funções executivas no autismo, no entanto, são muito afetadas. Muitas pessoas que estão no espectro têm algum comprometimento nessas funções, ou seja, alguns déficits. ¹

Por conta desses déficits, os autistas, muitas vezes, não conseguem executar coisas simples como tomar banho, limpar o quarto, entre outras coisas. O que, para as pessoas neurotípicas, parece algo tão fácil, para os autistas pode ser até mesmo impossível. Para alguns autistas, inclusive, os déficits nas funções executivas chegam a ser mais evidentes do que os problemas sociais. ¹

E é sobre isso que vamos falar hoje.

funções executivas autismo

Fonte: Pexels – foto de Anete Lusina

Índice

Entendendo as funções executivas no autismo

Clinicamente falando, as funções executivas são todos os processos cognitivos que nos ajudam a combinar nossos pensamentos com as nossas ações. O que inclui: ¹

  • Planejamento.
  • Memória de trabalho.
  • Atenção.
  • Solução de problemas.
  • Iniciação.
  • Raciocínio.
  • Flexibilidade cognitiva.
  • Inibição.
  • Monitoramento.

Na prática, a grande questão de ter dificuldades para executar essas tarefas é que, sem dúvida, o dia a dia fica muito mais difícil. Muitas pessoas podem acabar tomando o autista como desorganizado, desleixado, preguiçoso ou até mesmo calcular o nível de inteligência com base nessas falhas de processamento. E essas dificuldades serão, de fato, percebidas o tempo todo. Tudo que fazemos na vida – trabalhar, se divertir, estudar, fazer os cuidados pessoais etc. – depende das nossas funções executivas. ¹

É muito importante ter em mente que nem todos os autistas terão déficits nas funções executivas. E mesmo aqueles que tiverem, não vão ter questões com todos os problemas listados acima. ¹

Alguns podem, por exemplo, ser perfeitamente capazes de planejar. No entanto, não conseguem dar a iniciação para seguir. Outros, porém, conseguem rapidamente pensar e agir na solução de um problema sem, no entanto, conseguirem verbalizar o que fizeram. ¹

A seguir, vamos explicar melhor cada uma das funções executivas. 1,2,3

TEA

Fonte: Pexels – foto de Kindel Media

Planejamento

A função de planejar é, sobretudo, a capacidade de pensar e escolher que ações são úteis para atingir uma meta. O planejamento, então, é decidir em que ordem as coisas acontecem e estabelecer um plano de ação.

Autistas podem, de fato, ter dificuldades para planejar e executar suas rotinas e suas tarefas do início ao fim.

Memória de trabalho

Muitas pessoas dentro do transtorno do espectro do autismo carregam questões com memórias. No entanto, estamos falando tanto de pontos fracos e pontos fortes. Talvez você se depare com um autista que sabe, por exemplo, o nome de todos os modelos de carros esportivos. No entanto, esse mesmo autista talvez não consiga memorizar os dias da semana ou as etapas de higiene durante depois do almoço.

A memória de trabalho é a capacidade de lembrar as memórias que são de curto prazo, aquelas específicas para executar uma tarefa diária ou uma função simples.

Atenção

A atenção tem tudo a ver com a memória de trabalho. E, assim como no tópico anterior, falamos aqui de pontos fortes e fracos em relação à atenção.

Alguns autistas podem demonstrar uma capacidade enorme de foco e atenção. No entanto, pode ser desafiador pedir que o mesmo autista coloque o seu foco em outras coisas – ainda que elas sejam importantes. A grande questão é que se a pessoa não consegue se concentrar em outras tarefas periféricas ao seu interesse, isso, de fato, pode afetar a capacidade a memória de curto prazo.

