Autista não verbal: conheça a linda história do Frank e da Geralda!


Postado por Autismo em Dia em 13/abr/2020 - 6 Comentários

Um autista não verbal é aquele que não desenvolve a fala de maneira funcional. Ou seja, não consegue usar a palavra falada para sustentar uma interação. O que não quer dizer que ele não consiga se comunicar, pois acaba desenvolvendo uma comunicação corporal à sua própria maneira.¹

Existe uma ideia pré-concebida de que isso é uma característica exclusiva do autismo de grau severo, mas isso não é algo absoluto, apesar de ser recorrente que autistas severos apresentem a falta de linguagem verbal, como veremos na história encantadora que vamos contar hoje 😉

Geralda Aparecida, é moradora de Divinópolis, em Minas Gerais, ela é mãe do Frank, de 15 anos, um adolescente autista cheio de energia e que vive sorrindo, apesar das limitações da condição, e de ser um autista não verbal.

Ela é uma mãe bastante otimista, e foi com muita alegria que nos contou como eles vem superando, diariamente, os desafios que surgiram desde o diagnóstico. Acompanhe:

autista não verbal

Fonte: Arquivo pessoal cedido por Geralda Aparecida

Índice

Maternidade desafiadora desde o nascimento

“Ele nunca teve um desenvolvimento como o das outras crianças. Tudo nele sempre foi mais lento. Até os quatro anos, ele não andava, apenas se arrastava pelo chão. E até hoje, aos 15 anos, o Frank não fala”, conta a mãe.

A mãe lembra que no dia em que Frank nasceu, ele teve uma parada cardíaca e uma respiratória, um problema de saúde o fez ficar em coma por 20 dias e depois uma internação no CTI por quase dois meses. Por isso, mesmo antes do diagnóstico de autismo, e diferente da maioria das histórias que ouvimos sobre o TEA, os desafios com a saúde de Frank foram uma constante na vida da família, desde o seu nascimento.

A descoberta do autismo

A descoberta do autismo em Frank veio somente quando ele tinha 5 anos. O menino, que sempre estudou em escolas para crianças atípicas, logo teve seus déficits percebidos pelos profissionais que cuidavam dele na APAE de Divinópolis.

Frank foi diagnosticado como autista severo, cujo grau de dependência de um adulto é bem alta e suas habilidades são pouco funcionais. “Segundo os vários exames que fizemos, ele tem a noção de uma criança bem mais nova, apesar de ele já ter 15 anos”, explica Geralda.

Como muitas mães, Geralda admite que no começo não sabia muito bem o que fazer e contava apenas com os estímulos da escola. “Ele já tinha 12 anos quando eu comecei a aprender como trabalhar com ele, e passei a estimulá-lo em casa também. Eu percebi que, quanto mais eu fazia isso, melhor era o desenvolvimento dele”.

Uma mãe em constante aprendizado

Geralda hoje se dedica bastante a entender como o autismo funciona e busca retornar esse conhecimento, oriundo de vários cursos que vem fazendo, para a criação do filho. “Isso me dá muita força”, diz.

Entretanto, ela explica que a ingenuidade do filho a deixa temerosa. “Como mãe eu tenho medo. Nesse mundo, do jeito que está, tenho medo da maldade, do bullying. Porque, se você fizer alguma brincadeira maldosa, ele vai rir junto por que não sabe o que é”.

Assim como a Geralda, muitas mães compartilham conosco essas e outras inseguranças, por isso, com o intuito de apoiar emocionalmente essa famílias, nós preparamos um e-book que fala um pouquinho sobre esse universo cheio de amor e incertezas. Baixe o conteúdo e depois conta pra gente o que achou, ta bom?

Descobrindo o infinito azul

Um autista não verbal nas redes sociais

Voltando a nossa história, vamos contar um pouquinho do sucesso que o Frank faz na internet. Em 2018, Geralda passou a compartilhar a vida do filho pelo Instagram, na página Diário de Autista Adolescente. Na internet, ela publica fotos e vídeos do dia a dia de Frank, demonstrando a evolução do rapaz através de atividades que complementam o aprendizado. Além disso, divulga informações úteis sobre saúde autista.

