Professor autista conta como descobriu estar no espectro


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Postado por Autismo em Dia em 20/jan/2023 - 10 Comentários

Nosso proTEAgonista de hoje é Márcio de Castro, conhecido como professor Dicastro. Ele é autista, TDAH e tem superdotação. Descobriu os diagnósticos na vida adulta, tendo uma trajetória muito interessante pra contar. 

Dicastro é hiperfocado em estudar, por isso tem um currículo acadêmico vasto: é formado em Licenciatura Plena em pedagogia pela Universidade Federal Rural de Pernambuco; em Libras e Braille pelo Centro de Reabilitação; em Educação Especial pelo Lions Clube de Pernambuco; e em Manutenção e Suporte em Informática pelo Instituto Federal de Pernambuco. Aplicador ABA, está fazendo uma pós-graduação em Análise do Comportamento Aplicada pela CBI of Miami. 

Ele é funcionário público, autor de diversos livros e mora atualmente em São Paulo, mas veio do Nordeste. Em uma licença da carreira de docente, atualmente está trabalhando com o mercado financeiro, operando na bolsa. Ele tomou essa decisão por ser um de seus hiperfocos, além de poder trabalhar sem precisar ter tantas interações no dia a dia.

O professor Dicastro já participou de um conteúdo muito interessante aqui no Autismo em Dia. Sendo especializado na educação de crianças com deficiência, ele disponibilizou algumas atividades que podem ser feitas com crianças autistas em casa. São atividades lúdicas, educativas e divertidas que podem ser guiadas pelos próprios cuidadores, e você pode baixar esse material gratuitamente clicando aqui.

Mas para além dessa colaboração, preparamos também um texto para falar mais sobre outros aspectos da vida dele, especialmente ligados ao TEA. Vamos saber mais sobre a história do professor Dicastro? Continue a leitura e saiba tudo.

Índice

Como foi a infância de Dicastro

Dicastro foi uma criança com poucos amigos. Gostava muito de estudar e lia uma média de um a dois livros completos diariamente. Gostava muito de música e, na escola, não tinha proximidade com muitas pessoas. 

Por ter sido uma criança sem atrasos no desenvolvimento, acabou demorando para qualquer sinal de autismo ser notado, achavam que era apenas dono de uma personalidade mais introvertida.

“Na escola, eu era muito sozinho. Era uma pessoa ou outra que eu me apegava. Não costumava ir para os intervalos, não gostava de participar de apresentações, me sentia muito incomodado. Mas demorou para isso chamar a atenção de fato.”

Foto: Arquivo pessoal – cedido por Márcio de Castro.

Adolescência, vida adulta e relacionamentos

Dicastro conta um pouco da sua vida após a infância, quando começou a ter relacionamentos amorosos e suas dificuldades de comunicação se tornaram mais evidentes.

Sempre tive muita dificuldade com a comunicação não verbal. Isso me acompanhou até a vida adulta. Por exemplo, quase todas as mulheres com quem me relacionei, foi graças à atitude delas, porque eu não consigo notar o interesse demonstrado, tenho muita dificuldade nisso. Eu acho até engraçado, porque eu não vou chegar, vou sempre esperar. E as vezes que tentei chegar, deu errado, porque eu estava entendendo tudo errado. 

Na adolescência eu tive duas ou três namoradas só, mas de meninas que se interessaram e eu fiquei, foram mais. Também na adolescência, eu enfrentei algumas dificuldades na escola, especialmente dificuldade de interação.

Eu tenho uma filha de 15 anos, TDAH, tenho quase certeza que também autista, mas ainda vamos atrás do diagnóstico. Engravidei a minha ex-esposa quando eu tinha 20 anos. Nessa época, coloquei na cabeça que tinha que sustentar a minha filha de qualquer jeito. Passei por muitos empregos que não gostava que, principalmente por causa do TDAH, não conseguia me manter interessado, então logo saia. Quando encontrava um trabalho que conseguia hiperfocar, eu ficava nele. 