Além disso, o foco pode, também, estar diretamente ligado com as questões sensoriais. Imagine que, na sala de aula, o aluno autista em vez de focar na professora de repente começa a focar nos sons de lápis batendo, ou na forte luz que entra na janela. Por serem coisas que afetam seus estímulos, também tomam conta da atenção.

autista cozinhando

Fonte: Pexels – foto de Kampus Productions

Solução de problemas

Pessoas neurotípicas sabem, por exemplo, o que elas devem fazer se um copo cai e quebra (varrer os pedaços e jogar no lixo). Esse é, de fato, um exemplo de como funciona a nossa função de solucionar problemas. A função de solução de problemas utiliza quase todas as outras funções executivas, ou seja, raciocínio, atenção, planejamento, iniciação, memória de trabalho e monitoramento.

Como dissemos, um autista não exatamente tem déficits em toda a lista. Porém, basta uma dessas coisas não funcionar adequadamente para quebrar a cadeia lógica que o cérebro usa para chegar à solução.

Iniciação

Iniciação é a capacidade de colocar as ideias em prática, iniciando o plano ou a tarefa. Para muitos autistas, os déficits de iniciação fazem com que eles não consigam, por exemplo, montar o tabuleiro de um jogo que eles querem jogar. Ou, então, começar a fazer o dever de casa.

Nesses casos, os autistas precisam que outra pessoa comece no lugar deles. Não é algo que afeta a vontade de fazer, apenas a capacidade de simplesmente começar a fazer.

Raciocínio

O raciocínio – mental ou verbal – é quando o indivíduo analisa, compreende e pensa de forma mais crítica os conceitos. Um bom raciocínio é, também, uma boa retransmissão do raciocínio.

No entanto, a incapacidade de reprodução de conceitos, principalmente na forma verbal, é uma das características mais presentes em autistas. Isso afeta diretamente a construção de relações sociais e a interpretação dos códigos de comportamento.

Flexibilidade cognitiva

A flexibilidade cognitiva é, em resumo, a capacidade de acompanhar as mudanças, aquelas coisas que podem mudar todo o nosso planejamento. Autistas, em boa parte dos casos, precisam de previsibilidade, de uma vida com regras, com estruturas. E mudar pode ser extremamente desafiador.

Diante das mudanças, alguns autistas podem resistir com seus pensamentos rígidos, com suas opiniões e ideias inflexíveis. Dependendo do grau de impacto da mudança, pode levar muito tempo para que o autista consiga se adaptar.

Inibição

Outra função executiva igualmente importante é a inibição, ou seja, o controle dos impulsos. A inibição ajuda qualquer pessoa a não se deixar levar por qualquer ideia. Pois nem tudo que pensamos em fazer é algo que realmente pode ser feito.

Os autistas costumam ter algumas formas bem peculiares de demonstrar que a função da inibição está falhando. Por exemplo, as explosões emocionais, a agitação das mãos e os comportamentos repetitivos (também conhecido como ‘stim’ – embora algumas formas de ‘stim’ também sejam maneiras de o autista acalmar os nervos).

Para quem cuida de um autista, é importante ter atenção às demonstrações de que um comportamento inadequado pode surgir. Por exemplo, se a criança resolver, do nada, que ela deve comer todos os pacotes de biscoito que estão no armário.

Monitoramento

Por último, temos o monitoramento como uma das funções executivas no autismo, um processo que é inconsciente que fica em ação quando estamos fazendo aquelas tarefas normais. Em resumo, quando estamos no piloto automático.

Por exemplo: se você está andando e conversando com alguém na rua, só uma parte bem pequena do seu cérebro está pensando no andar. Isto porque você já sabe como dar passo após passo. Então é nessas horas que monitoramento trabalha mais, impedindo você de tropeçar ou esbarrar nos postes e nas pessoas enquanto conversa.

Alguém que tenha problemas nas funções executivas pode ver o monitoramento falhar de vez em quando. Pode ser bem difícil entrar no piloto automático nas atividades básicas, principalmente em momentos de cansaço ou se estiver sobrecarregado.

como ajudar o autista nas funções executivas

Fonte: Pexels – foto de Tiger Lilly

Como ajudar autistas com problemas nas funções executivas

As funções executivas no autista – assim como em qualquer pessoa – são desenvolvidas até os 20 anos. O que dá, assim, bastante tempo para desenvolver ajustes nessas habilidades. A seguir, uma lista rápida para te ajudar a auxiliar um autista nesses casos.

