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Postado por Autismo em Dia em 26/jan/2022 - 11 Comentários
O fluminense Vinícius, de 8 anos, é um autista não-verbal e, por si só, sua história já seria a cara do nosso blog. No entanto, em uma conversa super descontraída com a funcionária pública Débora Barcellos, descobrimos uma história surpreendente. Se você já conhece o que é um autista não-verbal, deve saber que não tem nada a ver com a criança ser muda. Porém, nesses casos o autista costuma apresentar formas alternativas de comunicação.
Para Vinícius, muito de sua forma de lidar com a vida vem de um brinquedo. A Lili, como foi batizada pelo garoto, é muito mais do que uma boneca. É, de fato, uma ferramenta de aprendizado, compreensão, comunicação e – segundo Débora – uma espécie de ensaio para o futuro do filho.
A seguir, nós vamos te contar como essa história tão diferente aconteceu e porque ela é relevante no contexto do autismo.
Índice
A família vive em Petrópolis, interior do estado do Rio de Janeiro, onde Débora trabalha para uma creche da prefeitura. Além dos mais de 20 anos de experiência na educação infantil, Débora também já tinha experiência como mãe, sendo Arthur, de 13 anos, o seu primeiro filho. E foi por isso que, quando Vinícius começou a apresentar alguns atrasos e comportamentos diferentes, Débora já sentia que existia um motivo maior para tudo isso.
“O Vinícius sempre chorou muito desde que nasceu, chorava dia e noite. Ele era muito bruto, não gostava de ser acalentado e nem de ficar muito com a gente. Além disso, teve um atraso no desenvolvimento motor e só andou com 1 ano e 8 meses. E eu sempre questionei muito isso com a pediatra”, conta Débora. “Mas me diziam que eu não poderia ficar comparando o comportamento dele com o de outras crianças porque, afinal, nenhuma criança é igual a outra”.
Por conta do atraso motor é que, então, a pediatra recomendou a análise por um neurologista. Daí em diante o caminho até o diagnóstico de autismo foi bem rápido. Antes dos 3 anos de idade, Vinícius já era estimulado através de terapias como equoterapia, musicalização e psicomotricidade. Débora poderia até citar outras, mas ela atribui a essas alguns dos maiores avanços no comportamento e na qualidade de vida do filho.
“Ele ainda tem dificuldades na coordenação motora fina, mas já consegue, por exemplo subir escada intercalando os pés, algo que ele não fazia uns anos atrás”, explica.
LEIA TAMBÉM: Andar na ponta dos pés é sinal de autismo?
“Eu não tive problema na aceitação”, conta Débora. “Até porque eu sempre soube que ele era diferente. Mas ter o diagnóstico te abre muitas portas para correr atrás do atendimento. Eu vejo muitas mães que, por não terem ainda o diagnóstico fechado, acabam sendo privadas de atendimentos. Isso é muito negativo e atrasa o desenvolvimento das crianças”.
Débora também contou como sua vida mudou depois do nascimento de Vinícius. “Minha vida virou de cabeça para baixo. Antes a vida era trabalho, escola e casa. Agora é isso mais as terapias o tempo todo”, diz. Ela conta, ainda, que em sua rotina ela prefere não sobrecarregar as pessoas em volta, como os avós maternos e paternos – ainda que Débora conte que sua família é, de fato, uma boa rede de apoio.
Definido pela mãe como um garoto de ótima socialização, Vinícius é um autista não-verbal. E isso, portanto, é a característica mais marcante do comportamento do garoto. Mas Débora explica que Vinícius não fala, mas tem uma expressão corporal muito boa.
“Todos os terapeutas dele falam que as pessoas não entendem o Vinícius por falta de boa vontade, porque ele se faz entender. Ele vai tentar se comunicar com você e se ele não conseguir vai, por exemplo, pegar um celular e vai mostrar o que ele quer. Eu, como mãe, compreendo tudo que o Vinicius quer, ou pelo menos 90%. E quando eu não compreendo, isso gera uma frustração muito grande nele. Mas a gente também tem que olhar para fora porque eu não vou estar com ele para sempre. Então eu coloquei ele numa aula de libras, também, para poder ajudar nessa linguagem”.