A vida foi passando, fomos cuidando da nossa filha, mas eu tinha um problema de comunicação muito grande com a minha ex esposa. Eu falava uma coisa, ela entendia outra. Ela falava uma coisa, eu entendia outra. Esse foi um dos maiores motivos para o fim do relacionamento, eu não conseguia entender a forma como ela pensava e nem ela a minha forma de pensar.”

 

O diagnóstico tardio

Dicastro estava trabalhando na área da educação com crianças com deficiência quando percebeu que poderia ser autista. 

Eu faço terapias desde os 13 anos de idade, porque os médicos identificaram que havia algo de diferente comigo, mas não conseguiam saber o que era. Passei a vida toda sem um diagnóstico, até começar a trabalhar na área da educação. Nos meus estágios, em todos eles, eu trabalhava com crianças com deficiência, e em alguns deles tive o privilégio de trabalhar com crianças autistas. Então eu comecei a notar que os comportamentos delas eram semelhantes aos meus quando estava na mesma fase escolar. Comecei a pesquisar mais sobre o assunto, porque não acreditei ser só coincidência. Quanto mais eu estudava, mais eu percebia que eu me encaixava nas características.

Procurei alguns profissionais da área, psiquiatra mesmo, mas a princípio nenhum deles conseguia me diagnosticar. Eles diziam que notavam algo diferente, mas não conseguiam fechar o diagnóstico. Então eu coloquei na cabeça que eu só iria aceitar um diagnóstico vindo de um médico que fosse autista. Conheci a Clínica TerapeuTEAr, aqui em Guarulhos. Lá trabalham profissionais autistas, TDAH, etc. Me senti mais seguro procurando eles, e começamos a fazer vários testes, várias sessões. Foram em torno de dez atendimentos, e eu tive o diagnóstico de autismo, TDAH e altas habilidades.

Começando a carreira de autor

Como citamos lá no início do texto, Dicastro é autor de diversos livros especialmente voltados para a educação de alunos autistas e com outras deficiências. Você pode conferir e adquirir as obras clicando aqui.

Mas vamos saber como o professor autista chegou à decisão de começar a criar esse tipo de material?

“Comecei a escrever materiais voltados a educação para autista por volta de junho de 2019. Além do motivo principal, que era a carência desse tipo de material, também foi quando conheci o marketing digital. Precisava de alguém para fazer os artigos pra mim mas tive muita dificuldade de encontrar. Então resolvi fazer eu mesmo.

Percebi que tinha muita facilidade para escrever, o meu primeiro material, “101 atividades para brincar e ensinar pessoas com autismo” foi elaborado em 6 horas. Geralmente é assim, eu começo e vou direto, não tenho dificuldade.

Comecei a vender bem, vi que era uma oportunidade de renda extra e comecei a produzir mais. Escrevi um depois do outro, hoje tenho de 20 a 30 livros disponíveis. Todos estão na plataforma Hotmart, e lá tem alguns cursos também.”

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Foto: Arquivo pessoal – cedido por Márcio de Castro.

Porque procurar diagnóstico na vida adulta

Dicastro demorou muito tempo para descobrir que era autista, mas ir atrás do diagnóstico certamente valeu a pena:

“Às vezes a pessoa nem desconfia de nada, mas tem certa dificuldade de interação e relacionamento com as pessoas. Você pode achar que não é nada, que é uma característica da sua personalidade, mas se você percebe que isso interfere na sua vida, que atrapalha no dia a dia, nas relações, é sempre bom procurar fazer uma avaliação, de preferência com profissionais que tenham experiência com autistas de nível 1. 

O diagnóstico na vida adulta é importante, mas nem sempre é fácil. Pra mim foi um baque, mesmo que já existisse a suspeita. Fiquei uma semana mal, desregulado, triste, porque eu não achava que eu era mesmo, pensava que não se confirmaria a suspeita. Depois de uma semana pensando também fiquei chateado refletindo sobre quantas dificuldades que eu passei na vida e que poderiam ter sido evitadas desde cedo. Mas também me aliviou saber tudo que poderia ser evitado dali pra frente, tudo que eu podia aprender sobre mim mesmo.”