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  • Utilize meios visuais para orientação de tarefas. Esta é, sem dúvida, uma forma muito útil não apenas para as funções executivas. Mas todo o aprendizado de um autista tem benefícios no uso de meios visuais.
  • Em casa, tenha lugares fixos para destinar coisas e tarefas. Por exemplo, a escova de dente deve ficar no mesmo lugar; o cesto de roupas sujas deve ser sempre o mesmo.
  • Reserve um bom tempo e tenha paciência quando for ensinar uma tarefa nova.
  • Evite intervir toda vez que a criança tiver dificuldade. Fazer as coisas no lugar dela não ajuda a desenvolver as funções executivas.
  • Ao orientar uma tarefa, divida em partes. Para a criança, pode ser muito mais funcional entender etapa por etapa da atividade até que ela assimile o caminho inteiro.
  • Se possível, conte com a ajuda profissional de um terapeuta ocupacional.

A importância de estimular as funções executivas no autismo

Estimular as funções executivas no autismo é muito importante para o desenvolvimento deles. Com o tempo, o autista ganha independência e os reflexos disso na autoestima são enormes. Além disso, fale sobre essas dificuldades com toda a rede de adultos envolvidos, o que inclui professores, cuidadores e familiares. O processo da aprendizagem acontece o tempo todo, em todos os lugares. Portanto, se você é mãe ou pai de um autista, não se deixe sobrecarregar. Como nós sempre defendemos aqui no Autismo em Dia, a saúde física e mental dos pais também é importante no desenvolvimento dos filhos.

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Até a próxima!

Referências bibliográficas e a data de acesso:

1. Autism Awareness Center Inc. – 17/10/2021

2. Autism Speaks – 17/10/2021

3. Center for Autism Research – 18/10/2021

4. Autism Awareness Center Inc. – 17/10/2021

 

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9 respostas para “Funções executivas no autismo – entenda cada uma delas”

  1. isabel disse:

    OLÁ, por gentileza, esses deficit são específicos em autistas ou neurotipicos podem conter tambem os mesmos déficits?

    • Autismo em Dia disse:

      Olá, Isabel! Déficits nas funções executivas podem ocorrer em outros transtornos além do autismo, como no TDAH, por exemplo. Caso sejam identificados, é muito importante buscar ajuda profissional especializada para entender os motivos, como com neuropsicólogos e neurologistas.
      Um abraço!

  2. Adener Sallaberry Barros disse:

    Ótimo material

  3. Isabel disse:

    Entendi, obrigada! Estou com uma alta desconfiança sobre o autismo. inclusive parece que meu cérebro simplesmente para quando preciso executar algumas coisas, eu planejo por ex. e na hora de executar levo horrores de tempo pra conseguir, estou sempre precisando realizar um mapeamento mentalmente visual pra conseguir executar, o problema está sempre no início é como se meu cérebro sempre.congelasse… me sinto como se eu saísse do meu corpo e não tivesse controle pra voltar para voltar ao que preciso fazer…desconecto total! quando eu sinto que vai acontecer isso, preciso parar na hora se não fica difícil eu voltar a minha mente pro meu comando, inclusive me sinto desligada nessas situações. Estou tentando achar um neuro na minha cidade que seja especialista em transtornos.

    • Autismo em Dia disse:

      Esperamos que encontre o especialista e que encontre as respostas que procura, Isabel. 💙

  4. IANARA Dasilva Traute Giordani disse:

    muito boa às informações

  5. A. v. h. Maas disse:

    é possível ser autista e nao ter déficit nas funções executivas? conseguir fazer todas essas coisas muito bem?

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