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Postado por Autismo em Dia em 20/out/2022 - 19 Comentários
O autismo é chamado de espectro porque existe uma infinidade de variações de manifestações do TEA. E dentro disso, os autistas podem viver em diferentes níveis de dependência. Para simplificar, atualmente é aceito que se diga que existem três níveis ou três graus, que são leve, moderado e severo. O casal Rosilda e Pedro Magalhães, que vivem em São José dos Pinhais, no Paraná, nos contaram como eles lidam com a função de pais de um menino com autismo severo na adolescência.
Bernardo, que é o segundo filho do casal, tem 15 anos e não é verbal. Sua condição levou os pais a tomarem algumas decisões importantes ao longo dos anos que mudaram a forma como eles vivem. Pedro, por exemplo, remodelou sua carreira tradicional no ramo do livro para passar mais tempo cuidando do filho. Enquanto Rosilda, que é professora, pensa em se aposentar mais cedo porque entende o tamanho da dependência do rapaz.
Quer conhecer mais dessa história? Então continua a leitura com a gente!
Índice
Quando Bernardo nasceu, Pedro e Rosilda já tinham uma filha de 1 ano e meio. Não eram mais pais de primeira viagem. E logo Rosilda percebeu que Bernardo não apresentava os mesmos comportamentos e marcos de desenvolvimento comparado com a irmã.
“A gente chamava, e ele não reagia. Se batia palma ele não reagia. Se batia uma porta ele não se assustava. A princípio achamos até que ele tinha um problema auditivo“, conta Rosilda.
Porém, com 1 ano e meio Bernardo passou por um exame de audição que não detectou a surdez. Mas, como conta Rosilda, ele vinha apresentando outras características.
“Ele não se adaptava às coisas, aos brinquedos. Se via um carrinho ele só queria a rodinha e outras coisas que giravam. Se deixava ele quietinho, ele ficava”, completa a mãe.
Por volta dos 3 anos, foi um neurologista que trouxe à tona o próprio autismo. E apesar de estarmos falando de não muito tempo atrás, Rosilda e o marido contam que o médico utilizou o termo “pautas autistas” para explicar o comportamento de Bernardo.
O laudo só foi fechado mesmo quando Bernado tinha de seis para sete anos. No entanto, o casal não ficou parado e buscou diversas intervenções nesse meio tempo. Principalmente nas áreas da psicologia e da fonoaudiologia, já que o filho até os dois anos arranhava algumas palavras e, de uma hora para outra, parou de falar de vez.
Bernardo tem um autismo que os pais consideram de moderado para severo. A dependência que ele tem dos pais é total. Hoje, já adolescente, Pedro e Rosilda contam que ele já faz algumas coisas sozinho, como se alimentar ou tomar banho, mas sempre com a supervisão deles.
“Mas ele não tem entendimento das coisas”, conta Rosilda. “Ele não tem noção do que é perigoso, ele aponta o que ele quer em vez de falar, entre outros déficits.
E isso, sem dúvida, trouxe alguns desafios para a família, principalmente na convivência com outras pessoas.
Rosilda relembra duas ocasiões, uma perigosa e uma constrangedora.
Quando Bernardo era ainda bem pequeno, por volta dos 4 anos, em um dia em que ele estava sendo cuidado pela avó materna, o garoto fugiu correndo para a rua, mas foi salvo por duas mulheres que perceberam que ele estava sozinho. A avó, já idosa, não teria como ir atrás dele na mesma velocidade de uma criança.
Em outra ocasião, já um pouco maior, Bernardo teve o ímpeto de pegar da mão de uma estranha um pacote que ela tinha acabado de comprar. Como o rapaz adora coxinha e ele achou que era o que tinha no pacote, ele simplesmente pegou. Rosilda conta que a parte constrangedora veio justamente da outra mulher, que ao ouvir as desculpas e a explicação de que Bernardo era autista, expressou uma reação como se aquilo fosse uma desculpa esfarrapada de mãe.
Por causa desse e de outros acontecimentos, Rosilda se sentiu acuada socialmente por um bom tempo.
“Eu fiquei muito tempo sem sair com o Bernardo. Isto porque eu me sentia muito julgada pelos outros.”
Ter um aluno em plena adolescência e com autismo severo na escola não é uma tarefa fácil. Como uma família que sempre conviveu com materiais e métodos educacionais, o casal enxerga tanto os problemas individuais quanto os coletivos.
Lá no início, eles até tentaram uma escola regular, mas o projeto não deu certo.
“A escola, na época, não tinha preparo e o Bernardo ficava largado. Nós permanecemos com ele ali por um tempo, até que resolvemos mudar”, conta Rosilda.
Na época, o casal tentou novamente uma escola regular e também não deu certo. Só que, dessa vez, a administração da escola admitiu que a inclusão não estava funcionando e sugeriu a busca por uma escola especial.
O município tinha uma escola feita para crianças com deficiência, mas o casal teve que entrar com um processo na defensoria pública porque o colégio não quis aceitar Bernardo por ele já ter feito os três primeiros anos no modelo regular.
