Arteterapia: quando a arte faz parte do tratamento do autismo


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Postado por Autismo em Dia em 09/nov/2022 - 11 Comentários

Você já ouviu falar sobre a arteterapia? Trata-se de um tratamento que usa o processo criativo de fazer arte para melhorar o bem-estar físico, mental e emocional de alguém, sendo muito interessante no tratamento do autismo. Isso porque o processo criativo envolvido na expressão artística ajuda a resolver conflitos e problemas, desenvolver habilidades sociais, gerenciar comportamentos, reduzir o estresse, aumentar a autoestima e autoconsciência, entre outros benefícios. 1

Num contexto clínico, quem aplica a arteterapia são os profissionais com graduação na área da saúde devidamente especializados, como psicólogos, enfermeiros e fisioterapeutas, por exemplo.2 A forma de aplicar esse tipo de terapia varia muito de acordo com cada caso, podendo ter um  fluxo livre ou estruturado, aberto ou orientado, de acordo com as necessidades individuais de cada paciente. 1

Quer saber mais detalhes sobre a arteterapia e como ela pode ajudar no tratamento do autismo? Então continue a leitura!

Índice

Por que apostar na arteterapia no tratamento do autismo?

Para começar, a arteterapia pode ser uma ótima maneira de abrir portas para a autoexpressão e o engajamento das pessoas com autismo. Afinal, uma das características do transtorno do espectro autista é a dificuldade de comunicação verbal e social.

Em alguns casos, os autistas são de fato não verbais, ou seja, não usam a fala para se comunicar. Em outros casos, eles têm dificuldade em processar a linguagem e transformá-la em uma conversa suave e fácil. Autistas também podem ter dificuldade em ler as expressões faciais e a linguagem corporal. Como resultado, eles podem ter dificuldade em entender uma piada de duplo sentido ou sarcasmo, por exemplo.

Por outro lado, muitos autistas têm uma capacidade extraordinária de pensar visualmente, ou seja, “em imagens”. Muitos podem usar essa capacidade para processar memórias, registrar imagens e informações visuais e expressar ideias por meio de desenhos ou outros meios artísticos. A arte é uma forma de expressão que requer pouca ou nenhuma interação verbal que pode abrir portas para a comunicação.

A arteterapia oferece uma oportunidade para os terapeutas trabalharem individualmente com os autistas para desenvolver uma ampla gama de habilidades de uma maneira que pode ser mais confortável (e, portanto, mais eficaz) do que a linguagem falada. 1

arte autismo

Fonte: Envato/ckstockphoto.

Existe diferença entre uma sessão de arteterapia e uma aula de arte comum?

Com certeza! A arteterapia é uma ferramenta para ajudar os pacientes a acessarem suas emoções. Por outro lado, as aulas de arte fornecem aos alunos instruções sobre como alcançar efeitos ou objetivos artísticos específicos. Embora as aulas de arte possam ser apropriadas para indivíduos com autismo, elas não substituem a arteterapia.

Como os terapeutas usam a arte no tratamento do autismo?

Sessões regulares de arteterapia ajudam os autistas na escola e em casa, melhorando a interação entre colegas, amigos e familiares, construindo autoconfiança e controlando as emoções. Ao entrar em contato com vários materiais de arte, é possível desenvolver habilidades motoras finas e grossas mais consistentes e mais flexibilidade em situações desconhecidas. Esta terapia explora o meio artístico como forma de autoexpressão.

Segurar um pincel ou lápis, fazer um colar de miçangas ou modelar argila proporciona uma sensação de controle e ajuda a alcançar a autonomia. Embora a maioria das sessões de arteterapia seja individual, elas também podem ocorrer em um ambiente de grupo. Nesses casos, ter suprimentos de arte limitados permite que as crianças pratiquem o revezamento, melhorando as habilidades sociais.

Trabalhar em conjunto em uma única obra de arte também promove relacionamentos entre os participantes. Nesse tipo de cenário, uma criança desenha algo e a figura é passada para a próxima, que acrescenta ao trabalho até que todos tenham contribuído com sua parte. Esta atividade permite que as crianças reconheçam as pessoas ao seu redor e estejam mais  conscientes uns dos outros e do seu envolvimento no projeto.

