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Postado por Autismo em Dia em 29/abr/2022 - Sem Comentários
São poucas as iniciativas no Brasil que agregam um conteúdo diverso sobre o autismo. No entanto, desde 2018, o seminário Rio TEAMA concentra especialistas em diversos assuntos num encontro com autistas e familiares. A ideia do evento sempre foi incentivar discussões que causem impacto social de verdade. E esta quarta edição, que aconteceu entre os dias 25 e 27 de março na capital carioca, mostrou que o evento está no caminho certo.
Para se adaptar às novas formas de fazer evento, o evento transmitiu os painéis temáticos também pela internet, para inscritos que não puderam estar presentes no local. Porém, como contou Andrea Bussade, uma das organizadoras do evento, o engajamento no presencial foi bem maior do que no on-line – e com gente do Brasil inteiro. Isto, sem dúvida, demonstra a importância de um seminário nestes moldes.
A seguir, você confere um resumo do que aconteceu de mais importante no Rio TEAMA 2022.
Índice
A pandemia já tinha afetado a terceira edição do evento, que foi atrasada em 1 ano. No entanto, como conta Andrea, foi nessa edição que o retorno foi, sem dúvida, mais animador, reunindo mais de 500 pessoas, somente no presencial.
“As pessoas estavam muito felizes porque esse foi o primeiro grande evento de autismo desde o início da pandemia. Mas nós tomamos muitos cuidados, a começar pela escolha de ser um local bem amplo”, conta.
A organização do evento também se orgulha não apenas da presença maciça, mas de um público cheio de diversidade. Na plateia, como conta Andrea, era possível encontrar pediatras, psiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogos. Mas também famílias acompanhadas, claro, dos autistas. Afinal, uma preocupação desta edição era não ter discursos afastados da realidade.
O Rio TEAMA 2022 não trouxe um tema único principal. Ao contrário, buscou ser plural, acreditando que todas as áreas importam. A prova disto está numa variação muito interessante de assuntos, divididos estrategicamente nos três dias de evento.
Na sexta-feira, 25 de março, o tema foi “iniciando no universo do autismo”. Nesse dia, as palestras envolveram assuntos como: gestão transdisciplinar, a relação da alimentação com as complicações do autismo, impactos sensoriais, comunicação e linguagem, método ABA, diagnóstico e tratamento, entre outros.
Com o tema “adolescentes, autistas adultos e perspectivas”, o sábado, dia 26, foi outro dia marcante do evento. No palco, temas como: neurobiologia, medicação, comorbidades e prejuízos em autistas adultos, comunicação alternativa, mutismo seletivo, método TARE e exercícios físicos.
Já no último dia, o domingo, 27, foi marcado pelo tema “direitos e inclusão dos autistas e exemplos de sucesso”. Os temas expostos incluíam: inclusão escolar e intervenção, direito à diversão, ativismo e políticas públicas, exposição do projeto Capacitar para Cuidar, práticas inclusivas na escola, a arte no desenvolvimento das habilidades e direitos dos autistas.
Os temas expostos no terceiro dia de evento são, sem dúvida, os que mais se aproximam de unir familiares, autistas, profissionais da saúde e pessoas de influência. Isto porque o ativismo vem acontecendo de diversas formas. Desde mães que criam páginas na internet para expor seu dia a dia como cuidadora de autista, até o nível político, de pessoas que simpatizam com a causa e buscam criar iniciativas práticas.
Para Andrea, o contexto social do Brasil praticamente implora pelo crescimento desses movimentos.
“Algumas pessoas como eu ou como o dr. Deltan Dallagnol (um dos palestrantes e que também tem uma filha autista), têm condições de pagar pelos tratamentos. Agora, para quem não tem, a criança não se desenvolve. O próprio ABA, um dos assuntos que foi exposto, é um método caríssimo.
Então as pessoas entram na Justiça contra os planos de saúde para conseguir o tratamento. Ou, ainda pior, quem depende apenas da saúde pública não tem nada.
Durante o Rio TEAMA ficou gritante, para mim, o fato de que as pessoas precisam quantificar o desenvolvimento dos filhos autistas pela quantidade de dinheiro que elas têm. E, pelo menos aqui no Rio de Janeiro, existe zero de políticas públicas. E quem, de fato, faz alguma coisa, são os pais.“
Andrea conta, ainda, que vem tentando, através do seu instituto, a instalação de um lugar que possa oferecer, gratuitamente, tratamentos como o ABA, mas também aconselhamento jurídico.
“Muitas mães e pais sequer sabem direitos básicos que os autistas têm, como LOAS, gratuidade no transporte público, entre outros. Além disso, muitas mães precisam parar de trabalhar para poder acompanhar os autistas, o que diretamente faz diminuir a renda da casa. Isso é algo desumano“, conclui Andrea.
