Voz em Papel: ela foi de mãe de autista a empresária do autismo


Voz em papel

Postado por Autismo em Dia em 07/jun/2022 - 2 Comentários

Imagine que você é mãe de autista e precisa encontrar materiais que, de fato, atendam às necessidades de comunicação da criança. Então, imagine também que os poucos materiais disponíveis são caros ou de difícil acesso. O que você faria em uma situação como essa? A paulista Áurea Medeiros, de São Bernardo do Campo, passou por isso e foi aí que ela criou a empresa Voz em Papel. Hoje, ela é nacionalmente reconhecida como uma marca especializada em produtos para autismo.

A empresa, que vem crescendo bastante nos últimos anos, é especializada em brinquedos e atividades para diferentes necessidades. Logo, seus produtos trabalham áreas como pistas visuais, comunicação alternativa, materiais de educação e atividades para a vida diária.

Nós fomos, então, conversar com a Áurea que, ao lado do seu esposo, Antonio, vem transformando e facilitando a vida de muitas mães e pais de autistas pelo Brasil.

Produtos para autistas - voz em papel

Fonte: Reprodução – TV Record

Índice

Voz em Papel – como tudo começou

Assim como boa parte dos grandes negócios, a Voz em Papel surgiu de uma necessidade familiar. Áurea, que é mãe do Thomas, que é autista, sentia que ela não tinha tudo que era necessário para ajudar o filho. Por isso, o seu esposo, que já tinha uma experiência como designer gráfico, fez de forma independente um material pensado em ensinar passos de rotina.

Foi aí que, então, conversando com a psicóloga do filho, o casal ouviu da mulher o que viria ser uma dica de ouro. A profissional disse aos dois que eles poderiam, sim, transformar aquilo em trabalho por conta da experiência que eles já tinham como pais de autistas.

Além disso, uma opinião que era compartilhada pela psicóloga e por Áurea e Antonio era de que existe, de fato, uma necessidade coletiva. Muitos pais e mães não sabem como agir quando estão em casa, longe dos olhos atentos dos profissionais.

E ali estava, sem dúvida, o primeiro sinal de que a Voz em Papel poderia ocupar um lugar tanto social como de negócio. Pouco tempo depois, Antonio se despediria de seu emprego na área administrativa, enquanto Áurea sairia de seu emprego em uma transportadora.

LEIA TAMBÉM: Autism Friendly – o que são as experiências amigáveis ao autista?

Como a pandemia impulsionou a importância da Voz em Papel

Aqui no blog do Autismo em Dia nós já entrevistamos diversas famílias. E um fato que é peculiar é que todas foram, justamente, em um período de pandemia. Deste modo, algo que foi compartilhado pela maioria das mães e pais que entrevistamos é que, durante o período de isolamento, muitos deles tiveram que aprender como compensar a falta da escola e das terapias em um período que antes era de pleno desenvolvimento.

Perguntamos, então, para Áurea, como esse momento crítico, tão difícil para muitos, fez a Voz em Papel se tornar um espaço relevante para as famílias de autistas.

“De 2019 para cá, nós já crescemos bastante. Então nós tínhamos 5 funcionários, hoje a gente já tem 8. Com a questão da pandemia veio, também, a questão da rotina desses autistas. Eles tinham uma rotina já determinada, iam para a escola, para a terapia e, de repente, tudo parou.

E, por conta disso, produtos pensados para a rotina foram os itens que a gente mais vendeu nesse período, principalmente no início da pandemia. Eles ajudavam as crianças a entender que, agora, não tinha mais a escola presencial, que eles não iam mais para a terapia. Eles iam fazer as atividades em casa.

Fora os materiais de rotina, também tivemos boa procura por materiais de alfabetização, também materiais para ajudar os pais a ensinarem soma e subtração. Tudo isso, deste modo, as mães compravam para suprir as necessidades da escola, que ficou um bom tempo sem funcionar”, conta Áurea.

produtos para autistas macaco caco

Fonte: Divulgação – Voz em Papel

O impacto dos produtos nas famílias e na comunidade profissional

Algo que, provavelmente, passou pela cabeça do casal quando criaram a Voz em Papel foi se os produtos seriam eficazes para outros autistas além de Thomas. E, sem dúvida, se ele teria uma boa aceitação com clientes como psicólogos e terapeutas.

Logo, isso não era mais uma dúvida, mas sim uma certeza. Áurea conta, com um tom de satisfação, que recebe muitos elogios e os clientes retornam.

“Eu tenho um retorno super positivo dos pais tanto quanto dos profissionais com relação aos nossos produtos. Isto porque eles encontram respostas e conseguem ensinar coisas para as crianças através desses materiais. Então, por exemplo, se a criança tem dificuldade de imitar, nós temos um macaquinho no site que chamamos de Caco. O Caco é para ensinar imitação orofacial, que são algumas gesticulações com a boca. Eles, os autistas, vendo, então o macaquinho Caco fazer, conseguem reproduzir esses movimentos”, explica Áurea.

