Autismo e altas habilidades: Conheça Meiry


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Postado por Autismo em Dia em 02/out/2023 - 3 Comentários

Hoje vamos conhecer mais uma história surpreendente! A #proTEAgonista da vez é Meiry, uma mulher de 53 anos que foi diagnosticada com autismo e altas habilidades na adolescência. Ela está cursando a terceira graduação em direito e é vice-presidente do Conselho da Pessoa com Deficiência. Tem dois filhos, é casada e vive no Vale do Tietê-SP.

Os dois filhos de Meiry também são autistas. O filho mais velho se chama Amauri, tem 32 anos e assim como a mãe é autista de nível 1 de suporte. A filha, Thalyane, tem 29 anos e é autista de nível 2 de suporte. Meiry descobriu que a filha era autista quando a menina tinha 4 anos. Já o filho, só foi diagnosticado na vida adulta. 

Quer conhecer mais detalhes sobre a vida da nossa proTEAgonista? Continue a leitura!

Índice

Da infância atípica ao trabalho análogo à escravidão

Meiry nasceu na cidade de Ibicaraí-BA. A história que ela conta é de uma infância e adolescência dura:

“Eu sofri muita agressão, inclusive física. Era muito focada e boa em matemática, fazia cálculos de cabeça. Mas eu estava no interior da Bahia, no meio de pessoas sem estudo, e ninguém entendia direito como eu fazia aquilo. Então, eu era dita como macumbeira, feiticeira, estranha… Era maltratada. Mas eu também era muito agressiva, revidava. Era machucada mas também machucava as outras crianças.

Aos 14 anos de idade, a minha mãe me entregou para uma família de judeus que morava em São Paulo. Essa família, a principio, também não me queria. Eu era muito pequena e eles me chamavam de “raquítica”, mas depois descobrimos que era seletividade alimentar.  

Acontece que eles me viram fazer os serviços domésticos e gostaram de mim. Falaram que eu podia ficar e ia ter casa, comida e roupa lavada. Que comida? Só sobras. Falavam que eu trabalhava na casa deles, mas eu nunca recebi nada pelos meus serviços, mesmo eles tendo muito dinheiro. Segundo eles, eu estava pagando minha estadia e comida.

Eles me levavam para a sinagoga com eles. Eu sou negra. Minha pele é escura e meu cabelo é encaracolado. Chegando lá, eu tinha que ir para a parte de baixo da sinagoga com os outros escravos, ditos empregados, e eles iam para a parte de cima.”

Descobrindo o autismo

Apesar de só ter tido acesso aos estudos na vida adulta, Meiry cresceu e continuou demonstrando ter uma inteligência acima da média:

“Sempre aprendi as coisas muito fácil. Era só ver alguém fazendo algo que eu logo aprendia. Eu viajava com eles e estava quase aprendendo hebraico. Foi quando o “patrão” disse: “Como pode? Ser inteligente sem estudar?”. E começou a me testar. Me deu diferentes tipos de cálculos complexos e eu acertava todos, alguns só de ver alguém fazer uma vez. Ele ficou incrédulo, e disse: “ela tem algum problema na cabeça.”. Por curiosidade eles me levaram para fazer exames. Passei pela AACD, pela APAE e com 16 anos soube que era autismo e altas habilidades.

Não fiz nenhum tipo de tratamento depois disso, eu trabalhava muito, não tinha tempo. Deixei pra lá e fui vivendo a minha vida. Conheci o pai dos meus filhos, engravidei, e quando tinha mais ou menos 19 anos saí daquela casa. Já estava morando com o pai dos meus filhos quando o Amauri nasceu. 3 anos depois tive a minha filha.

O pai deles não suportava as minhas crises. Eu era agressiva, gritava muito, quebrava as coisas. Eu sentia que tinha que descarregar meu estresse, então o que estava na minha mão eu jogava. Ele falava que eu precisava de algum tratamento, então ele me largou com os meus dois filhos.

Depois disso eu conheci o meu marido, já estamos casados há 14 anos e vivemos super bem, porque hoje eu me entendo melhor, mas sei que preciso de terapia.

