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Postado por Autismo em Dia em 28/jun/2021 - 6 Comentários
Se você acompanha o Autismo em Dia, já conhece nossa série de artigos que contam histórias de autistas da vida real. Se você ainda não conhece, seja bem-vindo! Você chegou num dia super especial, pois hoje nós iremos conhecer mais um proTEAgonista adulto! Luiz Manoel Ribeiro de Campos é um jovem com autismo de grau leve de 28 anos de idade que trabalha na área de TI. Ele nasceu em Siqueira Campos e cresceu em Santo Antônio da Platina, no Paraná, onde vive atualmente.
Conversamos com ele para descobrir um pouco sobre a sua história, diagnóstico e o que ele tem para compartilhar sobre sua trajetória e experiência enquanto autista. Quer conhecer essa história mais de perto? Então vem com a gente!
Índice
Nada melhor do que começar o texto contando alguns detalhes sobre a profissão e os hobbies que tem tudo a ver com a personalidade do nosso entrevistado. Confira o que ele nos contou a respeito disso:
“Gosto muito de tecnologia e de números. Sempre fui curioso para entender o funcionamento dessas máquinas. Quando ganhei meu primeiro computador, abri ele no outro dia para ver o que tinha lá dentro. Não desmontei nada, só fiquei olhando, curioso. Até que um dia eu o desmontei e tentei montar de novo, mas não funcionou. Fui com a minha mãe levar o computador para o técnico, e achei muito interessante ver ele trabalhando sozinho no meio de um monte de máquinas. Foi o primeiro contato que eu tive com a profissão e eu já senti que era algo que eu queria fazer, mesmo sendo criança.
Atualmente eu trabalho na área de TI e tenho especialização em hardware. É o que gosto: faço manutenção de computadores e consoles. A escolha da minha profissão foi óbvia para mim: eu gosto de tudo que envolve essa área e é um trabalho que não envolve muito contato com outras pessoas, o que eu acho ótimo. Não é fácil para mim lidar com pessoas. As máquinas fazem aquilo que você programa elas a fazer, o resultado é previsível. Com o ser humano é totalmente o contrário, é tudo muito instável. Talvez seja por isso que eu vejo tanta beleza na matemática: ela é precisa.
Eu vejo a vida de uma perspectiva bem diferente. Consigo ver uma lógica numérica em tudo. Fora a tecnologia, que gosto muito e tem tudo a ver com isso, também desenho muito bem. E até isso pra mim é sobre números. Foram anos e anos de prática até eu chegar na técnica que tenho hoje, e eu vejo que de fato desenhar melhorou muito a minha concentração. “
Luiz Manoel conta que tinha em torno de 16 anos quando ouviu pela primeira de alguém que poderia ser autista. Uma amiga de sua família que cursava psicologia notou, durante uma festa, que enquanto a maioria das pessoas estava socializando, ele estava num canto, sozinho. Então ela resolveu falar com ele sobre isso.
“Eu procurei ajuda e, depois de fazer uma avaliação com um especialista, recebi o diagnóstico, que foi bem tardio. Eu tinha em torno de 16 ou 17 anos. É uma pena que não fui diagnosticado antes, pois acredito que eu teria tido uma qualidade de vida bem melhor. Me ajudou muito descobrir que era autista e começar o acompanhamento profissional, muito mesmo. Antes eu não conseguia me adaptar nem um pouco socialmente. Até hoje, mesmo com os tratamentos, ainda é difícil. Mas já é muito diferente de antes. Provavelmente, antes eu nem estaria aqui conversando com alguém para falar sobre a minha vida.”
Como acontece com muitos autistas, principalmente jovens e adultos que recebem um diagnóstico tardio, Luiz Manoel passou a compreender muitas das características que o fazia diferente das pessoas a sua volta.
“O que mais se destaca dentre as características comuns no autismo, além da dificuldade em fazer contato visual, é o desconforto em algumas situações sociais. Meu grau de fobia social é muito alto. Eu não gosto de estar em locais com muita gente, principalmente lugares apertados. Me deixa um pouco eufórico, mas não no bom sentido da palavra. Se for em um lugar aberto, eu até consigo, caso contrário é muito incômodo mesmo.