Aliás, falando em macaquinho, as ideias lúdicas são fonte de inspiração para outros produtos da marca. No site, que você pode conhecer clicando aqui, é possível ver diferentes animais, assim como reproduções infantis do corpo humano, sempre pensando nas diferenças entre meninos e meninas. Além disso, a Voz e Papel busca também a inclusão, com personagens humanos de diferentes cores de pele.

Produtos para autistas pedagógicos

Fonte: Divulgação – Voz em Papel

Experiências pessoais que geram novos produtos para a Voz em Papel

Como é de amplo conhecimento – ainda mais para quem já acompanha os artigos do nosso blog – o autismo se manifesta de formas muito diferentes em cada pessoa. Por isso, desenvolver produtos que atendam demandas de autistas é sempre um desafio. Afinal, como achar pontos em comum para que o produto alcance um número razoável de pessoas e, ao mesmo tempo, trabalhar necessidades específicas?

Quando perguntamos isso para Áurea, elas contou para nós que a Voz em Papel atua de uma forma muito humana quando o assunto é desenvolver novos materiais. Assim, ela parte de experiências e demandas específicas para entender, de fato, o que falta na vida dos clientes.

“Nós estamos, constantemente, criando novos produtos e essa criação constante vem de várias fontes diferentes. A gente tem, por exemplo, aquela profissional que tem uma demanda específica com uma criança autista de um nível específico, que pode ser leve, moderado ou severo. Então, essa profissional traz para nós essa demanda para a gente desenvolver um produto.

Tem, do mesmo modo, o pai ou a mãe que tem uma dificuldade característica daquela criança quando, por exemplo, ela está entrando na adolescência. Por esses motivos, dependemos muito de entender e estudar a necessidade que aparece na nossa frente.”

LEIA TAMBÉM: O aluno autista está preparado para voltar à escola?

E falando em adolescência, Áurea conta, também, que Thomas, seu filho, está entrando agora na adolescência. E que a marca, que tem basicamente só produtos infantis, já enxerga a necessidade de trabalhar essa fase da vida.

“Nós já estamos pensando em alguns produtos para trabalhar algumas questões com ele de puberdade e sexualidade. São coisas que nós desenvolvemos pensando tanto nele, como em outras crianças que vão se beneficiar com isso”, explica Áurea.

autismo voz em papel

Fonte: Reprodução – TV Record

De mãe de autista a empresária do autismo

Áurea pode até ser, hoje, uma empresária de sucesso. No entanto, na intimidade, ela é como qualquer outra mãe ou pai de autista, e encara, diariamente, desafios que, mesmo o maior dos sucessos, nem sempre pode transpor com facilidade.

E, para Áurea, de certo modo ter chegado onde a família dela chegou é um privilégio pelo qual ela é grata.

“Eu fico, de fato, muito feliz em saber que posso contribuir com outros pais que passam pelas mesmas dificuldades pelas quais eu passo ou já passei. Ou seja, nada é por acaso e não foi por acaso que nós chegamos até aqui. E eu ainda passo por várias dificuldades com meu filho, mas eu sempre acreditei no potencial dele.”

Sobre o lado empresária, ela ainda vê com bons olhos o futuro do negócio e o que isso vai trazer para a comunidade autista.

“Eu entendo que a demanda vai aumentar porque estamos tendo cada vez mais informação sobre o que é o autismo. Temos, ainda, mais diagnósticos precoces, mais políticas de inclusão, mais informações na mídia, entre outras coisas. Tem muito espaço para crescer e mais pessoas para ajudar. Sigo fazendo do limão, uma limonada e fazendo do nosso produto uma forma de democratizar o acesso aos materiais que todos deveriam ter”, conclui.

Sua história também pode ser um exemplo

A história da Áurea, do Antonio e do Thomas é, sem dúvida, um exemplo de como a comunidade de famílias de autistas vem se fortalecendo através de uma rede de apoio. E seja através da presença nas redes sociais, na atuação política, na criação de negócios ou mesmo em uma palavra de conforto, o fato é que é essa disposição pode mudar a história, assim como já vem mudando. O que não exclui, claro, a responsabilidade do poder público de possibilitar melhores escolar, melhores clínicas e uma sociedade mais preparada.

E assim como a Áurea e várias outras mães já passaram por aqui, a sua história com o autismo pode ser a próxima. Se você tem algo a contar, então entre em contato pelas nossas redes sociais Facebook ou Instagram. E não se esqueça, também, de conferir nossos conteúdos do YouTube.

Obrigado pela leitura e até a próxima!

 

“O Autismo em Dia não se responsabiliza pelo conteúdo, opiniões e comentários dos frequentadores do portal. O Autismo em Dia repudia qualquer forma de manifestação com conteúdo discriminatório ou preconceituoso.”

2 respostas para “Voz em Papel: ela foi de mãe de autista a empresária do autismo”

  1. Angelina Moura disse:

    Trabalho com meninos autistas e sinto muito amor por eles, podem não aprender muito mas estão connosco e fazem-me sentir outra pessoa. São muito simpáticos e acolhedores. Fiz uma formação sobre o autismo que me ajudou muito a perceber um pouco sobre eles.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


error: Este conteúdo é de autoria e propriedade do Autismo em Dia