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Postado por Autismo em Dia em 25/nov/2024 - Sem Comentários
Você já se perguntou como funciona o cérebro de uma pessoa autista? Embora cada autista seja único, entender a complexidade por trás desse cérebro é fundamental para construir uma visão empática do assunto. Neste artigo, vamos explorar de forma ampla e respeitosa como o cérebro de um autista difere do cérebro neurotípico, não para padronizar o que se entende por TEA, mas para mostrar diversos aspectos.
Ao entender que os processamentos sensorial, visual e de informações podem ser diferentes para uma pessoa autista, podemos desenvolver estratégias mais eficazes de relacionamento social com pessoas no espectro. Além disso, vamos desmistificar alguns estereótipos comuns e reforçar a ideia de que a neurodiversidade é uma parte valiosa da sociedade.
Este artigo é voltado tanto para pessoas que buscam ampliar seus conhecimentos sobre o autismo, quanto para aqueles que têm relacionamento direto com autistas, como familiares, educadores e profissionais de saúde.
Índice
O espectro autista é uma condição neurológica que afeta a maneira como uma pessoa percebe o mundo e interage com os outros. É importante entender que o autismo é um espectro, o que significa que existem diferentes níveis de gravidade e uma ampla variedade de características presentes em indivíduos TEA. ¹
Alguns, por exemplo, podem ter dificuldades significativas na comunicação e interação social – algo que, inclusive, é uma das características mais conhecidas. Ao mesmo tempo, outros podem ter habilidades excepcionais em áreas específicas, o que esbarra na questão de uma suposta genialidade. ¹
Quanto à socialização, um autista pode ter, ainda, dificuldades em interpretar e responder a sinais sociais, como contato visual, expressões faciais e linguagem corporal. Eles também podem ter interesses restritos e repetitivos, bem como uma sensibilidade aumentada a estímulos sensoriais, como luzes, sons e texturas. A intensidade de cada um desses sinais varia de indivíduo para indivíduo. ¹
E algo que é fundamental: independente do grau de autismo, é preciso um esforço coletivo de reconhecer que o TEA não é uma doença a ser curada, mas sim uma parte intrínseca da existência e até mesmo da identidade de uma pessoa.
O cérebro de uma pessoa autista funciona de maneira diferente do cérebro de uma pessoa neurotípica. Estudos científicos diversos revelaram diferenças na conectividade neural, processamento de informações e funcionamento de certas áreas do cérebro em indivíduos autistas. ²
Uma das principais características do cérebro de uma pessoa autista é a hiperconectividade neural. Isso significa que certas regiões do cérebro estão mais interconectadas do que em indivíduos neurotípicos. Essa hiperconectividade é o que pode levar, como já mencionamos, a uma maior sensibilidade a estímulos sensoriais e a dificuldades na integração de informações. ²
Além disso, o cérebro de uma pessoa autista tende a processar informações de maneira mais detalhada e específica. Isso pode resultar em uma atenção minuciosa aos detalhes, bem como em habilidades excepcionais em áreas específicas. Algumas fontes costumam citar habilidades em ciências exatas ou em artes, mas essa é uma ideia que segrega e limita as possibilidades de um indivíduo no TEA. ²
Mas será que é correto dizer que existem déficits, quando o caminho é contrário às super habilidades? Em muitos casos, sim. Afinal, muitas vezes se trata da dificuldade em desenvolver coisas básicas como a fala ou qualquer tipo de comunicação funcional. ³
Existem muitos mitos e estereótipos em torno do autismo que podem levar a uma compreensão equivocada e a preconceitos. É crucial desmascarar esses mitos e estereótipos para promover uma visão mais precisa e inclusiva do autismo. 4