Numa das publicações, por exemplo, ela registra  Frank tentando consertar um carrinho de compras que estava quebrado. No vídeo, o menino aparece bastante concentrado, em esforço nítido, enquanto a boca sofre com o bruxismo.

Assim, de uma maneira quase despretensiosa, ela interage com a comunidade de famílias com crianças autistas, servindo de inspiração e ainda um espaço de diálogo e apoio.

“Tem muitas mães que ficam sem saber como lidar quando recebem o diagnóstico e acabam vindo com perguntas sobre como tem sido para mim. Muitas já disseram que, depois de conhecer a minha história, acabaram descobrindo nos filhos delas uma outra pessoa. É gratificante”.

Você pode conhecer o Instagram da Geralda e do Frank clicando aqui.

 

Autista na escola

Fonte: Arquivo pessoal cedido por Geralda Aparecida

As dificuldades e as superações de um autista não verbal

Embora Frank seja um autista não verbal, isso não o impede que ele se comunique. O garoto aponta para as coisas que quer também puxa os adultos na direção do que ele deseja ou precisa.

Geralda sempre fez o que era possível dentro da realidade financeira da família para manter o tratamento de Frank ativo. “Nós não somos uma família rica e os tratamentos são muito caros. Além do que, aqui em Divinópolis, não existem muitas instituições de apoio onde a gente possa pedir ajuda. Então tivemos que escolher o que ele poderia fazer além do que já é oferecido pela escola. No momento, optamos pela terapia ocupacional”.

Como a maioria das famílias que têm alguém com TEA, a vida social pode ser bastante diferente do comum, já algumas atividades se tornam muito complicadas. Frank tem uma sensibilidade auditiva extrema, então passeios como cinema, festas ou mesmo ir à missa – uma atividade frequente da família – muitas vezes são estressantes para ele.

Na rua, ele se apavora com o som estridente de motos, caminhões e buzinas. Por isso quando se trata de atividades fora de casa, a família prefere que seja algo na casa de outra família que também tenha uma criança com necessidades especiais, por que, afinal, acabam sendo pessoas que compreendem melhor esse tipo de limitações.

Mesmo com todos os desafios, também existe espaço para celebrar! Geralda fica feliz em compartilhar as conquistas do filho. Ela também nos contou da vitória que a dupla teve no Desafio Autista, uma competição promovida pelo site Autistologos. O jogo dura duas semanas e consiste no cumprimento de desafios propostos como: coordenação motora, coordenação sensorial, atividades físicas, pequenos desafios em passeio, entre outros. “Garantimos o segundo lugar e muito aprendizado que eu levei para o dia a dia.”

Primeira comunhão

“Eu sempre tive o sonho que ele fizesse a primeira comunhão na igreja católica”, conta Geralda. Mas o que parecia um desejo simples de realizar, acabou precisando de um esforço maior dela para conseguir que a igreja em que congregam fizesse as adaptações necessárias.

No começo, as aulas de catequese de Frank foram muito complicadas. Ele ficava agitado, não conseguia se concentrar durante a hora da aula e sempre requisitava a presença da mãe. Somado isso, Frank tem estereotipias como bater palmas fora de hora e, quando fica muito nervoso, ele morde os próprios dedos, o que comprometia sua participação nas missas. Então, na época em que aconteceriam as missas de primeira comunhão, Frank não foi convidado a participar.

“Eu sabia que não adiantava forçar, isso só ia deixar ele mais nervoso. Então fui falar com o padre para explicar a situação”. O Padre, na época, sugeriu que Geralda reunisse pelo menos mais cinco mães de crianças especiais que tivessem a mesma vontade para que ele pudesse preparar uma missa adaptada.

Geralda conversou com várias amigas e, enfim, o padre cumpriu a promessa e fez uma missa toda adaptada: mais rápida, com o som em volume mais baixo e restrita a um número bem menor de convidados que uma primeira comunhão comum. A ideia deu tão certo que a igreja repetiu o modelo no ano seguinte, voltado para autistas, crianças com síndrome de down, microcefalia e outras dificuldades. Uma linda conquista para as famílias que muitas vezes se veem privadas de celebrações como essas.