A partir do lema “nada de nós, sem nós”, Andrea conta, ainda, que a participação de autistas de forma direta no evento é algo que torna o seminário ainda mais importante e emocionante.
Entre as palestras, por exemplo, o público pode contar com bate-papos, estandes de produtos e até um desfile. Tudo isso contando diretamente com a presença de autistas ou com síndrome de Down.
Inclusive, como contou Andrea, a organização chegou a pagar a viagem de alguns autistas para participar do evento. Autistas que foram de muito longe. Por exemplo, uma menina autista de João Pessoa, acompanhada de sua psicóloga, e um médico que também é autista, que viajou do Mato Grosso até o Rio de Janeiro.
Outro destaque foi a pintora, criadora de conteúdo e autista Jessy Blue, que subiu ao palco com a artista plástica Graziela Gadia para falar sobre a arte no desenvolvimento de quem está no transtorno.
Além disso, Gabriel, filho de Andrea (cuja história nós já contamos por aqui), pode vender seus bottons em um estande nos corredores do evento.
Um seminário desse tamanho não poderia acontecer sem o apoio dos patrocinadores. Um deles, é claro, foi o Autismo em Dia, que esteve com a organização desde a edição de 2018. Além do apoio ao evento, quem passou pelo nosso estande ainda tinha a chance de conhecer mais do nosso trabalho e receber brindes exclusivos.
Para Andrea, a presença de patrocinadores permite que a organização, que não tem fins lucrativos, aumente as possibilidades e possa oferecer mais qualidade ao público.
“Nesta edição, além do Autismo em Dia, também tivemos outros patrocínios grandes, como o do SESC, que chegou de última hora, mas que fez uma grande diferença. O evento é muito caro porque a gente traz palestrantes de todos os lugares, trazemos autistas de fora do Rio, tem acompanhamento dos psicólogos desses autistas, avião, hospedagem, alimentação e tudo mais. Mas, sem dúvida, tudo isso vale a pena”.
Apesar de o evento principal do Rio TEAMA ser, claro, na capital fluminense, existem projetos de expansão para além da edição de 2023.
“O retorno do Rio TEAMA 2022 foi muito legal. Então, nós já estamos planejando uma edição em Campos do Jordão, que é uma cidade que, apesar dos atrativos turísticos, a população local não tem à disposição bons tratamentos para o autismo. No momento, estamos em busca de parceiros para conseguir fazer um evento gratuito e pensado para quem vive lá.”
Andrea é coordenadora do Instituto Rio TEAMA, um braço social do evento e que organiza soluções e eventos de cunho mais humanitário, sempre para atender à população com menos recursos. No mês de abril, por exemplo, o instituto levou crianças, adolescentes e adultos autistas da população de baixa renda para ver de perto a iluminação azul no Cristo Redentor, ponto mais famoso da capital do Rio de Janeiro.
Andrea explica que eventos assim são feitos muito com a ajuda de uma rede de apoio entre as famílias.
“Eu vivo o autismo há 22 anos e sou muito conhecida aqui no Rio de Janeiro. Então essas pessoas que nós levamos para o Cristo Redentor são pessoas que vão aparecendo através desses contatos. É uma amiga que me conta que a faxineira tem 2 filhos autistas, uma amiga que mora em comunidade, um grupo que vem de alguma associação filantrópica, e por aí vai. E a gente não limita a participação de ninguém, nem por níveis de autismo, nem por idade. Muitos eventos são feitos apenas para crianças, mas a gente quer ser diferente”.
O instituto conta ainda com iniciativas de inclusão no mercado de trabalho para autistas adultos com diferentes habilidades.
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Como reflexão final, Andrea ressalta a importância de o Rio TEAMA ser pensado para pensar soluções locais.
“Me incomoda muito as pessoas não terem acesso e os autistas só serem lembrados na época das eleições. A gente vê pessoas que têm muitas condições saindo do Brasil pra procurar tratamento lá fora, e o filho dessas pessoas se desenvolve bem. E, sinceramente, eu não vejo essas pessoas com tanto poder aquisitivo investirem aqui no país. Eu vejo é as pessoas que poderiam ajudar escondendo que têm filhos autistas.
Eu achei, por exemplo, muito legal o dr. Deltan Dallagnol falar sobre como um encontro com uma caixa de supermercado que também era mãe de autista fez ele perceber o tamanho das diferenças sociais no tratamento do autista. Por isso a palestra dele sobre direitos dos autistas deu um show. Porque a gente quer esses tratamentos de primeira pelo SUS”, explica Andrea.
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Nós, do Autismo em Dia, esperamos estar juntos novamente na edição de 2023 do Rio TEAMA e ser parte de uma iniciativa que pensa num mundo melhor para os autistas e familiares. E para ler e assistir mais conteúdos sobre o TEA, nos siga no Facebook, Instagram e YouTube.
Até a próxima!
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