Desenvolvimento do autista: dicas práticas para melhorar a saúde e o bem estar


o desenvolvimento do autista

Postado por Autismo em Dia em 03/ago/2020 - 9 Comentários

Existem várias práticas que podem colaborar para o desenvolvimento do autista. Hoje vamos falar sobre hábitos de saúde e bem-estar. É muito importante ser proativo nesses cuidados, pois as diferenças são sentidas tanto agora como serão no futuro.

Vamos falar sobre nutrição, cuidados com o corpo, com o sono e saúde mental, algumas das áreas que mais determinam o nível de qualidade de vida de qualquer pessoa. Entretanto, há diversos desafios entre os autistas que fazem com que nem sempre esses cuidados sejam tarefas simples.

No meio do caminho para o desenvolvimento do autista, os pais enfrentam problemas de condicionamento físico, transtornos de alimentação e gastrointestinais e às vezes até dificuldades relacionadas ao sono – entre outras complicações.

Ainda que pareça difícil, garantimos que valerá a pena você se esforçar para colocar o autista num caminho mais saudável. Essas dicas valem para crianças e adultos, e a prática também poderá ajudar na qualidade de vida dos outros membros da família.

desenvolvimento do autista - nutrição

Fonte: Envato – Foto de bernardbodo

Índice

A nutrição no desenvolvimento do autista 1,2

A questão da alimentação está ligada a vários aspectos da vida. Para as pessoas com TEA, podem existir desafios extras na hora de criar uma boa rotina alimentar. Isso inclui sensibilidade extrema às mudanças e estímulos sensoriais.

Por exemplo: muitas crianças e adultos no espectro são muito sensíveis não apenas ao sabor, mas também à cor, ao cheiro, temperatura e às texturas dos alimentos. Outros vão apresentar uma seleção restrita de alguns alimentos, se recusando a comer certas coisas ou exigindo comer somente um tipo de alimento. Podem, também, apresentar manias quanto à organização da comida no prato.

Além disso, muitos autistas têm dificuldade em se expressar sobre o que gostam e o que não gostam nos alimentos, o que complica ainda mais a tarefa dos responsáveis na hora de prepararem a dieta.

Um dos problemas comuns entre os cuidadores, é a dificuldade em introduzir novos alimentos na dieta da pessoa autista. O impacto causado por mudanças na alimentação é igual ao que, por exemplo, pode ser uma mudança de casa, ou a troca do professor na escola.

Como resolver o problema da alimentação dos autistas

Aqui estão algumas dicas do que você pode fazer para que a hora da refeição não seja carregada de estresse.

  • Verifique se a recusa ao alimento pode estar ligado a um problema médico. Quando a criança se recusar a ingerir algo, pode indicar que aquilo faz o estômago doer. E talvez ela nem saiba se expressar. Aproveite para consultar um médico, já que o estresse gastrointestinal é comum entre os autistas.
  • Mantenha a calma. É importante dar tempo ao autista de provar o alimento algumas vezes até que ele se acostume. De repente a criança simplesmente não gosta daquilo. Inegavelmente, o importante é não deixar que a hora da alimentação se torne um campo de batalha. ³
  • Dessensibilização deve ser global. Recentemente uma mãe nos procurou na rede social contando que o filho (já adulto) só aceita comidas batidas no liquidificador. Fomos conversar com uma fonoaudióloga para poder dar uma ajuda à essa mãe. A Dra Maria Claudia Arvigo – idealizadora do projeto Bate Papo no Jardim, explicou que quando a recusa está ligada aos fatores sensoriais (cheiro, textura, cor, etc) é preciso começar uma dessensibilização que vem antes mesmo da alimentação. Ela começa em áreas periféricas, como mãos e pés, trazendo diferentes texturas e temperaturas associadas a massagens com diferentes tipos de força e pressão no movimento. O mesmo deve acontecer no rosto, com massagens na região externa, associadas a diferentes temperaturas, texturas, até que o toque dentro da boca (bochechas, dentes, céu da boca etc.) seja aceita pelo autista sem causar grande incômodo.

Como ajudar o autista a provar comidas novas ³

  • Faça provar a comida por etapas. Para vencer o medo que o autista pode apresentar de provar algo novo, estimule-o a testes de toque e cheiro antes de levá-lo à boca. No início, colocar a comida no prato, mesmo que ele não vá ser ingerido, pode ser uma boa forma do autista ir se acostumando com o alimento. Com o tempo, pode-se incentivar a experimentação, por exemplo, uma forma de sentir o sabor sem ingerir é lambendo a comida. Isso também pode ser a chave para descobrir qual o motivo da aversão. Sendo assim, aproveite para ter novas ideias na forma do preparo.
  • Faça brincadeiras com a comida. Experimente trazer uma coisa mais lúdica para o universo dos alimentos. Pinte caretas com os molhos, faça formas engraçadas com os legumes e aposte em jogos. Deixe que seu filho construa familiaridade com aquilo. E, se possível, tenha uma boa variedade de alimentos para ajudá-lo a escolher.
  • Não exagere no sistema de recompensas. Lembre-se: essa criança não apenas precisa comer, mas também apreciar e entender como esse nutriente é importante. Se você resume tudo a entregar recompensas a cada vez que o autista come algo que você quer, ele pode não aprender quais os valores por trás desse ato.
o desenvolvimento do autista - exercício

