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Postado por Autismo em Dia em 01/set/2020 - 15 Comentários
Com a chegada de setembro e da campanha Setembro Amarelo, que chama atenção para a prevenção ao suicídio e outras questões de saúde mental, não poderíamos deixar de falar sobre autismo e depressão. Essa doença, que afeta milhões de pessoas no mundo todo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a prevalência da depressão é de 10,4%. Estudos de prevalência de depressão em pessoas com TEA mostram taxas de prevalência de 13%, o que mostra que a depressão é ainda mais comum entre as pessoas que estão no espectro do autismo.
Várias são as justificativas para que os transtornos depressivos sejam frequentes em pessoas com TEA. Para indivíduos com o transtorno leve e que possuem percepção das limitações impostas pelo transtorno, as frustrações e dificuldades impostas pelos prejuízos sociais e cognitivos podem levar a um quadro depressivo. Para autistas moderados e severos mudanças de rotina, adaptações a novos contextos, desregulações sensoriais podem levar a um quadro de depressão, que muitas vezes esses indivíduos, por apresentarem prejuízos do reconhecimento das próprias emoções e sentimentos, não são capazes de identificar.
Mas como falar de um assunto tão delicado de forma honesta e que de fato contribua para a mudança dessa realidade? É possível prevenir depressão entre os autistas? Que desafios as pessoas no TEA precisam enfrentar para manter a mente saudável?
Estes são alguns dos temas que vamos abordar a seguir. Acompanhe.
Índice
A resposta para esta pergunta não é tão simples e não se pode resumir em SIM ou NÃO. Claro que, se olharmos de forma superficial, é possível fazer alguma ligação entre o isolamento social do autista e a falta de perspectiva na vida. Mas isso não necessariamente vai gerar um caso de depressão ou de qualquer outro transtorno mental.
Algumas pesquisas recentes como as da divisão médica da Universidade de Bristol, no Reino Unido, sugerem que autistas sem deficiência intelectual (os de grau leve) têm mais risco de depressão se comparados a autistas sem alguma deficiência do intelecto. Assim, a maior incidência detectada foi entre autistas na faixa entre 18 e 27 anos, o que mostra que é na idade adulta que os casos de depressão mais aparecem. ¹
Já o site norte-americano Spectrum News, referência em notícias científicas sobre o autismo, comparou dados de mais de 60 pesquisas e constatou que autistas possuem 4 vezes mais chances de ter depressão ao longo da vida do que pessoas neurotípicas. ²
Apesar do que mostram os números, a ciência, por enquanto consegue apenas supor os motivos que levam a isso e quais são as consequências. Para os autistas, um caso de depressão é algo muito sério, já que pode prejudicar a independência, as habilidades de enfrentamento de problemas, a vida diária dentro e fora de casa e a comunicação. Todas essas são características conquistadas por eles com muita dificuldade.
A depressão geralmente surge de fatores genéticos e ambientais. Nesse ponto, os cientistas ainda não podem afirmar onde o autismo entra como fator determinante. Porém, o bullying e o isolamento são alguns dos principais motivos apontados por diversos estudos no que diz respeito às questões ambientais da depressão entre os autistas. ²
Pensamento repetitivo sobre eventos e emoções negativas também podem levar alguns autistas a desenvolver a depressão, de acordo com uma pesquisa de 2019 apresentada em uma conferência internacional. Muitos autistas têm comportamento repetitivo e interesses de hiperfoco, o que pode ser prejudicial à saúde mental caso esse foco se volte para experiências tristes ou indesejáveis. ²
Além disso, autistas podem ser especialmente inclinados a pensar em coisas negativas. “O que isso diz é que, se pudermos encontrar estratégias que possam efetivamente redirecionar as pessoas com autismo de se prenderem a informações negativas, isso pode ajudá-las a desenvolver um padrão de pensamento mais adaptativo”, diz Katherine Gotham, médica que liderou os estudos.
Segundo Katherine Gotham, o que faz boa parte de os profissionais de saúde terem dificuldade em perceber a depressão nos autistas é que essa é uma doença internalizante, ou seja, caracterizada por sentimentos como desesperança, autocrítica e tristeza. Todas essas são coisas que acontecem de forma interna. E detectar um transtorno assim é desafiador quando se lida com autistas que tem dificuldades de expressar suas emoções, ou que nem mesmo são verbais. ²
Em autistas com deficiência intelectual e nos não verbais, o episódio depressivo vai, muitas vezes, se manifestar com mudança de comportamento, perda de interesse nas atividades e até agressividade. Essa apresentação atípica do transtorno e a limitação da comunicação com o paciente fazem com que, muitas vezes, a depressão não seja diagnosticada nesse grupo de pessoas.