No entanto, Débora conta que a pandemia interrompeu o desenvolvimento do menino no ensino de libras, que é a linguagem universal de surdos e mudos.
Lili é muito mais do que uma boneca, é uma personagem central na vivência de Vinícius. A história é a seguinte:
Ainda muito pequeno, Vinícius frequentava a mesma creche em que sua mãe trabalha. E, naquela época, Vinícius não era tão afetivo, tinha dificuldade de abraçar, beijar e mostrar outros tipos de afeto. Na creche, Vinícius encontrou uma boneca. E a Débora percebeu que ele dava afeto para boneca. Dali em diante, Débora começou a utilizar a boneca como forma de se comunicar com o filho.
“Eu usava a boneca se eu queria que ele tomasse banho, que ele comesse… se eu quisesse saber se ele estava com calor ou com frio. Eu conversava com a boneca e ele pegava a boneca para me responder. E, assim, ele criou um vínculo muito forte com a boneca”.
A tal boneca virou a Lili, uma companheira inseparável de Vinícius.
A função educativa da Lili vai além de um objeto de apego, como muitos autistas têm. Ela é um reflexo de tudo que acontece com Vinícius e, assim, também espelhou transições que foram acontecendo enquanto o garoto crescia. Um episódio, em especial, deixou isso muito claro.
Certa vez Débora e o pai do menino decidiram que era hora de trocar a boneca, principalmente por conta da higiene e da própria estrutura da boneca, que já não era lá das melhores. Eles fizeram uma busca na internet e conseguiram, enfim, encontrar uma nova boneca exatamente igual. Porém, como as compras on-line às vezes guardam algumas armadilhas, a Lili substituta veio maior e com a roupa de cor diferente.
Os pais, decepcionados, logo pensaram que o menino não ia se adaptar. Quando enviaram o menino para a escola num momento pós-férias com a nova boneca, já velha conhecida dos alunos e dos professores, pediram à professora do menino que ajudasse, junto com os demais alunos, a definir um novo nome para a boneca.
No entanto, a reação da turminha de Vinícius foi surpreendente. Elas olharam para a nova Lili e interpretaram como se a boneca tivesse, simplesmente, crescido, num alvoroço coletivo. E o mais emocionante foi que os alunos se juntaram para fazer uma festa de aniversário para a “filha” de Vinícius.
“Aquilo para ele foi fantástico. Foi um marco muito importante na vida dele. Além de ter sido a transição da Lili neném, também foi a transição do Vinícius crescendo junto com a boneca.
“O Vinícius leva a boneca aonde quer que ele vá. E a gente tem essa referência de que a boneca é a filha dele. Ele cuida, ele dá comida e tudo. As pessoas não entendem o fato de ele ser um garoto e ter essa relação com a boneca. Mas quando ele crescer ele vai se tornar um pai de família. Todo garoto, lá na frente, pode se tornar um pai de família. Isso é muito importante para construir, futuramente, um homem parceiro e participativo nas famílias.
Há pouco tempo nós fomos no mercadinho e ele levou a boneca. Um outro garoto passou e cochichou com a avó. A senhora explicou para o neto que provavelmente a boneca era da irmã dele. Mas eu expliquei que, na verdade, a boneca era dele e ele nem mesmo tem uma irmã“, conta Débora.
Atualmente matriculado numa escola particular de ensino regular, Vinícius sempre viveu uma relação de impacto com a escola. Se, por um lado, Débora elogia a escola pela oportunidade que o filho tem de usufruir de adaptações na grade, assim como de uma professora auxiliar… por outro, ela reconhece ensinamentos que as crianças neurotípicas também têm dado ao filho. Principalmente na questão do comportamento agressivo.
Vinícius sempre foi muito inteligente, mas bastante agressivo. E, quando entrou para a escola, consequentemente as crianças se assustaram e não gostaram desse comportamento dele.