Bernardo, inclusive, chegou a ficar seis meses sem pisar em uma escola. O esforço valeu a pena, já que uma liminar deu a autorização e o garoto está até hoje na mesma escola.
Lá, Bernardo convive com outras crianças, autistas ou não. E ele tem uma rotina educacional muito mais voltada para desenvolver habilidades dentro do que ele consegue fazer e seguindo seus interesses. Um deles, como conta Pedro, é a música.
Ao longo dos anos, o casal foi se adaptando. Mas, sem dúvida, a mudança mais desafiadora foi a que Pedro escolheu fazer. Ele, que sempre trabalhou em livrarias, com empregos formais e estáveis, passou a trabalhar de forma independente. O motivo era poder passar mais tempo em função do filho. Além da escola, Bernardo tem que ir a terapias e ainda precisa de todo apoio logístico para o dia a dia.
Também pesou na decisão o fato de que, diante do trabalho de Rosilda que é só à tarde, financeiramente compensava mais ele fazer essa mudança. Atualmente, Pedro é livreiro itinerante em eventos dentro e fora da cidade.
“Durante a semana eu levo ele para fazer as terapias. Então, não teria como eu ter um trabalho registrado e sair duas vezes na semana. Além da escola e das terapias, eu ainda faço caminhada todos os dias com ele“, explica Pedro.
Mas, na visão dele, mesmo com o privilégio da flexibilidade que o casal tem, o cenário está longe de ser o ideal para um caso de autismo severo na adolescência.
“O Bernardo necessita de muitas terapias. Mas a gente não tem condição de fazer tudo que ele precisa. A gente vai por prioridade. E essa clínica que ele frequenta, que é especializada em autismo, tem algumas particularidades que agregam para ele, como o PECs, alfabetização, terapia ocupacional e musicalização”, diz Pedro.
Diante de tudo isso, Pedro e Rosilda comemoram algumas evoluções. Eles contam que uma das melhores partes foi o fato de eles poderem voltar a frequentar a casa de outras pessoas.
“O maior avanço que a gente percebe é conseguir sair com o Bernardo e ele ficar no lugar. Porque mesmo na casa de parentes, passava meia hora e ele já puxava a gente querendo sair. Às vezes, também, ele pegava comida na mesa dos outros porque não tinha noção de que aquilo não era dele. E hoje ele consegue ficar mais calmo nos lugares”, conta Rosilda.
Para a irmã, Júlia, com quem o relacionamento de Bernardo é muito afetuoso, o maior sonho era que o irmão falasse. Até hoje, isso não aconteceu. Mas a família não perde a esperança.
“Ele não achou a conveniência na fala, mas ele se comunica“, diz a mãe. “E ele faz isso usando a gente como instrumento, pegando a gente pela mão e apontando para o que ele quer. O desafio é, sem dúvida, quando ele tem alguma dor, porque a gente não sabe quando não dá sinas”.
O casal conta, ainda, que Bernardo não desenvolveu interesses específicos que eles pudessem utilizar para reafirmar o aprendizado dentro de casa. A não ser o interesse por telas, como o celular e a televisão.
“É um presente para a gente ter o Bernardo. A gente aprendeu muito com ele. Mas não é fácil ser pai e mãe de um autista severo na adolescência. É uma luta constante porque você pensa ‘o que é que eu não fiz? O que faltou?’. E a gente estava sempre mudando. Se uma terapia não dava certo a gente passava pra outra. Então, tem coisas que nos frustram, mas a gente sente que o Bernardo é um presente”, conta o casal.
Uma das frustrações é quanto a estrutura do município. A escola a qual Bernardo frequenta deveria ser referência. O projeto inicial teve o esforço de políticos para alcançar uma excelência internacional, mas, na prática, a escola permanece no básico, segundo o casal.
“Era pra escola ter equoterapia, natação e muito mais. A estrutura é muito grande, mas a gente percebe que não supre a necessidade das crianças. Deveria ter dois enfermeiros e não tem. Piscóloga, fono, essas coisas, às vezes tem, às vezes não tem. Quando tem é uma vez por mês”, conta Pedro.
O casal vive hoje com um olho no presente e outro no futuro. No presente, um adolescente que está passando por transformações no caminho para a vida adulta. E, no futuro, um homem que continuará dependendo de Pedro e Rosilda.
“O temor é grande. A gente sabe que pais não são eternos e a tendência natural é que os pais sempre partem primeiro. E como vai ficar essa dependência dele? Hoje eu tenho 50 anos e já estou começando o processo de aposentadoria pra gente dar um atendimento maior pra ele. E o medo que a gente tem é que, se um dia a gente faltar, como será?”, Explica Rosilda.
Pedro acrescenta, que o casal ainda está encarando a burocracia para conseguir para Bernardo o Benefício de Prestação Continuada (BPC), mas que está demorando.
