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Postado por Autismo em Dia em 27/jan/2023 - 2 Comentários
Apesar de Davi ser ainda tão novo, com seus 8 anos, o seu diagnóstico de TEA veio relativamente mais tarde. Como ele pode ser encaixado em um autismo de grau leve, seus principais sinais sempre confundiram quem estava ao seu redor. Mas, como uma mãe super presente, Rayara dos Santos sabia que estava diante de algo diferente. Ela só ainda não tinha uma resposta médica que lhe parecesse satisfatória.
Ela, que é funcionária pública e vive com o filho no município de Lapa, no Paraná, contou como essa trajetória até o diagnóstico foi, tantas vezes, bastante difícil. Porém, lhe preparou para as mudanças que viriam após o laudo. Conversamos, também, com a Aline Santos, policial militar que é tia de Davi e tem uma relação muito próxima com o garoto.
Vamos conhecer esta história juntos?
Índice
“O Davi sempre foi uma criança muito agitada”, conta Rayara. Desde o maternal, ela lembra de receber, por exemplo, vídeos enviados pelas professoras em que todas as outras crianças se concentravam em algo e ele ficava de pé, andando pra lá e pra cá. “Ali, eu já sabia que o Davi era uma criança diferente. Eu só não sabia em que sentido”.
Soma-se a isso o fato de que Davi demorou bastante a falar, fazer coisas que seriam esperadas de uma criança neurotípica, distúrbios do sono e alguns problemas de saúde. Entre idas e vindas em diferentes médicos, a primeira vez em que Rayara ouviu um possível diagnóstico ainda nem era, o diagnóstico de TEA. Uma neurologista disse que, provavelmente, era TDAH (transtorno de déficit de atenção com hiperatividade). Porém, como Davi, na época, ainda era muito novo, a médica preferiu não bater o martelo sobre o laudo.
Rayara já tinha, no entanto, perguntado sobre a possibilidade de autismo. A neurologista encaminhou Davi para a análise de um outro especialista.
O outro médico quis ver os resultados de uma piscóloga e as avaliações escolares. Esta última que, na época, tinham ainda muito influência do período pandêmico. Por isso, a mãe resolveu esperar até que ele pudesse voltar ao ensino presencial. E ela foi surpreendida com novos sinais.
“Quando ele voltou ao presencial, no ano passado, a professora me falou coisas que, até então, eu não tinha como verificar. O Davi não gosta de brincar com outras crianças, por exemplo. Na hora do intervalo, ele prefere ficar sozinho. É difícil sair com ele em público porque ele fica muito agitado com os estímulos”.
Foram consultas neurológicas e psicológicas, que somaram diversas evidências até que o diagnóstico de TEA foi confirmado.
“O processo até o diagnóstico foi um período que me impactou muito”, conta Rayara. “Eu sofria muito julgamento. Dá para perceber os olhares. Parece que as pessoas têm empatia nas redes sociais. Na vida real, as coisas são completamente diferente. As pessoas não têm paciência, saem de perto porque a criança incomoda. E eu sinto que eu fiquei marcada com isso. Então, quando eu recebi o laudo, foi um alívio porque justificava ele agir diferente”, completa.
Nesses quase 8 anos até o diagnóstico, Rayara conta que o impacto não foi maior dentro da família porque ela já vinha preparando o terreno para isso.
“Eu sempre preparei as pessoas de casa, dizendo que era preciso ter mais paciência com ele. Afinal, ele age de forma diferente das outras crianças. Se para mim, que sou a mãe, já é difícil, imagina para quem não é. Então a família já estava, de fato, preparada.
O que mudou foram só as terapias, algo que ele já fazia. Quando ele recebeu o diagnóstico, o neurologista recomendou pelo menos 5 dias de terapia especializadas na semana, sendo dois de terapia ocupacional.
Porém, quando a gente recebe o laudo, é um choque de realidade. Porque a gente começa a ter medo de como vai ser o futuro, como as coisas serão na escola… as mudanças não foram drásticas, no entanto, estamos falando de algo que é irreversível”, conta Rayara, que ainda diz ter muito orgulho por cada pequena conquista desde que ela levou Davi da UTI para a casa.
“Um dos meus maiores medos antes de ele ir para a escola era quando à parte acadêmica dele. Porém, eu me surpreendi muito. Na parte do aprendizado, ele não tem dificuldade alguma. As notas são sempre altas. A professora elogia, já que ele é sempre um dos primeiros a fazer as atividades. A grande questão dele, na escola, é a socialização.