Além disso, a depressão é uma doença que ocorre por episódios. Para identificá-la ao longo do tempo, os médicos e terapeutas precisam observar os pacientes autistas com muita atenção. É preciso verificar que mudanças estão acontecendo no funcionamento da pessoa, por exemplo, questões como padrões de sono, atividades sociais, apetite, entre outras. ²
Para piorar, alguns sinais clássicos da depressão, como ser mais “desligado” de envolvimento social, podem acabar sendo confundidos com as características do próprio autismo. Igualmente, a depressão também pode se manifestar como queixas físicas que costumam acompanhar o autismo, incluindo cansaço, inquietação e dores de estômago. A doença também pode intensificar os traços do autismo, incluindo agressão, automutilação e irritabilidade. ²
Apesar de existirem, há muitos anos, tratamentos psicológicos e através de remédios contra a depressão, ainda não se tem conhecimento consistente a respeito de como a mente autista reage aos tratamentos.
Jeremy Veenstra-WanderWeele, psiquiatra da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, especializado em crianças e adolescentes, disse ao site Spectrum News que existe uma preocupação da comunidade médica sobre possíveis efeitos colaterais dos medicamentos anti depressivos em autistas. “Os antidepressivos podem até perturbar o sono dos autistas e torná-los mais impulsivos, podendo, inclusive, superar os benefícios. Mas, na verdade, ainda sabemos bem pouco sobre isso”, diz ele.
Os estudos sobre a utilização de antidepressivo em pessoas com TEA são controversos e a eficácia terapêutica é menor e os efeitos colaterais são mais frequentes quando comparados com a utilização dessa classe farmacológica por pessoas de desenvolvimento típico.
Porém, algumas estratégias para prevenir que autistas entrem em depressão podem ser iguais às que funcionam para pessoas neurotípicas, como o apoio social, incentivo à entrada no mercado de trabalho e mesmo o tratamento psicológico. E, para além de toda ciência exposta até aqui, é muito importante falar sobre como cada um de nós pode ajudar nesse processo de recuperação. ²
Agora o assunto é direto para você, que é autista e sente que suas emoções não estão em ordem. Nessas horas, é preciso encontrar a ajuda certa, muito além de palavras de conforto. Você pode, caso se sinta confortável, buscar se abrir com alguém da família e tentar falar sobre como se sente. Quanto mais próxima e confiável a pessoa for, maiores vão ser as chances de ela entender a sua dor e a angústia.
Além disso, é muito importante falar com um profissional sobre sua saúde mental. Nem sempre é fácil iniciar uma conversa sobre seus sentimentos pessoais com seu médico. E pode ser especialmente difícil quando você não está se sentindo bem. Mas esse é o primeiro passo para descobrir que tipo de tratamento e suporte podem ajudá-lo.
Estas são as dicas do instituto de saúde mental nortea-mericano Mind. ³
Quando se está deprimido, vão existir momentos em que você vai estar sozinho, sozinha, ou mesmo sentindo imensa solidão. Aquele momento em que não será possível chegar até as pessoas que podem te ajudar. Mas, aqui no Brasil, existe um recurso que é o Centro de Valorização da Vida. O CVV, como se conhece, é uma rede de pessoas com quem você pode conversar de forma 100% sigilosa. E muitas vidas já foram salvas depois que usaram o serviço.
O atendimento é gratuito e pode ser feito por telefone ou pelo chat online – se você está precisando, clique aqui para acessar. O número do telefone é 188 e funciona 24 horas, sem interrupção, todos os dias do ano. Todos os atendentes são voluntários e treinados para auxiliar nas mais diversas situações de emergência.
Também existem pontos físicos pelo Brasil em que você pode se encontrar pessoalmente com um dos voluntários e conversar, dentro do horário comercial ou em locais abertos 24 horas. Se você acredita que essa pode ser uma saída para o seu problema, clique aqui e saiba onde é o local mais perto de onde você está.
Nós falamos aqui, há pouco tempo, sobre o podcast Introvertendo. Nesse programa, jovens autistas conversam sobre temas relacionados ao transtorno. Mas também falam de coisas relacionadas ao dia a dia.
Um dos episódios se conecta com o que estamos falando. No programa de número 65, um dos participantes conta como passou por uma difícil fase de depressão. Como alguém que é autista, ele narra com muita propriedade e emoção quais eram as suas dificuldades. Você pode ouvir clicando aqui.
Por isso, vale aqui adiantar que o final foi feliz. O que não quer dizer que foi fácil. Mas com o apoio da família e com ajuda médica, ele vem se recuperando. Vale muito a pena conferir.
Já dissemos e repetimos: queremos que você se sinta bem, não apenas em setembro, mas no ano todo. A luta é diária, mas sempre vai existir alguém que pode te ajudar.
Lembre-se que você não está sozinho. Existe uma comunidade enorme para trocar ideias. Não sabe por onde começar? Então siga as nossas redes sociais, Instagram e Facebook.
Até a próxima! =)
Colaborou com esse artigo:
Dra. Fabrícia Signorelli Galeti
Psiquiatra especialista em TEA – CRM 113405-SP
Referências bibliográficas e a data de acesso
1. Medscape – 30/08/2020
2. Spectrum News – 30/08/2020
3. Mind – 30/08/2020
“O Autismo em Dia não se responsabiliza pelo conteúdo, opiniões e comentários dos frequentadores do portal. O Autismo em Dia repudia qualquer forma de manifestação com conteúdo discriminatório ou preconceituoso.”