“A gente percebe que não se entende a realidade. Pode até ser que os pais tenham condições e isso não vem ao caso agora. Só que a questão é, e daqui a 30 ou 50 anos? E quem é que vai cuidar do Bernardo? Ele não vai conseguir trabalhar e se sustentar”.
O exemplo desta família demonstra o quanto o afeto, o carinho e o comprometimento de cada pai, mãe e cada familiar é o que, de fato, faz com que as coisas evoluam. É quase impossível fugir das frustrações e da luta diária, mas, é sempre reconfortante saber que, no fim do dia, nada importa mais do que o amor.
Gostou de conhecer a história do Bernardo e seus pais Pedro e Rosilda? Assim como a trajetória deles é única, a sua também pode aparecer por aqui e impactar a vida de outras pessoas – seja para falar de um caso de autismo severo na adolescência ou outros assuntos ligados ao TEA. Entre em contato pelas nossas redes sociais, Facebook ou Instagram para ser o nosso próximo proTEAgonista.
Muito obrigado pela leitura e até a próxima!🙂
“O Autismo em Dia não se responsabiliza pelo conteúdo, opiniões e comentários dos frequentadores do portal. O Autismo em Dia repudia qualquer forma de manifestação com conteúdo discriminatório ou preconceituoso.”
eu caí aqui de paraquedas, mas estou muito feliz em fazer parte do autismo em dia… enriquecedor!
Olá, Francidalva! Muito obrigado por deixar seu comentário. Ficamos muito felizes em ter você aqui. Um grande abraço. 💙
Bom dia !! sua história é bem parecida com a minha .Obrigada por compartilhar suas lutas diárias. Deus abençoe e restaurem nossas forças
💙
Bom dia, gostaria saber qual o melhor brinquedo para um autista severa. E como lidar com ele qua do ele insiste em querer alguma coisa que ele não pode ter.
Olá, Ana! Cada criança ou adolescente é diferente. Não existe uma regra, o importante é que o brinquedo seja seguro e interessante para a pessoa em específico. Se ele faz acompanhamento terapeutico, pode ser um boa ideia pedir auxílio ao terapeuta ocupacional e ao psicólogo.
Um abraço! 💙
Amei a historia dessa família
sou observadora e estudiosa da causa Autista
e já trabalhei como cuidadora de crianças em escolas.
💙
boa tarde, gostei muito de conhecer a história dessa família com o seu filho autista, hoje trabalho com autistas, estou aprendendo muito com eles. mas, ainda é um desafio para alinhar o comportamento deles. 👩🏽🏫
Me identifiquei muito com sua história Rosilda , tenho um filho autista com 4 anos ele ainda não fala nada já passei por várias situações parecidas com a sua.
As vezes fico me perguntando como será quando ele estiver na adolescência , ele ainda tem muitas dificuldades não entende comandos básicos ele estuda em escola regular mais a psiquiatra me aconselhou a mudar ele para uma escola especial aí não sei o que fazer .
Sei bem o que está família passa. Tenho o Felipe de 15 anos com autismo severo e a situação só se agrava.
tenho um único filho que está com 12 anos tem austimo leve ele fala anda entendo porém de uns tempo pra cá ele está totalmente agressivo tanto nas palavras quanto no olhar
ele toma medicação mas está sem terapia no momento e não sei como lidar com a situação pois tenho muito medo dessa agressividade dele com as pessoas acaba em tragédia.
estou pensando em colocar ele em pisicologo pois até comigo ele está muito seco não me beija não abraça diz que gosta de ficar sozinho não sei se esse comportamento e normal de um adolescente autista ou se der repente meu filho pode está piorando na minha família tem caso de esquizofrenia tenho medo dele está desenvolver
Olá, Paula. Imaginamos o quanto é difícil lidar com isso. Vocês está certa, é importante procurar atendimento psicológico. Esperamos que passem por essa fase da melhor forma possível. 💙
Nossa..a história é bem parecida com a minha. Meu Miguel vai fazer 15 anos daqui a uma semana, e sinto tudo q eles sentem. A diferença é q não tive a mesma sorte com o pai dele..mesmo casada por 20 e poucos anos, nunca me ajudou a buscar ajuda. Fiz só e o q pude. Acabei o casamento e vivo só com ele e o irmão mais velho. Estou bem melhor. Ele estuda em escola regular . Aqui só tem escola especial particular e bastante cara. Mas continuo lutando pelo meu filho.
💙
dificil e complicado criar uma crianca assim tenho 1 filho com autismo mesmo com terapia esta agressivo
Olá Adríssia, deve ser desafiante mesmo, mas não deixe de levá-lo para acompanhamento terapêutico, esse é o caminho. Um abraço!
Olá meu nome é Fabiana e tenho um filho especial de 17 anos com autismo moderado com algumas alterações com esquizofrenia retardo mental e eu gostaria muito de contar a história de super ação dele que passou no curso técnico da Etec depois de muitas lutas e choros e até internações gostaria de saber como eu poderia fazer isso
Olá, Fabiana. Vamos fazer contato por e-mail. 💙