Um dos mitos mais comuns é que todas as pessoas autistas têm habilidades extraordinárias em áreas específicas, como memória ou matemática. Embora seja verdade que algumas pessoas autistas possam ter habilidades excepcionais, nem todos os autistas possuem essas habilidades e é importante não generalizar. Além disso, como alguns estudos afirmam, a ideia de um autista gênio é, na verdade, a representação de uma enquadrada como Savants – um dos termos que você precisa conhecer sobre o TEA.5
Outro estereótipo é que pessoas autistas não têm empatia. Isso é completamente falso. Embora possa ser mais difícil para algumas pessoas autistas expressarem empatia de maneira convencional, elas podem experimentar empatia de maneira diferente e profunda. É importante lembrar que a empatia não se manifesta da mesma forma para todos. 6
Também é comum a crença de que o autismo é causado por vacinas ou por pais negligentes. Essas afirmações são infundadas e amplamente desacreditadas pela comunidade científica. O autismo é uma condição neurobiológica que tem origem em fatores genéticos e ambientais complexos, não relacionados a vacinas ou ações dos pais e pessoas próximas. 4
A empatia e a compreensão são fundamentais para criar um ambiente inclusivo e acolhedor para pessoas autistas. Ao nos colocarmos no lugar delas e tentarmos compreender suas experiências, podemos estabelecer uma conexão mais profunda e genuína. 7
É importante reconhecer que a comunicação e a interação social podem ser desafiadoras para pessoas autistas. Elas podem ter dificuldade em interpretar e responder a sinais sociais, o que pode levar a mal-entendidos e, por consequência, ao isolamento social. É super importante que um autista encontre um ambiente seguro para suas tentativas de interação. Ambientes que deixem claro que existe respeito aos limites da pessoa. 7
Além disso, é essencial respeitar as necessidades individuais. Elas podem ter sensibilidades sensoriais específicas, como a aversão a certos sons ou texturas. Ao reconhecer e acomodar essas necessidades, podemos criar um ambiente mais acessível e confortável para elas. Não faltam exemplos de iniciativas de adaptações para ambientes coletivos como cinemas, shoppings, aeroportos, restaurantes e muito mais. 7
Todos nós podemos desempenhar um papel na construção de uma sociedade mais empática e acolhedora.
O processamento sensorial é uma área em que as pessoas autistas podem experimentar diferenças significativas em comparação com as pessoas neurotípicas. E aqui entra uma das questões chaves sobre o funcionamento do cérebro neurotípico. Elas podem ter uma sensibilidade aumentada a estímulos sensoriais, como luzes, sons e texturas, ou então podem ter dificuldade em processar e integrar essas informações sensoriais. 8
Essas diferenças no processamento sensorial podem ter um impacto significativo na vida cotidiana de uma pessoa autista. Ambientes barulhentos ou superestimulantes podem ser avassaladores e causar ansiedade ou desconforto. Por outro lado, ambientes calmos e previsíveis podem ser mais propícios para o bem-estar e a concentração. 8
Imagine a angústia de desejar aproveitar mais a vida, como ir às compras, assistir um filme ou comer algo que lhe agrade, mas perceber que todos os lugares que você pensa em ir ativam suas maiores dificuldades. É assim que um autista pode se sentir em situações que são corriqueiras para pessoas neurotípicas. 8
É importante reconhecer e respeitar as necessidades sensoriais de pessoas autistas. Isso pode envolver a criação de espaços tranquilos e seguros, o uso de estratégias de comunicação visual e a consideração das preferências individuais em relação a estímulos sensoriais. Ao fazer ajustes adequados, podemos ajudar pessoas autistas a se sentirem mais confortáveis e capacitadas em seu ambiente. E isso, sem dúvida, contribui para que a pessoa possa se desenvolver no que quer que mais a interesse. 8
Também é importante lembrar que nem todas as pessoas autistas têm as mesmas experiências sensoriais. Algumas podem ter sensibilidades específicas, enquanto outras podem ter uma tolerância maior a certos estímulos. E, claro, algumas talvez nem tenham. 8