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Foto: Arquivo pessoal – Cedida por Meiry

Lutando pelos autistas adultos

Meiry conta que uma das coisas que inspiraram ela a ingressar na faculdade de direito foi o desejo de lutar pelos direitos dos autistas. Ela chama a atenção para a dificuldade em encontrar tratamentos para autistas adultos, tanto pra ela quanto para os filhos:

“O que me deixa em um lugar de paz é a luta para defender as pessoas autistas e buscar soluções junto ao poder público. Faço isso mesmo com tantas dificuldades e com todos os “não” que me acompanham 25 horas por dia. Afinal, pelo governo eu não tenho terapia, não tenho tratamento, não tenho apoio, não tenho ninguém, nada. Se eu quiser alguma coisa, sou eu por mim mesma.

Quero lutar pelos direitos dos autistas, especialmente os adultos, que não tem nada. Minha filha fazia equoterapia e era ótimo pra ela, mas agora tiraram ela e disseram que a nova regra é que só pode fazer até os 18 anos. Ela precisa muito, é muito inteligente mas é nível 2 e está em regresso. Não encontro tratamento nenhum pra ela. E aí? Ninguém pensa que o autista um dia vai ser adulto?

Por isso eu apelo para que as mães e os pais de crianças autistas pensem sobre isso, porque é a gente que tem que lutar para que um dia as coisas sejam diferentes. Sua criança autista um dia vai ser jovem, vai ser adulta, e não é justo que eles passem pelo que eu passei e ando passando, porque não é fácil.”

O que fazer para mudar esse cenário?

Infelizmente, a dificuldade de acesso aos tratamentos para o autismo é uma realidade inegável. Meiry compartilha informações sobre a situação em sua região e pede ajuda:

“Falando do cenário aqui da minha cidade, por exemplo, tem um pouco mais de 80 mil habitantes e não tem NADA para os autistas adultos. E nós acreditamos que seja uma população de mais de 6 mil autistas. Eu tenho um grupo com mais de 184 mães de crianças e adolescentes autistas, e nem para as crianças, que geralmente conseguem mais tratamentos, têm atendimento de verdade. Toda semana eu recebo 5, 6 mensagens de mães pedindo ajuda, perguntando o que fazer pra conseguir terapia para as crianças. Elas até podem ir no ministério público, mas a realidade é que isso não resolve o problema. Precisamos entrar com uma ação coletiva, porque estamos falando de uma comunidade.

Também precisamos fazer um trabalho de conscientização. Estou trabalhando para isso, sou vice-presidente do Conselho da Pessoa com Deficiência. Mas eu não vou mudar as coisas sozinha. O que muda as coisas de fato são as pessoas e o amor. Peço ajuda, chamem as pessoas para esse movimento. Vou estar com equipe multidisciplinar, vereadores, poder público, com as mães. Vamos criar medidas para melhorar a qualidade de vida dos autistas.”

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Foto: Arquivo pessoal – Cedida por Meiry.

Obrigado pela leitura!

Essa foi com certeza uma das histórias mais impactantes contadas aqui no Autismo em Dia. Meiry é mais do que uma mulher com autismo e altas habilidades. Ela é uma pessoa inspiradora que não tem medo de lutar. É uma honra contar a sua história aqui.

Torcemos para que ela inspire cada vez mais pessoas a se juntarem a essa causa tão importante.

Quer entrar em contato com ela para saber como ajudar? Acesse seu Instagram @meiryrochha.

Para continuar lendo histórias inspiradoras de autistas da vida real, visite a nossa categoria de textos #proTEAgonistas e siga o Autismo em Dia nas redes sociais.

Até a próxima! 💙

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3 respostas para “Autismo e altas habilidades: Conheça Meiry”

  1. Pauliana disse:

    Muito orgulho dessa Mulher que Meire uma inpiraçao pra mim ..parabéns.

  2. ALEXANDRA CARVALHO disse:

    A história de Meyri chamou minha atençao pelo relato da agressividade. Estou com a guarda provisória de uma criança com pré-diagnóstico de TEA e, na busca por informações sobre o assunto, descobri a minha condição de autista. Ainda estou em avaliação, mas, hoje consigo controlar minhas reações e emoções. Sou advogada, tenho 48 anos e não entendia algumas reações agressivas e descontroladas, muitas vezes fui rotulada de maluca. Penso como seria se eu soubesse que sou autista, reformularia as coisas do jeito que entendo, pediria para que as pessoa me explicassem de outra forma, minha vida teria sido mais fácil.

    • Autismo em dia disse:

      Oi Alexandra, o diagnóstico pode sim trazer mais compreensão. Avalie a possibilidade buscar um especialista pra investigar. Estamos por aqui, forte abraço! 💙

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