A arte é emocional, quer você a esteja criando ou visualizando. A arteterapia permite que crianças com TEA reconheçam e controlem suas emoções em uma situação estruturada. Muitos indivíduos no espectro do autismo têm falta de controle de impulsos e podem ser facilmente superestimulados. A arteterapia ajuda os participantes a identificar situações de gatilho e desenvolver mecanismos de enfrentamento. 3

Fonte: Envato/prathanchorruangsak

Faixa etária ideal para o tratamento

Uma criança com TEA pode começar a arteterapia aos dois ou três anos de idade, e o tratamento não se limita à infância. Ou seja, adolescentes e adultos também podem se beneficiar muito, de diferentes maneiras. O importante é que, independentemente da idade, seja levado em conta que uma abordagem individualizada projetada para atender às necessidades de cada um sempre funciona melhor. Ou seja, a pintura pode ser apropriada para uma criança, enquanto o artesanato pode ser melhor para outra e etc. 3

A arteterapia é confortável para os autistas?

Existem diversos fatores a serem levados em consideração quando o assunto é ser ou não confortável: sensibilidade sensorial, quebra de rotina, dificuldades com a interação, etc. Com certeza, existem situações desafiadoras para lidar. Mas isso não muda o fato de que a intervenção vem para trazer muito mais benefícios do que enfrentamentos. Além disso, com a adaptação correta, esses obstáculos têm grande potencial de se tornarem muito menos relevantes.

Ter alguma rotina durante as sessões de arteterapia é essencial para ajudar a engajar o autista no processo. Para alguns pacientes, uma atividade de planejamento pode ajudar na adaptação com as sessões. Além disso, anunciar quanto tempo resta alguns minutos antes do final da sessão permite que a pessoa saiba o que esperar, em vez de terminar a sessão abruptamente, o que às vezes pode causar ansiedade.

Os arteterapeutas também podem limitar o número de materiais de arte utilizados, o que também é útil. Ter muitas opções pode ser confuso e super estimulante. Alguns materiais podem não funcionar para alguns, portanto, pode ser necessário um tempo para a tentativa e erro. Indivíduos com problemas sensoriais provavelmente não se darão bem com a pintura a dedo, pois não querem tocar na tinta. No entanto, eles podem utilizar um pincel de cabo longo ou trabalhar com lápis de cor. 3

Fonte: Envato/Mint_Images

A arteterapia é uma combinação poderosa

Misturar o processo terapêutico com a arte é extremamente poderoso. Afinal, autistas podem ser pensadores e artistas extremamente criativos. Para tirar o máximo proveito desse potencial, é importante trabalhar e desenvolver técnicas saudáveis ​​para expressar essa criatividade.

Um estudo revelou que existe uma forte conexão entre os autistas e o pensamento criativo. Ele mostrou que, ao manusear uma ferramenta, autistas são mais propensos a oferecer sugestões de usos alternativos do que os neurotípicos. Essa criatividade, quando canalizada de forma produtiva, pode ser muito útil e produzir alguns resultados surpreendentes para ajudar no desenvolvimento cognitivo e fazer arte em suas várias formas.

A criatividade pode ajudar a criar desenvoltura, que é uma característica muito trabalhada no tratamento do autismo. Fazer arte pode ser um processo não estruturado ou estruturado que ajuda os pacientes a praticar suas habilidades enquanto usam ferramentas para desenhar, pintar ou aprender um instrumento. A sensação de orgulho que a conclusão de uma obra de arte traz também pode melhorar a confiança e a autoestima. De fato, a conexão é profunda e importante. 4

Estimulando a criatividade das crianças em casa

É claro que trabalhar com as artes e a criatividade em casa não é mesmo que a arteterapia, que é uma especialidade aplicada por profissionais de saúde capacitados. No entanto, estimular a prática de atividades que envolvem a arte em casa, quando for do interesse da criança, também pode ser muito positivo.

Veja algumas ideias:

  • Colorir em um livro de figuras ou desenhar em uma folha de papel, tela, quadro branco ou calçada.
  • Desenhar à mão livre ou pintar com tinta guache.
  • Fazer música com instrumentos de brinquedo ou até mesmo matricular-se em aulas que possam se encaixar nos interesses da criança.
  • Dançar livremente ou acompanhando um vídeo ou tutorial.
  • Ler um livro para se divertir sozinho ou com um membro da família.

Todas essas atividades não são apenas divertidas, mas também maneiras incríveis de ajudar a arte e a criatividade do seu filho a florescer enquanto ele explora seus interesses e habilidades. E como bônus, você ou outro membro da família pode estar com eles não apenas supervisionando, mas aproveitando a diversão. 4

A arteterapia é uma grande aliada

A arteterapia é certamente uma maneira envolvente de engajar alguém no processo terapêutico. Ela desenvolve diversas habilidades cognitivas, motoras e sociais. Além disso, ao observar sua obra por diferentes ângulos, é mais fácil para o paciente aprender a aplicar isso em outros contextos e visualizar algumas situações cotidianas de forma menos rígida.