O ambiente em que uma pessoa autista cresce e as interações sociais que ela vivencia desempenham um papel crucial em seu desenvolvimento – tal qual ocorre com todas as pessoas. O apoio e a compreensão de familiares, educadores e profissionais de saúde podem fazer uma diferença significativa na vida de uma pessoa no espectro. 9
Um ambiente acolhedor e inclusivo pode ajudar a construir a autoestima e a confiança de uma pessoa autista. Isso pode envolver a criação de rotinas previsíveis, o uso de estratégias de comunicação visual e a oferta de suporte emocional e social. Ao proporcionar um ambiente seguro e estimulante, podemos ajudar pessoas autistas a alcançar seu pleno potencial. E, é importante reforçar, que não estamos falando de transformar autistas em gênios, apenas de um desenvolvimento padrão. 9
As interações sociais também desempenham um papel importante no desenvolvimento de pessoas autistas. Elas podem ter dificuldades em interpretar e responder a sinais sociais, o que pode levar a dificuldades de comunicação e isolamento social. Autistas, claro, crescem, e vão desejar relacionamentos significativos, muitas vezes prejudicados por esse isolamento. Muitas vezes, tendemos a olhar isso tudo apenas do ponto de vista infantil, mas isso vale pra vida toda do indivíduo TEA. 9
Se estamos falando do cérebro de um autista, não podemos esquecer do papel das terapias. Intervenções desse tipo desempenham um papel crucial no apoio a pessoas no espectro. Existem várias abordagens terapêuticas e programas de intervenção que visam ajudar pessoas autistas a desenvolver habilidades sociais, comunicativas e emocionais, bem como a lidar com desafios específicos.10
Uma abordagem terapêutica comumente utilizada é a terapia comportamental, como a Análise do Comportamento Aplicada (ABA). A ABA é baseada em princípios científicos e ajuda a ensinar habilidades sociais e comportamentos adequados, bem como a reduzir comportamentos indesejados. 10
Outra abordagem é a terapia ocupacional, que visa ajudar pessoas autistas a desenvolver habilidades motoras, sensoriais e de autocuidado. Essa terapia pode envolver o uso de atividades sensoriais, jogos e exercícios para promover o desenvolvimento de habilidades essenciais. Nós temos um artigo completo sobre isso, vale a pena conhecer mais! 10
Além disso, intervenções baseadas em comunicação, como a Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA), podem ajudar pessoas autistas a se comunicarem de maneira eficaz, utilizando símbolos, imagens ou dispositivos eletrônicos.10
Lembrando que intervenções terapêuticas agem em questões específicas e podem ter resultados diferentes para cada pessoa. Todavia, se você precisar, consulte um profissional para o encaminhamento à terapia mais adequada. 10
O funcionamento do cérebro de um autista também será afetado pelas nossas movimentações na busca por espaços de respeito e inclusão. Por isso, ao analisar a pergunta que motivou esse texto, pense, também: o quanto isso das características de uma pessoa autista pode, também, ser um reflexo da nossa ação como sociedade. Eles estão confortáveis? Estão se desenvolvendo? Estão felizes?
Precisamos reconhecer as diferenças, mas também as semelhanças. As habilidades e a falta delas. As dificuldades, mas também as alegrias. Só assim, seremos parte na criação de uma sociedade justa, em que a neurodiversidade também prospere.
Referências:
1. Autism.Org – Acesso em 19/07/2024
2. National Library of Medicine – Acesso em 19/07/2024
3. Universidade Federal do Acre – Acesso em 19/07/2024
4. Autistica.org – Acesso em 19/07/2024
5. Genial Care – Acesso em 19/07/2024
6. Medical News Today – Acesso em 19/07/2024
7. Autism Parents Magazine – Acesso em 19/07/2024
8. Instituto Inclusão Brasil – Acesso em 19/07/2024
9. Spark – Acesso em 19/07/2024
10. Saúde SE – Acesso em 19/07/2024
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