Gostei muito do blog
? Seu depoimento nos motiva muito Lúcia, muito obrigada pelo carinho, volte mais vezes 🙂
Recentemente fiz alguns testes e consultas e fui classificada como estando no espectro Autista. Autista de alto funcionamento. Ainda não entendo muito bem o que isso significa. Também não sei como me sentir. Sei que existem diferentes níveis de autismo, mas nunca pensei que o fosse, pois sempre me diagnosticaram como tendo depressão, ansiedade, agorafobia, entre alguns outros… Eu tenho 28 anos, e em retrospecto, diversas situações em minha vida certamente foram dificultadas por minha …. dificuldade de comunicação falada (na maioria das situações sociais eu tendo a ficar em silêncio, às vezes até quando dirigem-se a mim). Quase sempre me encontro confusa em relação ao que sinto, e não consigo compreender as intenções dos outros. Entretanto, sempre me concebi como uma pessoa empática, e gosto de escutar os outros, apesar de achar situações de socialização um tanto desafiadoras e muitas vezes cansativas. Acho que estou confusa e um tanto receosa quanto ao novo diagnóstico.
Oi Julia, como vai? Ficamos felizes que tenha chegado até nosso blog. Realmente o diagnóstico é um momento cheio de incertezas, angústias e que mexe com a questão da identidade. Todos os seus sentimentos são absolutamente compreensíveis, ainda mais que você ainda não conhecia o autismo. Para te apoiar nessa jornada de autoconhecimento e reconhecimento dentro do espectro, indicamos a leitura de alguns dos nossos textos.
O primeiro deles comenta um pouquinho sobre essa quase invisibilidade dos autistas adultos:
https://www.autismoemdia.com.br/blog/sintomas-de-autismo-em-adultos-quais-os-desafios-e-como-lidar/
Também gostaríaamos de deixar aqui a indicação de 3 histórias reais de autistas adultos que, parecido com o que aconteceu contigo, tiveram seus diagnósticos tardiamente:
https://www.autismoemdia.com.br/blog/autismo-em-mulheres-thais-mosken-e-o-espaco-do-autoconhecimento/
https://www.autismoemdia.com.br/blog/comunicacao-e-autismo-de-maos-dadas-conheca-a-historia-de-tiago-abreu/
https://www.autismoemdia.com.br/blog/universidade-autismo-e-mercado-de-trabalho-a-historia-de-denilson/
O texto sobre níveis de autismo pode te ajudar na questão do autismo de alto funcionamento:
https://www.autismoemdia.com.br/blog/existem-tipos-de-autismo-como-identificar-os-diferentes-niveis/
Esperamos que esses conteúdos possam te fortalecer e sentir-se acolhida por aqui. Um abraço bem forte 🙂
Minha irmã tem autismo leve e está sofrendo uma depressão grave. Seu texto me ajudou muito! Muito obrigado!
Adorei o texto! Tenho 14 anos e fui diagnosticada com síndrome de Asperger ano passado. Realmente é estranho mas acho que foi o momento em que ao invés de incerteza, pela primeira vez me senti eu mesma. Vivo lendo sobre essa condição desde pequena e, vivia falando para minha mãe de como os textos estavam falando de mim. É uma sensação estranha mas até que me diverte muito. Ótimo trabalho com o blog, ajuda muito a combater a desinformação. Obrigado pela ajuda!
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olá boa noite tenho uma filha de 15 anos ela ta com problema de ansiedade depressão crise de panico e fobia social ja passei ela no pissiquiatra ta fazendo acopanhamento pissicologico ta tomando remedio controlado mais mesmo assim ela ta afastada da escola porque tem crise a pssicolaga ja encaminhou ela para o neurologista para saber se ela tem algum grau de autismo e muito doloso pra uma mae ver sua filha nessa situação ja teve dias que eu achava que eu tava carregando o mundo sozinha na minhas costa
Olá, Clenilda. Sentimos muito por essas dificuldades. Reforçamos a importância de buscar apoio profissional para lidar melhor com isso. Um abraço. 💙
Olá boA noite meu filho e
tem atimos mas ele está depressão ele fala que queria se uma pessoa normal a alguém me ajuda por favor está muito difícil
Olá, Íonice. Em casos como o dele, é importante buscar apoio com profissionais de saúde mental, como psiquiatras e psicólogos.
Olá!
Como trabalhar com aluno verbal com TEA severo e com princípio de depressão?
Olá! É importante informar suas preocupações aos cuidadores e orientar que procurem atendimento para ele com psicólogo e psiquiatra.
olá gostei muito da página,tenho um filho jovem que está com dificuldade existencial como posso ajudá-lo.
Olá, Luis. Tudo bem? Seria muito importante ele fazer acompanhamento psicológico. Obrigada por comentar. Um abraço!