Fonte: Envato – Foto de GalinkaZhi

O corpo do autista – exercícios físicos também auxiliam no desenvolvimento 4,5

Pessoas no espectro autista são pessoas. Eles podem correr, nadar, arremessar, jogar bola – entre outras coisas – tanto quanto seus colegas neurotípicos. E para os pais e cuidadores, certamente não haverá alegria maior do que levar sua criança autista para uma atividade que um neurotípico faria. É mais divertido dizer que vai chutar uma bola ou correr do que falar que está indo fazer terapia.

Embora as terapias sejam muito importantes para o desenvolvimento do autista, não se esqueça de fazer o autista trabalhar também o corpo através de atividades físicas. Afinal, todas as pessoas precisam manter o corpo saudável.

Mas mantenha as expectativas razoáveis. Não cobre do seu filho autista que ele coloque toda a energia de tal atividade já na primeira vez. Assim como indicamos com a comida, faça as coisas por etapas. Até mesmo uma simples caminhada pode ser um começo e, dependendo das preferências dessa pessoa autista, a atividade ainda pode se interligar com interesses culturais – como anotar nomes de ruas, por exemplo.

Mas aí vai uma informação que vai fazer a diferença: vários estudos já comprovaram os benefícios da melhoria da atenção, da concentração e das habilidades organizacionais entre pessoas no TEA. E todas essas coisas são desafios diários para aqueles que estão no espectro.

O que fazer para incentivar a prática de exercícios físicos entre os autistas? 6

Mas se muitos autistas têm tendência a preferir atividades isoladas e tranquilas, como convencê-los a se envolver nessas atividades? Aqui vão algumas dicas:

  • Deixe a criança ou adolescente assumir a liderança. Como responsável, é natural que você queira definir o que é melhor. Mas envolver a criança no processo de decisão vai levá-la a escolher uma atividade de acordo com suas preferências, diminuir a apreensão e gerar confiança.
  • Faça metas realistas. Se você impõe um objetivo muito além das possibilidades, qualquer resultado menor que isso será entendido como um fracasso. Portanto, treine seu filho para o sucesso.
  • Abra o jogo. Sempre converse com os instrutores da atividade sobre as dificuldades que seu filho pode passar durante a atividade. Portanto, verifique todas as possibilidades de adaptação.
  • Priorize turmas pequenas. Se você mesmo não for liderar a atividade, é provável que seu filho dependa de um instrutor, provavelmente numa atividade em grupo. Desta  forma, é importante que esse líder possa dedicar uma atenção diferenciada ao aluno autista.
  • Elogie. Pode demorar para que esse autista trabalhe uma atividade em todos os seus detalhes, e com certeza vai ser importante elogiar e recompensar as pequenas conquistas.
A importância do sono para os autistas

Fonte: Envato – Foto de Sunny_studio

A importância do sono no desenvolvimento do autista 7

Os problemas do sono atingem uma quantidade bem grande de autistas. De tal forma que esses problemas de sono tendem a piorar os desafios comportamentais, interferir no aprendizado e diminuir a qualidade de vida no geral.

Os problemas para dormir acontecem com mais frequência se a criança tem comportamentos restritos e repetitivos (alinhando brinquedos, balanço, bater as mãos), ansiedade ou problemas sensoriais. Por isso, a falta de um bom período de sono pode levar a problemas para prestar atenção, sentir-se inquieto, ficar com raiva e ter crises de desregulação (que muitos acham que são birras).

Esses distúrbios do sono também podem ser de origem médica e/ou psiquiátrica – como, por exemplo, a dosagem inadequada dos medicamentos e distúrbios mais graves. Por isso, não demore em consultar um médico especialista para tirar suas dúvidas. Em alguns casos, pode ser necessária a intervenção por terapias e remédios.

Mas existem várias formas de você melhorar os hábitos que vão, certamente, levar esse autista a uma noite de sono enriquecedora. E tudo isso pode ser feito em casa.

7 dicas para melhorar o sono dos autistas

  • Mantenha o quarto escuro, silencioso e fresco. As crianças com TEA podem ser particularmente sensíveis a ruídos e/ou apresentar problemas sensoriais. Sendo assim, o ambiente deve ser adaptado para garantir que seu filho seja o mais confortável possível
  • Crie uma rotina para a hora de dormir. Faça uma rotina previsível e rápida – em torno de 20 a 30 minutos. Igualmente, tire de cena todos os aparelhos eletrônicos que podem estimular a atividade cerebral.
  • Mantenha os horários. Tanto os horários da semana – de dormir e de acordar – quanto do final de semana devem ser ajustados igualmente.
  • Ensine a criança a dormir sozinha. Certamente será exaustivo para os pais se a criança se habituar a dormir acompanhada e isso é prejudicial para todos da casa.
  • Estimule exercícios físicos. Aqueles que se dispõem numa atividade mais exigente durante o dia tendem a dormir melhor à noite. Mas atenção: nada de fazer esses exercícios perto da hora de dormir, pois vai deixar a mente muito acelerada
  • Evite alimentos com cafeína à noite. A cafeína não está só no café. Há também em refrigerante, chás e chocolate.
  • Evite cochilos à tarde. É normal que a criança se sinta com sono nesse período, mas essas sonecas podem interferir na hora “oficial” do sono.
autismo e saúde mental