Se libertando da culpa

“Se a pessoa tem essa suspeita, a melhor coisa a se fazer é procurar saber mesmo. Porque depois que você descobre que a maior parte dos seus problemas de relacionamento, de trabalho, falta de foco e essas coisas se deram não porque você é uma pessoa ruim, mas sim por uma coisa que você não tem controle, é muito libertador. É algo que acontece por causa da forma que o nosso cérebro é. Nós não temos controle nenhum, nascemos assim. Não temos como mudar isso.

Claro, temos como tentar melhorar as coisas com tratamento, melhorar o dia a dia, mas o que eu quero dizer é que não é nossa culpa. A pessoa com TDAH vai ser desatenta, vai ser impulsiva, vai ter dificuldades pra se organizar… Mas você pode continuar vivendo assim e se culpando ou procurar saber se de fato existe algo por trás desses comportamentos e a partir daí procurar um tratamento que melhore essas coisas. A mesma coisa serve para o autismo e as dificuldades de interação, comunicação, etc.

Se eu pudesse sair procurando pessoas com sinais de autismo e TDAH por aí pra ajudar elas a serem diagnosticadas eu faria, porque o diagnóstico mudou a minha vida.

Foto: Arquivo pessoal – cedido por Márcio de Castro.

Obrigado pela leitura!

Hoje nós tivemos a oportunidade de conhecer um pouco sobre a história do professor Dicastro e sua experiência com o autismo. Não deixe de acompanhá-lo nas redes sociais para apoiar o seu trabalho clicando aqui.

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Até a próxima! 💙

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10 respostas para “Professor autista conta como descobriu estar no espectro”

  1. Gilberta disse:

    suspeito que meu esposo é autista. Ele tem muitas características. Agora está enfrentando uma crise forte por causa de mudanças. Nossa filha mais velha foi fazer residência em fisioterapia noutra cidade e ele não está bem. Saiu de um extremo de não demonstrar emoção para crises constantes de choro. Não sei o que fazer

    • Autismo em Dia disse:

      Olá, Gilberta. Indicamos que converse com ele sobre a possibilidade de buscar atendimento com um(a) psicólogo(a) para que ele consiga lidar melhor com essas mudanças. Torcemos para que de tudo certo e ele melhore em breve. Um abraço. 💙

  2. Professora B. disse:

    Sou professora autista e já tenho 24 anos de serviço estadual, mas só tenho 44 anos de idade. Você sabe se existe alguma lei específica para a aposentadoria de professores autista, lembrando q vivo em tratamento por depressão e ansiedade, crises de enxaqueca e stress constante.

    • Taline Masi disse:

      Olá! Como o autismo é considerado uma deficiência, você pode buscar informações sobre a aposentadoria de pessoas com deficiência para saber se já cumpre os requisitos para tal.

  3. Gisele disse:

    Sou professora e estou suspeitando que sou autista. E se confirmar o diagnóstico? Segundo a lei, posso continuar lecionando?

    • Autismo em Dia disse:

      Olá, Gisele. Ser autista não impede ninguém de continuar exercendo sua profissão, fique tranquila!

  4. Emerson Pansarin disse:

    como minha história, o que muda é que sou professor universitário e o processo é doloroso
    mas temos que seguir em frente.

  5. Solange Giuliani disse:

    sou professora e bipolar, atualmente, fiz teste para autismo, deu positivo. Pedi laudo ou atestado p a psicóloga, vou encaminhar para os respectivos órgãos. Sempre me achei esquisita, super focada, poderia ter pessoas conversando ao redor q não faria diferença. A direção é q levantou a suspeita, primeiramente, fiz teste online e depois com a psicóloga. Ambos se confirmaram. E agora… o q se faz?vivesse igual? usar crachá de girassol na rua?

    • Autismo em Dia disse:

      Olá, Solange. Primeiro, quero te dizer que você não está sozinha nessa jornada. Receber o diagnóstico pode trazer muitas reflexões, mas também é uma oportunidade de se conhecer melhor. Cada pessoa vive o autismo de uma forma única, então o importante é se cuidar, buscar apoio e seguir o que faz sentido para você. O crachá de girassol pode ser útil em algumas situações, mas é uma escolha pessoal. Vá no seu tempo, tudo bem? 💙

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