Débora conta que, um dia, ele caiu e se machucou na aula de educação física. Uma das colegas de turma aproveitou o momento para dar uma lição de respeito. “Ela disse: tá vendo, Vinícius. Você gostou de sentir dor? Ele respondeu que não. Nisso, a menina disse que era exatamente assim que ela e outras garotas se sentiam toda vez que ele batia nelas”.
Esse foi, também, um dos aprendizados marcantes. Mesmo que Vinícius ainda tenha rompantes de fúria, sua relação com a turma da escola vem melhorando bastante. Em contrapartida, todas as crianças aprendem a olhá-lo de uma maneira empática.
Surpreendente a história do Vinícius, não é? E temos a certeza de que a Lili e as crianças ainda vão viver muitas histórias junto dele. Mesmo sem falar, um autista não-verbal pode impactar o mundo!
E por falar em histórias, também queremos conhecer a sua. Se você tem alguma relação com um autista ou é o próprio, vem conversar com a gente. É só mandar uma mensagem nas nossas redes sociais Facebook ou Instagram e você pode ser um dos nossos próximos proTEAgonistas. Ah, se você quiser ainda mais conteúdo, não perca as nossas lives disponíveis no YouTube.
Obrigado pela leitura e até a próxima! ?
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Uma história linda e real de amor, aceitação e superação de desafios. Parabéns para essa família maravilhosa! Parabéns para o Vinícius!!!
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Poxa que história linda. Eu conheço a mãe do Vinícius pela rede social Facebook e de vez em quando mando mensagens para ela querendo saber do Vinícius pois acho ele um garoto Fantástico. Gostei muito de saber a história dele. Pois eu fico sem graça de perguntar para mãe Pois somos amigos apenas de Facebook. Vinícius é um garoto esperto Espero que Deus dê muita saúde para ele é um garoto de ouro.
???
Que lindo né .
Os autistas sempre nos ensinando .
Aqui nos temos a Larissa de 5 anos e sua baleia ?.
Apoio emocional .
? ?
Oh gente que lindo!
Minha filha TB é não verbal… Ela está com 2 anos e 3 meses…
???
História linda do Vinicius. A minha filha tem 1 ano e 8 meses e foi diagnosticada com TEA. Ela não fala…. quando quer se comunicar comigo pega em minha mão e me leva até onde ela quer ir ou para mostrar que quer algo, quando quer banho ou tirar a roupa levanta a blusa e começa a alisar a barriguinha.A única terapia que estamos conseguindo fazer é a fono pois aqui onde morarmos não tem o tratamento dela. Estou na correria até para conseguir a pessoa que irá auxilia – lá na creche, entrei com um processo para conseguir o auxiliar e o tratamento tbm. Além disso ela não gosta de dormir prefere brincar o tempo todo. Quando consigo fazer ela dormir é mais ou menos uns 10, 15 minutos. Ainda não iniciamos com as outras terapias fiz um plano de saúde para ela mas não podemos usar devido a carência.
Olá, Ana Paula. Obrigada por comentar aqui. Que bom que você já leva sua filha na fono, isso já é um começo importante para auxiliar no desenvolvimento de sua filha. Estamos na torcida para que logo você consiga outras terapias importantes também. Continue acompanhando a gente e um abraço corajoso!
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Achei linda a história do Vinícius, a boneca que ele tem como filha, essa relação é muito real pra ele, eu tenho um filho autista também, o Matheus ele tem um ursinho e fala que é filho dele, quando ele está triste ele conversa com o ursinho, fala como está se sentindo e diz para o ursinho quando eu perco a paciência com ele, ele fala : sabe filho eu nunca vou maltratar vc porque o papai do céu não gosta que fiquem batendo nas pessoas, o papai sempre vai cuidar de vc com carinho, eu sei que é o que ele gostaria de falar pra mim, eu sento com ele e falo que ele precisa ser obediente para não acontecer nada disso, porque não gosto de dar uns tapas nele , mas ele me desobedece , ai ele continua conversando com o ursinho, vc viu filho papai do céu não gosta que machuquem a gente, ele é bem inteligente,