Fonte: Envato – Foto de bialasiewicz

Saúde mental 8,9

Não podemos falar sobre o impacto do bem estar no desenvolvimento do autista sem, igualmente, trazer à tona a questão da saúde mental. A começar pelo transtorno de ansiedade, que atinge por volta de 40% dos autistas, enquanto na população geral o índice é de 15%. Frequentemente esse estado leva a períodos de tristeza e, consequentemente, a doenças como depressão e transtorno obsessivo compulsivo (TOC).

Alguns fatores do autismo que contribuem para os transtornos da mente:

  • Vulnerabilidade ao estresse
  • Diferenças biológicas na estrutura e função do cérebro
  • Dificuldades sociais
  • Tendência a pensar que certas ameaças são maiores do que realmente são
  • Problemas para encontrar soluções e respostas flexíveis para algumas “ameaças”

Não é à toa que os tratamentos psicológicos cognitivos – aqueles relacionados ao pensamento – e comportamentais possuem um papel importante no desenvolvimento do autista. Tanto quanto os medicamentos.

Esses tratamentos envolvem uma relação de trabalho com um terapeuta, desenvolvendo habilidades necessárias para enfrentar uma série de desafios, sempre envolvendo a exposição a diferentes aspectos das situações que causam medo. Dessa forma, mente e corpo vão aprendendo que a situação não é tão terrível assim, diminuindo gradualmente a ansiedade.

Os transtornos mentais podem ser crônicos, aparecendo por vários anos ou mesmo durarem a vida inteira.

Qualidade de vida no desenvolvimento do autismo – está tudo conectado

Hoje falamos de 4 aspectos essenciais para a qualidade de vida de qualquer pessoa, porém trabalhando as especificações da condição de ser autista. Certamente, é fácil notar que tudo deve ser balanceado, e não se deve focar demais em apenas um dos aspectos e ignorar os outros. Enfim, esperamos que esse artigo possa ser o primeiro passo para que você, seja mãe, pai – ou o próprio autista – tenha uma vida mais equilibrada, mesmo em tempos tão difíceis.

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Tenha uma boa saúde! =)


Colaborou com esse artigo:

Dra Maria Claudia Arvigo
Fonoaudióloga Infantil, pós-doutoranda em Distúrbios do Desenvolvimento


Referências bibliográficas e a data de acesso:

1. Autism Speaks – Nutrition – 29/07/2020

2. Autism Speaks – Autism and Food Aversion – 29/07/2020

3. Autism Speaks – What is it about Autism and Food – 29/07/2020

4. Autism Speaks – Physical Fitness – 29/07/2020

5. Autism Speaks – Can exercise improve behavior? – 29/07/2020

6. Autism Speaks – 10 Inclusion Tips for Sports and Recreation – 29/07/2020

7. Autism Speaks – Sleep – 29/07/2020

8. Autism.Org – 29/07/2020

9. Young Minds – 29/07/2020

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9 respostas para “Desenvolvimento do autista: dicas práticas para melhorar a saúde e o bem estar”

  1. Alessandra disse:

    Excelente conteúdo. Obrigada por sua colaboração.

  2. Thiago disse:

    Parabéns.

    Conteúdo excelente!

    Tenho um filho autista com 2 anos e 3 meses.
    Cada dia é um dia de aprendizagem.

    • Autismo em Dia disse:

      Obrigada pelas palavras de incentivo Thiago! Ficamos sempre muito felizes em receber esse carinho. Um abraço para você e seu menino ?
      Volte mais vezes aqui no blog!

  3. Maria Mariana de Souza disse:

    Este artigo foi ótimo pra mim que sou mãe de uma linda menina portadora do tea.

  4. Edmar de Oliveira disse:

    Tenho uma filha autista de 27 anos,esse artigo ajudou muito,todo dia aprendendo a lhe dar com as situações. Minha esta com pânico, muito ansiosa e tem medo de sair na rua,desde de dezembro.Ate 2020 não tinhamos esse problema,ela saia muito comigo para todos os lugares.Estou triste,saudades de quando fazíamos caminhadas,passeava juntas,espero em Deus que ela saia desse quadro.

  5. Adriano Borges disse:

    Olá! Como está hoje o mercado da indústria de alimentos voltados à criança com autismo?
    Quais os novos produtos alimentícios disponíveis no mercado?

  6. Raimundo de Lira Romano disse:

    Excelentes orientações, tenho uma netinha com TEA, foi de suma importância as abordagens desse artigo.❤

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