Quando criança, e também no início da adolescência, eu não tinha amigos. E não é como se eu quisesse fazer amizades, mas não conseguisse. É que eu não tinha interesse mesmo. Minha mãe achava isso muito estranho, tentava me incentivar a ir brincar com as outras crianças, mas eu preferia ficar no meu canto. Nessa época meu único interesse era brincar com um daqueles mini games antigos, sozinho. Por muita insistência da minha mãe eu acabava conversando e brincando com meus primos, mas mais porque eu não tinha muito como fugir disso.
Depois do diagnóstico e de começar a fazer o acompanhamento, eu comecei a entender a importância da socialização e a me esforçar um pouco para socializar. Eu me colocava em situações em que eu precisava enfrentar essa dificuldade, e funcionou, eu fui me adaptando melhor. Não quer dizer que eu não tenha mais dificuldades quanto a isso, mas com certeza melhorei muito nesse ponto.”
Luiz Manoel também contou pra gente que outras das muitas questões que se esclareceu com o diagnóstico foi a dificuldade que sentia com alguns estímulos sensoriais: “eu não gosto de sons agudos e muito altos. Alguns eu não suporto mesmo que baixos, e também tenho hipersensibilidade à luz.” finaliza.
Para Luiz Manoel, o acompanhamento especializado foi um divisor de águas, ele contou pra gente como o acompanhamento terapêutico foi valioso e o quanto sua vida mudou desde então:
“Antes de mais nada, o tratamento me ajudou a desenvolver melhor a minha comunicação. Eu tinha muita dificuldade de me expressar, não era compreendido e isso era frustrante. Eu demorava muito para formular uma frase, por exemplo. Com um empurrãozinho do meu terapeuta, eu comecei a treinar a minha conversação com pessoas que eu confiava.
Ele também me incentivou a gradualmente me colocar em situações que eu achava desconfortáveis, mas que de alguma forma poderiam melhorar a minha qualidade de vida, para fazer uma dessensibilização mesmo. Claro, ele também sempre deixou claro que era importante eu respeitar os meus limites, e esses enfrentamentos eram sempre feitos com um propósito.
É por ver o quanto tudo isso me ajudou que eu digo e repito que o autismo precisa ser diagnosticado o mais cedo possível. Com o tratamento especializado a qualidade de vida da pessoa realmente aumenta muito.”
Infelizmente, um dos momentos mais desafiadores para Luiz Manoel foi o período do colegial, principalmente o início. Ele conta que, por ser visto como alguém diferente pelos colegas na época, sofreu muito bullying. A experiência dele nos convida a refletir sobre a importância da conscientização sobre o autismo e outras formas de diversidade dentro das escolas e também no âmbito familiar.
“Os outros alunos me viam mas não me entendiam. Eu era igual a eles, mas ao mesmo tempo, não era. Não gostava das mesmas coisas que eles, não queria estar entre eles, e muitas vezes eu sofria bullying por isso. Eu sempre fui muito alto, então era impossível não me verem, e esse destaque acabava atraindo ainda mais bullying.
Eles jogavam coisas em mim, me xingavam… Foi de longe a pior época da minha vida. Mas apesar disso tudo eu não guardo rancor e não culpo eles, que eram crianças. Nem mesmo os pais deles eu posso culpar, pois é tudo questão de falta de informação. Ninguém estava preparado para lidar com alguém diferente. O bullying é o resultado da falta de conscientização.”