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Obrigado pela leitura. 💙


Referências e data de acesso:

1- Verywell Health – 10/10/2022.

2- SciELO – 10/10/2022.

3- Disabled Living – 10/10/2022.

4- The place for children with autism – 10/10/2022.

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11 respostas para “Arteterapia: quando a arte faz parte do tratamento do autismo”

  1. Tania Moreira disse:

    Ola! Parabéns pelo tema tão esclarecedor! A Arteterapia promove muitissimo bem estar a todas as crianças. Autistas se beneficiam bastante desta abordagem, pois de maneira sutil, delicada, respeitando seu tempo e suas possibilidades, podem e produzem trabalhos incríveis e o melhor de tudo, expressam seu mundo interno de maneira lúdica, agradável e prazerosa.

  2. Daise Wolf Roese disse:

    Publicação muito boa e esclarecedora 😉

  3. Alice disse:

    Existem cursos de arte terapia voltado para TEA? Poderia me indicar algum ?

    • Autismo em Dia disse:

      Olá, Alice. Existem diversos cursos de arteterapia, online e presencial. Indicamos fazer uma pesquisa mais profunda para identificar com qual se identifica. Um abraço!

  4. Marcelo Henrique disse:

    Maravilhosas essas dicas. Vou seguir para implementar minhas oficinas criativas. Obrigado!!!

  5. Penha disse:

    sou psicóloga e arteterapeuta. uso muito a arteterapia,principalmente com.crianças, trata – se de ferramenta valiosíssima. certa vez trabalhei com uma criança autista, QI superior. Ela apresentava dificuldades de relacionamento. Foi muito bom. ótimos resultados.

  6. CLEISON LUIS RABELO disse:

    MARAVILHOSO O TEXTO E EXPERIÊNCIA

  7. ADEL FABIAN GIACOMINI disse:

    Estou participando de um projeto com crianças e adolescentes com autismo de diferentes graus. Eu (arteterapeuta) e uma psicóloga. A experiência são 3 meses com um encontro de 1h30min por turma, por semana, com 4 turmas diferentes, agrupadas de acordo com a idade. No primeiro mês de trabalho buscamos observar os comportamentos e tendências de cada um, oferecendo materiais e situações que apoiassem suas tendências, o que nos trouxe dezenas de situações e experiências norteadoras de possibilidades.

    Iniciamos o segundo mês, sendo que agora estamos restringindo os estímulos e propondo 1 atividade de referência a ser aplicada em todas as turmas, atividade esta planejada para ser feita em grupo, mas com expressão individualizada. Conseguimos aplicá-la em 2 turmas, e nas outras duas o fluxo expressivo dos “alunos” não permitiu a aplicação deste plano. Mesmo para as duas primeiras turmas, o plano teve que ser adaptado e redesenhado, pois cada criança responde de maneira diferente ao proposto, então há sempre um jogo de adaptação entre a intenção do que foi planejado + a adesão maior ou menor da crianças, ou em alguns casos nenhuma adesão, visto que a criança simplesmente não quer aderir a proposta.

    Como estamos atuando num espaço escolar, utilizamos também uma parte dos encontros para as atividades motoras e físicas, proporcionando liberdade nos brinquedos de pracinha, exploração do espaço natural e recentemente introduzimos bolas para exploração do “vôlei” e “futebol” (mãos e pés).

    Na penúltima turma foi proposto uma atividade em roda, de mãos dadas, com proposição expressiva individual em grupo que surtiu efeito positivo.

    De uma maneira geral posso afirmar que muitos progressos foram observados através do uso criativo de diferentes recursos expressivos com viés arteterapêuticos, como massa de modelar EVA, lápis de cor e canetinhas hidrocores, giz de cera, utilização de lousa, alguns instrumentos musicais, elementos construtivos como caixas de papelão, uso de fita crepe, expressão corporal lúdica e uso de moldes como deflagrador de processos criativos. Tivemos inclusive a criação de uma história a partir dos desenhos com narração e filmagem pela criança, que se transformou numa exibião de “filme”. A mesa criança se sentiu muito orgulhosa e quis mostrar para sua mãe a produção.

    Este é um dos exemplos que estamos observando de como a expressividade aliada ao apoio e incentivo pode ativar a imaginação, a expressão e a construção de uma obra expressiva completa, em apenas uma sessão.

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