Ele tem muita dificuldade de fazer amizade. Ele tem só um amigo por vez. E isso quando esse amigo consegue atender as demandas dele. Afinal, ele sempre quer brincar com as coisas dele e do jeito dele, diferente das outras crianças. E nessa idade de 8 anos, os outros meninos já não gostam de algumas coisas de que ele ainda quer brincar. Então ele não tem essa facilidade para conseguir manter as amizades.
Hoje, na escola, ele tem um único amigo que ajuda muito ele e que é muito paciente. Inclusive, ele até frequenta a nossa casa. Mas, na maior parte do tempo, ele prefere ficar e brincar sozinho. Eu e as professoras tentamos conversar com ele sobre isso, mas a mudança ainda não aconteceu”, conta Rayara.
Quem tem em mente a imagem de um autista que não é afetuoso e não gosta de contato, jamais diria que Davi, de fato, tem o diagnóstico de TEA. Isto porque nas redes sociais da Tia Aline, que citamos no começo do texto, o amor e o carinho físico são presentes. É o verdadeiro excesso de fofura.
Rayara, então conta, que esta relação dele com a Tia, assim como também é com a mãe, é muito única.
“Esse carinho todo é um dos principais motivos que levaram as pessoas a duvidarem do autismo. O Davi não tem dificuldade de interagir. Ele tem dificuldade de manter essa interação. Justamente porque ele gosta do excesso de atenção e carinho. E isso demanda muito do tempo da gente. Ele quer e precisa que você esteja ali o tempo todo vendo o que ele está fazendo. Sempre está em cima da gente pegando, beijando e abraçando”.
A relação com a Tia Aline, como Rayara conta, vem desde a gestação. Quando nasceu, Davi foi parar na UTI e passou perto de não poder ir para a casa. Ele, que é a primeira criança na família, logo recebeu também todo esse carinho e preocupação dos mais próximos. A irmã, Aline, sempre foi um pilar em todos esses anos e foi com quem Rayara compartilhou muito desse processo até o diagnóstico.
“Desde o começo deste ano”, conta Aline, “quando a gente descobriu que meu sobrinho é autista, eu tenho procurado entender e saber um pouco mais do que ele realmente necessita. Ele é um menino muito amoroso, muito querido, que tem as emoções afloradas. E a gente tem uma ligação muito forte de tia e sobrinho. A gravidez da minha irmã não foi fácil, foi de risco. E eu procurei ser presente todo tempo que eu podia.
Eu ainda sinto que eu tenho muito a melhorar com relação ao Davi, mas também sei que são coisas novas que ainda estamos aprendendo a lidar. O fato de ele ser autista e ter as emoções afloradas deixa a Tia Aline com o coração na mão, muitas vezes. Por que o mundo anda muito injusto e falta um pouco de empatia. Então eu tenho um pouco de medo dessa parte da socialização.
Eu peço muito a Deus para preparar a gente para dar uma boa instrução para ele. Mas, apesar do autismo, ele é um piá muito inteligente, se vira bem. Ele é dependente só em algumas coisas, mas na maioria ele tem independência. Cada aprendizado dele é muito satisfatório, por menor que seja.
Ele é tudo para mim. Me ensinou muita coisa e, por conta disso, mudei muito meu modo de ver a vida depois que ele veio. E agora, com o diagnóstico de TEA, a gente está reinventando a convivência. Eu quero cada dia mais ter condições de acompanhar ele nos momentos da vida”, explica a Tia Aline.
Emocionadas, Rayara e Aline abriram o coração e contaram sua história aqui. E, assim como a história delas e do Davi te emocionou, a sua história também pode atingir outras pessoas. Se você tem interesse em contar a sua trajetória ao lado de algum autista – ou se você é o próprio autista, entre em contato pelas nossas redes sociais. No Instagram ou No Facebook.
Além disso, temos muitos outros conteúdos por lá, abordando as diversas formas de autismo, sempre em uma linguagem acessível. Muito obrigado pela leitura e até a próxima! =)
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História linda de superação! Criança especial e muito amada!
Linda família! Eu tenho uma filha de 9 ano extremamente carinhosa e comunicativa que esta fazendo a avaliação neuropsicológica, infelizmente dentro da própria família já estamos sofrendo preconceito porque ao falarem que ” a menina não tem nada” ” ta procurando pelo em ovo” estão minimizando o que ela sente, só quem esta do lado sabe… As vezes um ato simples como atravessar uma rua ou não achar um brinquedo pode ser um momento angustiante para a criança e cuidador…