Falar sobre a experiência das pessoas do espectro é de fato uma ferramenta valiosa. Essas conversas servem tanto para a própria conscientização sobre o TEA, quanto como apoio para outras pessoas que estejam investigando se são autistas, ou àquelas que receberam um diagnóstico recente. Por isso, para finalizar queremos deixar o conselho desse jovem com autismo, que certamente será muito importante, tanto para as pessoas que desconfiam que estejam no espectro, quanto para os pais e mães que notam sinais de autismo em seus filhos:
“Para quem é jovem ou adulto e desconfia que tem algum grau de autismo, o meu conselho é correr atrás de uma resposta o quanto antes. Ter essa resposta é libertador. Pelo menos, foi assim para mim. E se você descobrir que é mesmo autista, faça os tratamentos que o médico te indicar. Isso é essencial e vai te ajudar muito. Tem muita coisa que eu acho que não teria feito sem essas intervenções, como dar uma palestra na faculdade, por exemplo.
E para os pais, mães e responsáveis, além de servir o mesmo conselho acima, o que eu tenho a dizer é: se você perceber que a criança é retraída, se ela não conversa com os outros, não faz contato visual ou tem comportamentos repetitivos como se balançar pra frente e pra trás, etc, busque ajuda especializada e de suporte e possibilidades para ela. Seu filho não é diferente que ninguém, ele não é melhor ou pior que as outras crianças. Seu filho é incrível, então nunca pense menos do que isso dele.”
Esse foi o artigo sobre o Luiz Manoel, um jovem com autismo que tem muitas experiências para compartilhar. Se você gostou de conhecer essa história, acompanhe o Autismo em Dia no Instagram e Facebook para ficar por dentro de mais histórias interessantes como a dele.
Obrigado pela leitura. Até a próxima!
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Nossa gostei muito sabr como foi sua descoberta e vi minha filha de 17 anos em tudo que vc diz
Muito bom, meu filho é autista tem 12 anos está entrando na adolescência e me preocupo muito como vai ser daqui pra frente, ele sabe que é autista mas não sabe como evitar os olhares e comentários. Sempre digo pra ele não se importar com isso mas sei que pra ele é muito difícil. Sua participação foi muito boa obrigada.
Fiquei muito feliz em encontrar aqui respostas e possibilidades para minhas dúvidas(avó de Gael, 2 anos e 8 meses), eu estou com suspeita de autismo e buscando caminhos, possibilidades e acompanhamento. obrigada
?
Olá, sou Aline tenho 31 anos. Recentemente alguém especulou se sou autista, desde então surgiu essa dúvida em mim…e cheguei até esse site, e percebi que me identifico muito com o espectro. Vou buscar ajuda profissional, mais antes quero compartilhar minha vida e saber o que vcs acham.
Eu sempre fui muito tímida, muito mesmo, não gosto de falar em público, na verdade tenho pavor as pessoas sempre falam que vai passar e isso nunca passa. Me atrapalho demais ao responder perguntas direcionadas a mim quando não estou esperando fico muito nervosa e vermelha. Eu consigo responder na minha cabeça só mais na hora de falar não consigo me expressar bem. Não gosto de comer nada da cor verde (desde criança, hoje em dia até que melhorei um pouco, com muita insistência). Amo matemática, sou fascinada por números e datas de aniversários. Sou muito seletiva pra assistir televisão, na verdade nem assisto se eu tiver que escolher algo, que seja séries médicas (só isso me interessa). Gosto de joguinhos desde sempre (quando criança tinha minigames, hoje jogo no meu celular.) É difícil eu entender memes e piadas. Morro de vergonha de pedir qualquer tipo de informação pra pessoas estranhas. Eu até que frequento festas, mais fico na minha pelos cantos, só observando. Na hora das minhas refeições não suporto barulho ou quando estou trabalhando tbm, fico muito irritada.
São tantas coisas…. alguém pode me dar alguma opinião sobre isso que escrevi, posso estar dentro do espectro ?
Olá, Aline. As dificuldades sociais que você relatou e outras características, como seletividade alimentar e sensibilidade sensorial, podem sim serem sinais de autismo. É importante buscar ajuda profissional para saber com certeza, sendo indicado fazer uma avaliação neuropsicológica com um profissional especializado em autismo em adultos, além de consultar-se com um neurologista igualmente especializado.
Esperamos que encontre as respostas que procura.
Um abraço!