Maternidade e autismo

Fonte: Arquivo pessoal cedido por Geralda Aparecida

Autista não verbal, mas com personalidade

“A primeira coisa que as pessoas me perguntam quando descobrem que ele é autista”, conta Geralda, “é se ele é agressivo”. Ao contrário do que se imagina, Frank, na verdade, é muito amoroso, e gosta muito de abraçar e beijar as pessoas. “Ele demonstra afeto verdadeiro às pessoas”.

Quando perguntada sobre do que Frank mais gosta, Geralda tem a resposta na ponta da língua. “Ele gosta muito de carro. É o hiperfoco dele”. Hiperfoco é uma das características comuns no TEA, e pode estar relacionada aos interesses restritos do autista, resumidamente, é quando ele apresenta um apego por determinado tema de forma mais intensa do que o convencional. ²

Para Frank, a tecnologia ajuda na hora de se relacionar com o assunto dos carros. “Ele está sempre no Youtube vendo vídeos, brincando com jogos de celular e com carrinhos articulados. Ele adora”, relata Geralda.

O hiperfoco não exclui, claro, a possibilidade de o autista gostar de outras coisas. Geralda conta que Frank ama cachorros – algo super recomendado por especialistas para o desenvolvimento de pessoas autistas – e adora brincadeiras de esconde-esconde. ³

Uma mãe, um filho e muitas conquistas

Geralda relata que Frank está ótimo e que faz um bom tempo que ele não tem uma crise de desregulação dessas mais difíceis de lidar. Mesmo durante a obrigatoriedade do isolamento social, decorrente da disseminação do novo Coronavírus, ele vem se mantendo calmo. “Em comparação, alguns anos atrás, ele ficava muito irritado, batendo no portão, quando não podia ir à escola”, conta.

Diante da ideia de tantos sorrisos vistos nas redes sociais, algumas pessoas poderiam pensar que talvez não seja bem assim a realidade. Mas Geralda garante que é um espelho fiel do seu dia a dia. “Claro, não vou mentir, existem momentos difíceis que eu escolho não postar. Mas a felicidade dele é a realidade na maior parte do tempo”.

Autismo não verbal

Fonte: Arquivo pessoal cedido por Geralda Aparecida

Linda a trajetória da Geralda e do Frank, não é? Nós também queremos contar a sua história! Se o autismo também teve um impacto na sua vida, entre em contato conosco.

Referências bibliográficas e a data de acesso:

1. Tismoo – 12/04/2020

2. Terra – 12/04/2020

3. Super Spectro – 12/04/2020

“O Autismo em Dia não se responsabiliza pelo conteúdo, opiniões e comentários dos frequentadores do portal. O Autismo em Dia repudia qualquer forma de manifestação com conteúdo discriminatório ou preconceituoso.”

6 respostas para “Autista não verbal: conheça a linda história do Frank e da Geralda!”

  1. Natalie Affonso disse:

    Sou fã desses dois???? amo de paixão e admiro como seguidora e amiga que me tornei virtual deles.
    Geralda é uma mãe incrível e tem Desenvolvido muito Frank.
    Ele é um menino feliz e amado

    • Autismo em Dia disse:

      Eles são maravilhosos né? Ficamos honrados quando aceitaram nosso convite! Frank é realmente apaixonante ?

  2. Roseli disse:

    Tbm sou mãe de autista, amei a historia dessa mãe batalhadora…meu filho sempre me agradece por nunca desistir dele…E eu q agradeço por ele ser meu filho…

    • Autismo em Dia disse:

      Oi Roseli que comentário mais lindo de ler! Nós agradecemos sua visita e esperamos vê-la outras vezes por aqui ?

  3. Jbdias disse:

    Obrigado por compartilhar

  4. Maria Clara barroso Bueno disse:

    Que bom que as famílias compartilham com nós professores suas experiências ????

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


error: Este conteúdo é de autoria e propriedade do Autismo em Dia